A charmosa e curta aventura de um batráquio detective

Frog Detective 2 é um bom exemplo de como há videojogos que se afirmam pelo poder artesanal. Bem-disposto e com uma mensagem positiva, é um convite a uma hora descomplicadamente apaixonante.

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Há algumas obras que removem barreiras entre autor e jogador, afirmando-se pelo seu cariz autoral, artesanal. Frog Detective vingou precisamente por não ter filtros na mensagem e no tecido que era jogável. Um ano depois, Frog Detective 2: The Case of the Invisible Wizard é uma sequela segura que convida os fãs a passar uma tarde bem-disposta.

Como o título deixa antever, jogamos na pele de um sapo detective que agora tem um novo mistério para resolver num novo local, Warlock Woods. Aquando da chegada de uma nova residente, os locais resolveram celebrar a nova moradora com um cortejo para lhe dar as boas-vindas. Tudo correu mal e, misteriosamente, os festejos foram destruídos, sendo nossa responsabilidade descobrir o culpado.

Para tal, munidos de uma lupa e de um bloco de notas, temos que interrogar os poucos habitantes do local. Cada um precisa de algo, ou seja, é um efeito bola de neve: satisfazer a vontade de alguém é sinónimo de obter um item que será útil para completar a vontade de outro habitante. É um processo idêntico ao que já tínhamos jogado na obra de estreia, mas não deixa de ser eficaz, sendo um ciclo motivador e imediatamente recompensador.

Por exemplo, temos que encontrar cinco tartes espalhadas por Warlock Woods. Quando a tarefa é realizada, Mandy, como recompensa dá-nos uma tarte, que pode ser entregue a outra personagem que tinha fome. Saciada a fome de Victor, é-nos entregue um chapéu. Como adivinharam, há outra personagem, Carlos, que precisa de um chapéu. É muito fácil compreender como The Case of the Invisible Wizard funciona e não há margem para enganos, pois o local onde toda a obra decorre é pequeno, com as diferentes personagens separadas por apenas alguns metros.

Estas informações, tal como o “motivo” que poderá ter levado cada um dos habitantes a destruir o cortejo e algumas notas, são encontradas bloco, uma das novidades nesta sequela. Logo no início da aventura, aliás, somos convidados a decorar o item com autocolantes à nossa escolha. É um detalhe, sim, mas algo que espelha a vontade de Grace Bruxner e Thomas Bowker, criadores do jogo, em incluir a personalidade de cada um na imensa criatividade do jogo.

Intrinsecamente a este mecanismo está o carisma e o sentido de humor da escrita e da estilização gráfica. É um humor seco e simples, directo ao assunto. Tiradas como “ser pequeno não é o mesmo que estar longe”, quando uma das personagens está estupefacta com o tamanho do sapo, ou “sou mesmo bom a ser extorquido”, quando uma das personagens exige dinheiro ao detective, são bons exemplos.

Isto ecoa quando já perto do final do jogo, depois de falarmos com alguém que está a conduzir, uma das notas sobre a personagem apontadas no bloco é “condutor responsável (tinha-me em alta-voz)”. Não é um positivismo bacoco, mas sim o transparecer de quem está bem com a vida, pelo menos aparentemente. O sapo, por exemplo, está constantemente a ver o teu talento de detective desacreditado face a Lobster Cop – sim, um polícia que é também uma lagosta – mas encara isso de uma forma motivadora.

Frog Detective 2: The Case of the Invisible Wizard sabe exactamente que botões carregar para se apresentar dentro de uma esfera pura e provocadora de sorrisos.

Quando os créditos finais aparecem no ecrã já ficaram várias memórias. Ajuda imenso que esta inundação de emoções reconfortantes seja auxiliada por uma banda sonora de melodias relaxantes e por um grafismo cuidado, mas desprovido de investidas complexas. O tipo de letra usado, por exemplo, faz o máximo para transparecer uma caligrafia desleixada. E a atmosfera de Warlock Woods é apelativa, mas os traços das personagens e dos diferentes locais onde as conversas decorrem têm uma aura quase amadora.

É uma modelagem de feições exageradas que deixa as cores e novamente o humor assumirem as rédeas. Grace e Thomas sabem o que resultou no título de estreia, dando-lhe novamente o palco principal: e isto inclui pequenas referências para os jogadores que jogaram a obra anterior, mas também o uso de fotografias como pequenos brindes. Jogar The Case of the Invisible Wizard é olhar para uma montra onde não há pressão de editoras e são os criadores a fazerem o que a sua criatividade dita.

Fazendo lembrar os encantos relaxados de A Short Hike e até de Untitled Goose Game – a House House é uma das produtoras a quem são prestados agradecimentos no final – estamos perante um jogo que não quer nem precisa dos holofotes mais brilhantes. Resolver o novo caso é descomplicar e desfrutar apenas do tempo que temos com a obra, relembrando as personagens com que vamos interagindo.

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