Consórcio europeu desenvolve colmeias inteligentes de baixo custo

Tecnologia deverá estar no mercado dentro de dois a três anos.

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Favos de mel enric vives-rubio/Arquivo

Uma equipa de investigadores da Universidade de Coimbra inicia em Janeiro testes com colmeias inteligentes de baixo custo, instaladas na região do Douro, no âmbito de um projecto europeu para melhorar a gestão dos apiários.

O objectivo é dotar os apicultores de “ferramentas de monitorização remota em tempo real, quer em termos da avaliação da saúde das colónias quer do potencial apícola de áreas ao nível de recursos para as abelhas, para uma melhor gestão dos seus apiários”, sublinha um comunicado de imprensa da Universidade de Coimbra desta terça-feira.

O projecto reúne perto de 70 cientistas de 17 instituições de 13 países europeus, bem como apicultores e especialistas em tecnologias informáticas, e dispõe de um financiamento global de mais de sete milhões de euros da União Europeia, através do programa Horizonte 2020. Chama-se B-GOOD (Giving Beekeeping Guidance by Computational Assisted Decision Making, ou Desenvolvimento de Sistemas de Decisão para uma Apicultura Sustentável – Novas Ferramentas Assistidas por Computação). Toda a tecnologia destas colmeias inteligentes deverá estar no mercado dentro de dois a três anos.

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Equipa do consórcio europeu que desenvolve as colmeias inteligentes DR

As colmeias inteligentes, que vão ser testadas simultaneamente em mais sete países envolvidos na investigação, têm “sensores que recolhem e monitorizam continuamente vários parâmetros”, como a humidade, a temperatura, a vibração das abelhas e o peso da colmeia, exemplifica-se no comunicado.

O sistema permite conhecer o estado da colónia, de acordo com o denominado “índice do estado de saúde das abelhas” (Health Status Index – HSI)”, desenvolvido pela Autoridade Europeia de Segurança Alimentar. Com esses dados, aliados a outras ferramentas, será possível “testar, padronizar e validar os métodos para medir e reportar os indicadores seleccionados que afectam a saúde das abelhas”, afirma José Paulo Sousa, vice-coordenador do projecto e docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.

Uma simples aplicação informática permitirá aos apicultores obter “informação rápida e fidedigna em tempo real sobre o estado de cada uma das suas colónias, podendo detectar antecipadamente fenómenos de enxameamento e sintomas de diversas doenças, evitando constantes monitorizações dos apiários”, acrescenta José Paulo Sousa citado no comunicado.

Numa segunda fase, os cientistas vão também desenvolver um modelo fenológico dos recursos alimentares para as abelhas – ou seja, “mapear as flores que são importantes para as abelhas sob o ponto de vista nutricional, período de floração ao longo do ano e a quantidade de recursos que podem providenciar”.

Será um trabalho de elevada complexidade, porque, clarifica o investigador, envolve muita informação: “Trabalhar dados ao nível das paisagens agrícolas, florestais e de áreas naturais e as associações florísticas destes elementos da paisagem, e validar em campo o modelo fenológico identificando as flores ‘amigas’ das abelhas e avaliar o teor de açúcar, néctar ou pólen.”

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O investigador José Paulo Sousa DR

O objectivo final? “Não apenas mapear os recursos importantes para as abelhas à escala europeia, mas criar mapas dinâmicos de adequação do habitat em termos de quantidade e qualidade de recursos que cada zona geográfica pode providenciar por ano às abelhas, informação muito relevante não só para os apicultores, como também para entidades estatais que estabelecem os limites para o número de apiários que podem ser instalados em cada zona do território”, responde José Paulo Sousa.

Esta ferramenta de gestão assume particular relevância, sublinha ainda o investigador: “Devido às alterações climáticas, a disponibilidade de recursos florais constitui um grave problema, pois pode haver espécies que deixem de florir a determinada altura, o período de floração pode variar, podendo causar um desfasamento entre o período de floração e as necessidades nutricionais das abelhas e, consequentemente, originar uma alteração do estado de saúde das colónias, com uma diminuição da capacidade de reprodução e uma redução na resistência a diversas doenças”.

É essencial, sustenta José Paulo Sousa, “uma gestão adequada dos recursos ao nível da paisagem, adoptando medidas que incentivem a implementação de infra-estruturas verdes em áreas agrícolas com misturas florais ajustadas a cada região que permitam períodos de floração mais alargados”.

O B-GOOD “abre caminho para uma apicultura saudável e sustentável na UE, seguindo uma abordagem colaborativa e interdisciplinar”, afirma ainda o investigador. O que torna único este projecto é “a utilização de uma ampla rede espacial de recolha de dados em colónias de abelhas com estreita ligação a dados apícolas já existentes, assim como o desenvolvimento de tecnologias inovadoras e autónomas para a monitorização de colmeias”.

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