Educação para os Media

Vídeos que nos enganam? Telemóveis na sala de aula? Líderes digitais? O Ouvido Crítico está atento

Programa semanal “põe em sintonia” a Antena 1 e o MIL Obs, da Universidade do Minho. Todas as emissões estão disponíveis em podcast

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O uso da tecnologia na escola é um dos temas que já têm sido debatidos no Ouvido Crítico daniel rocha

Deepfake. Uma aplicação para facilitar a autonomia das crianças. Como gerir a relação com as tecnologias em contexto familiar. O uso da tecnologia na escola. Radar XS: o noticiário infantil na RTP. O fervilhar da literacia mediática. PÚBLICO na Escola. Concentração dos Media. 

A lista poderia continuar por mais linhas, os temas são às dezenas e cada um deles teve direito a uns minutos de atenção. Desde fevereiro de 2018 que nas tardes de quarta-feira, na Antena 1, um pouco antes das 15h30, o Ouvido Crítico dá a conhecer questões e projetos na área da literacia para os media. O programa resulta de uma parceria entre a rádio de serviço público e o MIL Obs - Observatório sobre Media, Informação e Literacia, da Universidade do Minho (UM). 

Para além dos três autores do programa — Joana Fillol, Manuel Pinto e Sara Pereira —, é dada voz a diversos convidados, com o objetivo de divulgar projetos a que estão ligados, mas também de incentivar quem os ouve. É o que explica ao PÚBLICO na Escola Sara Pereira, investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho: “Começámos a convidar essas pessoas, para que dessem a conhecer o que faziam e para que pudessem ser inspiradoras para outras, nos contextos em que trabalham.”

A nortear a criação do Ouvido Crítico esteve o propósito de contribuir para que também a rádio fosse mensageira, para a sociedade portuguesa, da educação para os media. Ainda que projetos e atividades em contextos escolares assumam destaque nas emissões, este “não é um programa apenas para as escolas; a ideia é que seja um programa mais lato, para todos os contextos e para todos os atores possíveis no âmbito da literacia para os media”, continua Sara Pereira. Daí, depois, a entrada de “outros agentes” que conduzem experiências direta ou indiretamente relacionadas com esta área, em registos diversos.

Começar pelo princípio

E o que é a literacia para os media e de que forma está a ser tratada? Debater o conceito em si e “fazer o retrato, a nível nacional e internacional, para termos um fio condutor”, foi desde o início a tarefa primordial dos três autores do Ouvido Crítico.

Os já quase dois anos de emissões, todas disponíveis em podcast, coincidiram com um período em que as questões ligadas à desinformação ganharam pertinência e concentraram cada vez mais atenção e apreensão. Essa tendência “foi notória”, constata a investigadora da UM. O assunto “estava reconhecido pelas entidades (foram constituídos grupos de trabalho, foram produzidos relatórios), mas o que vimos crescer foi essa atenção pública”. Em consequência, “a literacia para os media tornou-se mais relevante e mais necessária, no sentido de formar as pessoas para que possam ler melhor a informação no seu dia a dia”.

Indissociável do fenómeno, e dos debates por ele suscitados, está o universo das redes sociais: “Qual é o papel das redes sociais, o que é que queremos delas? O que andamos a fazer nas redes sociais, como é que nos informamos? São tudo questões que, estando já colocadas na literacia para os media, se salientaram e a que nós procuramos também dar alguma relevância”. Até porque, justifica Sara Pereira, outro objetivo do programa é dar atenção à atualidade” e a acontecimentos que em determinado momento colocam na agenda a literacia mediática.

Um exemplo recente, deste mês: no dia 2 de dezembro, evocando um estudo, antes noticiado, a mostrar que em apenas nove meses o número de deepfakes quase duplicara, o Ouvido Crítico escolheu como tema estes vídeos falsos, “onde vimos geralmente figuras públicas a dizerem o que não disseram ou a fazerem o que nunca fizeram”.

A palavra em antena a Joana Fillol, da Universidade do Minho: “Os media estão a tornar-se cada vez mais complexos, mais difíceis de descodificar — e isso exige cada vez mais de nós todos, enquanto recetores de mensagens mediáticas, exige literacia mediática (neste caso literacia digital). Não exige que saibamos fazer estes vídeos, mas é muito importante que tenhamos noção de que estas possibilidades existem, que percebamos as motivações que estão por detrás do uso desta tecnologia, para não sermos enganados.”

Quando o vídeo é bem feito, é muito difícil “detetar sinais” de conteúdos falsificados. “Às vezes, por exemplo, a parte do rosto dos visados tem contornos esbatidos ou movimentos que são artificiais, que são pouco naturais. Mas são aspetos fáceis de identificar depois de alguém nos chamar a atenção para isso, num primeiro olhar não nos apercebemos facilmente que estamos perante um deepfake. Diria que se pode usar a mesma estratégia usada para as notícias falsas, de que já temos vindo a falar aqui no Ouvido Crítico: é importante desconfiar quando estejamos perante vídeos sensacionalistas e pesquisar.” Às vezes, lembra Joana Fillol, basta uma pesquisa no Google para comprovar que “esses vídeos já foram detetados como deepfakes e que são falsos”.