Um sorteio pouco simpático: a análise aos adversários dos portugueses na Liga Europa

Nenhuma das equipas portuguesas pode gabar-se de grande fortuna no sorteio, mas todas elas têm eliminatórias teoricamente equilibradas. Os cabeças-de-série Benfica e FC Porto beneficiaram pouco desse estatuto, enquanto o Sp. Braga pode sorrir um pouco mais.

Foto
O sorteio da Liga Europa, em Nyon Reuters/DENIS BALIBOUSE

“Favas” do sorteio para FC Porto e Benfica, um rival “mascarado” para o Sporting e um adversário “assim-assim” para o Sp. Braga. Nenhuma das equipas portuguesas pode gabar-se de muita fortuna no sorteio, mas duas delas têm eliminatórias ao alcance. Em traços gerais, é essa a leitura do sorteio dos 16 avos-de-final da Liga Europa, realizado nesta segunda-feira.

Basaksehir — adversário do Sporting

Antes do sorteio, Silas, treinador do Sporting, justificou as “poupanças” no último jogo europeu por considerar que não havia grande diferença de poderio entre os dois potes do sorteio. Não obstante a opinião do técnico, o Sporting, como equipa do pote 2, estava à mercê de formações como Arsenal, Sevilha, Manchester United, Ajax ou Inter de Milão. Mas Silas teve “pontaria”. No meio de todos estes “tubarões”, havia um bastante mais “simpático” Istambul Basaksehir, da Turquia. Teoricamente, um sorteio bastante favorável. Esta é a análise global, olhando para os nomes das equipas.

Porém, uma observação mais detalhada mostra que este Basaksehir, apesar da parca história europeia, tem um plantel recheado de jogadores de bom nível e, sobretudo, com muita experiência. Os turcos contam com os defesas Skrtel e Clichy, o médio Inler, os criativos Kahveci (estrela da equipa), Visca e Arda Turan e os avançados Robinho, Crivelli (mais jovem e principal goleador) e Demba Ba. Estes nomes evidenciam a forma como o Basaksehir olha para o mercado, procurando vários jogadores de topo e experientes, mas na fase final das carreiras. Há, ainda, o português Miguel Vieira (pouco utilizado nesta equipa) e os ex-Liga portuguesa Ponck e Caiçara, ambos habituais titulares na defesa turca.

Como cartão-de-visita, para além dos nomes bem conhecidos, este Basaksehir traz a vitória no grupo J da Liga Europa, que contava com a Roma, de Paulo Fonseca, e o Borussia Monchengladbach, a fazer um grande campeonato alemão.

Olhando para os números, trata-se da terceira equipa que mais remata dentro da pequena área, um sinal de capacidade de penetrar na zona defensiva adversária. Isto ganha outro significado considerando que o Sporting é a equipa em prova que mais remates concede aos adversários. Neste Basaksehir o Sporting tem, também, uma equipa defensivamente permeável, já que os turcos surgem, na estatística de remates concedidos… logo atrás do Sporting, no segundo lugar.

Shakhtar Donetsk — adversário do Benfica

O Sporting tinha muitos “tubarões” no pote 1, mas conseguiu “escapar”. O Benfica não tinha assim tantos “tubarões”, mas não teve a mesma sorte. Aos “encarnados” calhou o Shakhtar Donetsk, equipa que chega da Liga dos Campeões e que é uma das principais candidatas a vencer a competição.

Para piorar a situação, há três aspectos a ressalvar: primeiro, que os ucranianos são orientados por Luís Castro, treinador português que conhecerá em detalhe os pontos fortes e fracos de um Benfica que defrontou várias vezes em competições nacionais. Depois, que esta equipa domina a Liga ucraniana – já leva 14 pontos de vantagem –, algo que permitirá ao Shakhtar apostar todas as fichas na Liga Europa, encaminhado que está o título interno. Por último, que o jogo na Ucrânia será disputado a 20 de Fevereiro, esperando-se muito frio em Kharkiv. O próprio clube ucraniano já aconselhou o Benfica. “Agasalhem-se”, brincaram nas redes sociais.

Na Champions, o Shakhtar acabou por falhar o apuramento para os “oitavos” por uma “unha negra”, permitindo a ultrapassagem da Atalanta na última jornada – um grupo decidido ao photo-finish.

Como dado estatístico mais interessante, este Shakhtar foi, entre as 32 equipas da Liga dos Campeões, a que revelou maior fragilidade no jogo aéreo. Algo que poderá ser um “suspiro de alívio” para o Benfica, já que os “encarnados” têm revelado muitos problemas nesse capítulo. O Shakhtar é, também, uma equipa com debilidades defensivas, quer a suster remates adversários quer a evitar golos, sendo, com bola, uma equipa que gosta de dominar e construir com paciência.

O perigo individual, nesta equipa, é fácil de identificar: Marlos cria e constrói como poucos, Taison desequilibra permanentemente, quer em movimentos interiores quer na procura da linha, para cruzamentos, e Júnior Moraes (irmão do ex-FC Porto Bruno Moraes) é o goleador-mor, levando já 17 golos na temporada.

Bayer Leverkusen — adversário do FC Porto

Tal como o Benfica, o FC Porto não pode gabar-se da sorte. À equipa portista calhou outro ex-Champions, o Bayer Leverkusen, uma equipa que, apesar de nem sempre encantadora, lutou pelo apuramento na prova milionária até à última jornada.

O Bayer foi a quinta equipa da Champions com maior percentagem de posse de bola – mesmo à frente de vários “tubarões” europeus –, algo que atesta, sobremaneira, a forma como gosta de dominar as partidas. É, ainda, uma equipa bastante permeável na transição ofensiva, expondo-se muito aos contra-ataques.

Estes dois dados, o primeiro até aparentemente “assustador”, podem dar algum alívio ao FC Porto, já que os “dragões” são conhecidos pelo quanto gostam de explorar transições e em jogar com bolas colocadas nas costas da defesa adversária. Um Marega em melhor forma poderá ser essencial frente a uma equipa permeável como o Bayer.

Os alemães são, também, uma equipa que muito preza a “arte” do cruzamento, sendo uma via clara de procura de chegar a situações de finalização – só três equipas cruzaram mais na Champions.

A nível individual, a equipa orientada por Peter Bosz tem, como grande figura, um “menino” de 20 anos. Chama-se Kai Havertz e é um dos jovens mais promissores do mundo. Um médio ofensivo alto, elegante e canhoto, que cria, faz circular, conduz em ruptura, surge em zonas de finalização e consegue romper com passes entre linhas. Em suma: tem tudo um que um médio ofensivo deve ter e é por ele - bem como por Bellarabi e Alario - que passará o melhor do jogo ofensivo alemão.

Rangers — adversário do Braga

O Sp. Braga, não podendo declarar-se abertamente como “vencedor do sorteio”, não tem muito por que se queixar. O Rangers é um adversário com valências importantes, mas que ficará a dever algo ao Wolverhampton, por exemplo, equipa que os minhotos já bateram nesta temporada. E sabe-se o quanto a equipa de Sá Pinto se transcende nos jogos europeus.

Apesar de os escoceses serem um bom sorteio – um adversário não “acessível”, mas pelo menos “simpático” –, a equipa portuguesa terá de ter em conta que este Rangers, treinado pelo mítico Steven Gerrard, já bateu o FC Porto na Escócia e empatou no Dragão.

A grande figura da equipa é Alfredo Morelos, avançado não muito alto, mas com força e potência tremendas. Um jogador muito difícil de controlar e que é o melhor marcador da Liga Europa, com seis golos. Na temporada já leva 25, em apenas 32 jogos.

Esta foi a parte má da história. A parte boa é que Alfredo Morelos poderá já não estar em Glasgow em Fevereiro para defrontar o Sp. Braga. O assédio ao avançado colombiano é suficiente para que se possa prever uma transferência no mercado de Janeiro, algo que muito agradaria a Sá Pinto, que defrontaria um Rangers com um potencial reduzido a pelo menos metade.

Sugerir correcção
Comentar