Caminhar junto à copa das arvores em Serralves

O Tree Top Walk é a nova sugestão para ser feita em família no Parque de Serralves. É uma pequena grande surpresa. Pequeno, porque só tem 350 metros. Grande, porque permite uma ampla panorâmica sobre a biodiversidade do parque.

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Tree Top Walk Nelson Garrido
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O anúncio foi feito de véspera, quando, como sempre, eles me perguntam pelos planos para o dia seguinte. Este sábado vamos fazer um passeio na copa das árvores, em Serralves, disse-lhes. A mais velha, de 12 anos, ficou muito entusiasmada – demasiado até, porque chegou a pensar em actividades radicais e que eu lhes estava a propor fazer um percurso de arborismo. Quando percebeu que não havia nada de radical no percurso, disse “que pena”, mas manteve-se animada com a perspectiva. O mais novo, de cinco anos, ficou entusiasmado mas temeroso – se é na copa das árvores é preciso trepar lá para cima, e, desde que se atirou de um beliche abaixo e foi parar ao hospital, tem muito respeito por subidas. “Se as escadas forem muito altas, sobes comigo ao colo, mãe?”, perguntou. Subo, pois.

Na verdade não foi preciso nada disso. Não há escadas, sequer. Mas o pequenote só haveria de perceber isso depois. O Tree Top Walk, uma das últimas atracções no já de si muito rico em sugestões Parque de Serralves, no Porto, é compatível até com carrinhos de bebés. É um percurso sempre horizontal, que serpenteia a copa das árvores, permitindo uma panorâmica diversificada sobre o parque em apenas 350 metros de extensão.

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Já conhecemos bem o Parque de Serralves – tantas foram as Festas de Outono e Serralves em Festa durante as quais lhes percorremos os cantos e perscrutamos recantos. Por isso, a curiosidade dos miúdos era também perceber em que zona do parque é que ele se situaria. Fica bem perto da também recente Casa do Cinema de Manoel de Oliveira, e num canto que permite conhecer muitas espécies de árvores, avistar o prado ao longe, vislumbrar o lago e a sua ilha artificial.

Concebido pelo arquitecto Carlos Castanheira, em colaboração com o arquitecto Álvaro Siza Vieira, este passadiço chega a ter uma altura de 25 metros. Mas com isto não se assuste quem tem vertigens, que é perfeitamente possível atravessar o passadiço sem dar conta da sua altura – basta não se pendurar a olhar cá para baixo, e sabemos bem que para quem tem vertigens essa será a última coisa a atravessar-lhe o espírito. Ora, esse é mal de que não padecem os meus filhos, pelo que eles só não se penduraram porque o passadiço está bem feito, e é inatacavelmente seguro. Basta dizer que tem capacidade para aguentar três mil pessoas em cima, mas o limite é de 250 pessoas ao mesmo tempo. Mais pela garantia de que cada um dos visitantes conseguirá ter uma boa experiência.

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Tree Top Walk Nelson Garrido

Falemos, então, dessa experiência, e do que manteve entusiasmados ambas as crianças, de idades tão distintas. A mais velha, já de telefone na mão, rendeu-se à fotogenia das cores. O mais novo, tentou limpar as folhas caídas pelos passadiços, apanhar todas as bolotas e sementes de eucaliptos que conseguia encontrar, e ainda salvar pequenos insectos que estivessem apanhados em teias de aranha que mal se viam: “Esta aranhinha vai ter de procurar outra coisa para comer.” Os mais novos vêem tudo, e este passeio pela copa das árvores é um bom sítio para falar sobre ecossistemas e a importância de haver equilíbrio na natureza. Ao longo do percurso avistamos árvores monumentais, como o cedro branco, a sequóia, algumas espécies de carvalhos e outras nativas, como o nosso castanheiro ou o sobreiro.

Para tirar melhor proveito do percurso em termos de interpretação da envolvente, é possível agendar com o serviço educativo visitas-oficina para famílias, que se realizam ao fim-de-semana e tem duração de 1h30 (contactar Anabela Silva em a.silva@serralves.pt ou 226 156 519). De acordo com a informação disponibilizada, estas visitas “privilegiarão a forma como a diversidade do parque se manifesta ao longo das quatro estações do ano, proporcionando uma oportunidade única do público para a vivência e experiência no conhecimento da biodiversidade”.

Nós fizemos o percurso em autonomia, usando as placas informativas como cábulas para que não nos faltasse reparar em nada. Foi uma dessas placas que lemos uma informação bem adequada à época natalícia. Foi ao passar junto ao bosque de coníferas, árvores de folhas persistentes, que lemos que estes pinheiros e abetos são considerados sagrados no Norte da Europa, por serem uma vegetação que nunca morre – ou que só um espírito maligno pode fazer morrer.

É por isso que, no solstício de Inverno, os habitantes dos países do Norte levavam ramos verdes para casa, para ajudar a ter energia para resistir ao frio e à escuridão. Assim nasceram os pinheiros do Natal. Nós saímos de Serralves com o propósito de ir enfeitar o nosso.

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