Manifestantes e polícia entram em confrontos na Argélia em dia de eleições presidenciais

Duas assembleias de voto foram destruídas em Béjaia, na região de Cabília, e a polícia carregou contra os manifestantes que apelavam ao boicote das eleições presidenciais.

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Milhares de argelinos saíram esta quinta-feira à rua para rejeitar as eleições presidenciais Ramzi Boudina/REUTERS
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Foi mobilizada a polícia antimotim para controlar os protestos Ramzi Boudina/REUTERS
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Boletins de voto dos cinco candidatos Ramzi Boudina/REUTERS
São Patrício
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Manifestantes contra as eleições transportam bandeira da Argélia MOHAMED MESSARA/EPA

Os argelinos foram chamados esta quinta-feira às urnas para votar numas eleições presidenciais que muitos rejeitam e o provável aconteceu. Milhares de manifestantes saíram à rua para protestar contra as eleições e a polícia carregou sobre eles em Argel e noutras cidades, com dúzias de pessoas a serem detidas. 

A tensão subiu logo pela manhã, mal as mesas de voto abriram, quando duas assembleias de voto na cidade de Béjaia, na região da Cabília, foram destruídas. “As urnas de voto e os boletins foram destruídos”, contaram testemunhas à AFP. 

Pouco depois, surgiram relatos de confrontos entre manifestantes e a polícia na capital argelina e noutras cidades, quando os primeiros protestaram e apelaram ao boicote das eleições. “Não votem! Queremos liberdade!”, ouviu-se nos protestos, diz a Reuters. É provável que os apelos ao boicote levem a uma fraca afluência às urnas, diz a imprensa internacional.

Os activistas do movimento Hirak, responsável pela queda do Presidente Abdelaziz Bouteflika, de 81 anos, em Fevereiro, rejeitam as presidenciais argumentando que nunca poderão ser livres e justas enquanto a elite dominante, principalmente os militares, continuarem no poder. E, nos últimos dias, organizaram protestos em frente a embaixadas e consulados argelinos em França, Canadá e Estados Unidos, numa estratégia de internacionalização da contestação. 

“A principal reivindicação dos manifestantes desde a queda de Bouteflika é a mudança do sistema político, para garantir que as mesmas pessoas não se mantenham nas rédeas”, disse Chloe Teevan, analista do Centre for Development Policy Management, sediado em Bruxelas, ao Guardian.

Desde Fevereiro que milhares de argelinos saem todas as semanas em protesto contra o regime. Querem uma mudança de fundo e não apenas de fachada, como defendem os militares, a espinha dorsal do regime. O chefe das Forças Armadas, general Ahmed Gaid Salah, apenas aceita a via eleitoral para se ultrapassar a crise política que dura há nove meses e acusa os manifestantes de serem um “gangue criminoso” com um “ódio visceral” contra a Argélia. 

Os 24 milhões de argelinos recenseados podem escolher entre cinco candidatos à presidência, todos ligados ao regime e chamados “filhos do sistema” pelos manifestantes, nas mais de 60 mil mesas de voto espalhadas pelo país. Encerradas as urnas às 21 horas (20 horas em Portugal continental), os resultados preliminares serão conhecidos duas horas depois, com os números finais a serem revelados na sexta-feira. 

As presidenciais foram adiadas por duas vezes e os militares viram-se obrigados a fincar o pé para que não o fossem uma terceira. Os protestos não têm perdido ímpeto e tudo indica que as eleições não serão suficientes para se ultrapassar a crise política: o próximo chefe de Estado terá uma fraca legitimidade assim que se conheçam os resultados, uma vez que será visto como marioneta dos militares.

“O novo Presidente está numa posição muito frágil. Vai-lhe faltar legitimidade e ficar sob enorme pressão dos manifestantes e dos militares que o levaram ao poder”, explicou à Al-Jazira Dalia Ghanem, investigadora do Carnegie Middle East Center.

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