Charles Michel pressiona líderes da UE para adoptarem já a meta da neutralidade climática

Antes da cimeira europeia, Charles Michel passou por 17 capitais e falou ao telefone com todos os chefes de Estado e Governo. “Neste momento, ainda há contactos em curso com vários Estados-membros”, revelou o próprio presidente do Conselho.

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Charles Michel está determinado a obter um acordo sobre eutralidade climática da União Europeia em 2050 Johanna Geron/REUTERS

Os chefes de Estado e de Governo da União Europeia foram avisados de véspera: o novo presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, não tenciona dar por concluídos os trabalhos da cimeira que arranca esta quinta-feira sem obter o acordo dos líderes relativamente à grande meta de neutralidade climática fixada pela Comissão no seu Pacto Ecológico Europeu.

“Quero que sejamos capazes de nos comprometer com o objectivo da neutralidade climática da União Europeia em 2050”, escreveu Michel, na habitual carta de convite endereçada aos líderes na véspera do Conselho Europeu. “Esse será um forte sinal de que a União Europeia está disposta a assumir o seu papel de líder global nesta matéria crucial”, acrescentou.

Do seu gabinete saiu um sinal igualmente forte. O jantar de trabalho da cimeira, que é quando os líderes vão debater o tema bicudo do próximo quadro financeiro plurianual para 2021-27, poderá não ser servido se não houver consenso relativamente às ambições climáticas. 

“O presidente do Conselho não poupou esforços nos seus contactos preparatórios com os líderes e está muito determinado a encontrar um acordo. Esta é uma decisão superpolítica, o debate demorará o tempo que demorar”, observou uma fonte europeia. 

Antes da cimeira, Charles Michel passou por 17 capitais e falou ao telefone com todos os chefes de Estado e Governo. “Neste momento, ainda há contactos em curso com vários Estados-membros”, revelou o próprio presidente do Conselho, que passou pela sala de imprensa para cumprimentar os jornalistas.

O rascunho das conclusões do Conselho que foi posto a circular já era revelador da “ginástica” de Michel para agradar a gregos e troianos. Como apontava uma fonte diplomática, referindo-se à delicadeza do parágrafo relativo à ambição climática da União Europeia, há uma “ambiguidade construtiva” na linguagem para facilitar o consenso.

Charles Michel não vai estar sozinho na defesa do objectivo da neutralidade climática em 2050 — que vários Estados membros, particularmente os da Europa Central e de Leste, consideram ser demasiado ambicioso e incomportável para as respectivas economias. No arranque dos trabalhos, terá ao seu lado a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que apresentará aos líderes o roteiro do Pacto Ecológico Europeu aprovado esta quarta-feira.

O novo Green Deal europeu promete uma revolução na economia do continente, que terá de se descarbonizar: um desafio para regiões da Polónia ou da Alemanha de Leste que ainda estão dependentes da exploração do carvão ou do recurso aos combustíveis fósseis. Para apoiar essa transição, a Comissão vai lançar um novo mecanismo, com apoios financeiros e assistência técnica. Mas aí reside uma das dificuldades deste debate, que se cruza com as discussões sobre o novo orçamento comum para 2021-2027: para já, os Estados membros ainda não se entenderam sobre as suas contribuições para o bolo comunitário, que vai ficar mais pequeno por causa do Brexit.

Apesar de ainda não ter deixado a União Europeia, o Reino Unido não vai contribuir para o debate. O primeiro-ministro Boris Johnson pediu ao presidente do Conselho Europeu para representar os interesses do país, que vai a votos esta quinta-feira. Na sexta, quando os líderes voltarem as suas atenções para a questão do Brexit, o resultado da eleição já deverá ser conhecido. 

Charles Michel disse esta quarta-feira aos jornalistas que o desfecho é irrelevante do ponto de vista da mensagem que Bruxelas tem para Londres. “Nós continuamos unidos, e preparados para negociar a nossa parceria futura. O nosso interesse é manter uma relação tão próxima quanto possível com o nosso vizinho”, afirmou.

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