Manual pretende prevenir a violência baseada no género

Jovens fizeram testes antes e depois da aplicação do manual para avaliar o impacto do programa. Em geral, todos mostraram mudanças em termos de atitudes, valores, comportamentos e aprendizagem esperados.

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LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Um manual de acção para transformar normas rígidas de género, fornecendo novas abordagens para prevenir a violência e promover a igualdade entre jovens, foi desenvolvido por 15 investigadores e activistas de cinco países: Portugal, Alemanha, Bélgica, Croácia e Espanha.

Denominado EQUI-X, o manual, que é lançado na sexta-feira, em Lisboa, pretende “transformar normas rígidas de género, fornecendo novas abordagens para prevenir a violência e promover a igualdade entre jovens de diferentes idades, através da discussão de feminilidades e de modelos não violentos e equitativos de masculinidade”, afirma a Universidade de Coimbra (UC), numa nota enviada hoje à agência Lusa.

Inspirado nos programas H [homem] e M [mulher] da organização não-governamental internacional Promundo, o programa resulta de “um projeto de investigação” financiado com cerca de meio milhão de euros pela União Europeia, através do programa “Direitos, igualdades e cidadania”.

Os H e M do Promundo, reconhecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como programas de boas práticas, baseiam-se em “evidências alicerçadas em abordagens pedagógicas transformadoras de género, que questionam papéis, identidades e normas de género entre meninas e meninos, mulheres e homens de várias idades”, refere a UC.

Em Portugal, o projecto foi desenvolvido por uma equipa de investigadores do Centro de Estudos Sociais (CES) da UC e do Promundo Portugal, e implementado em três centros educativos (Olivais, em Coimbra, Navarro de Paiva, em Lisboa, e Santa Clara, em Vila do Conde) e em três escolas dos ensinos básico (Marquês de Pombal, em Pombal) e secundário (Infanta Dona Maria, em Coimbra, e Secundária de Pombal).

A equipa trabalhou directamente com 122 jovens de ambos os sexos (63 rapazes e 59 raparigas), com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos, realizando, nos últimos dois anos, 52 sessões educativas dinâmicas, colocando em prática 34 oficinas (das 39 que constituem o EQUI-X), sobre temas como relações de género, masculinidades e media, paternidade e cuidados, entre outros.

Os jovens fizeram testes antes e depois da aplicação do EQUI-X, para avaliar o impacto do programa, isto é, para verificar se eles mudaram ou não de atitude.

De uma forma geral, nota Tatiana Moura, coordenadora do estudo português, “todos os jovens que participaram na implementação do EQUI-X mostraram mudanças em termos de atitudes, valores, comportamentos e aprendizagem esperados”.

O programa “conseguiu proporcionar reflexões sobre algumas atitudes e comportamentos em relação às normas de género, às expectativas sociais estereotipadas de género, em relação à igualdade e corresponsabilidade, entre outras, que foram a bússola desta intervenção”.

Nas questões de igualdade de género, “tanto os meninos como as meninas partilharam atitudes positivas desde o princípio da intervenção em questões objectivas” e melhoraram em atitudes subjectivas.

Comparando os resultados obtidos nas escolas com os dos centros educativos, verificou-se que, de um modo geral, “as atitudes dos jovens nos centros educativos são menos equitativas do que nas escolas em geral e reflectem uma desigualdade também no acesso aos direitos e de uma vida sem violência”, afirmam, citados pela UC, os investigadores Rita Santos e Tiago Rolino.

“Sobretudo os meninos nos centros educativos têm atitudes marcadamente menos igualitárias”, referem os investigadores, referindo que, no entanto, se observaram algumas excepções. As meninas, pelo contrário, “são mais reflexivas em questões como ambos os parceiros devem ter responsabilidade para evitar a gravidez”.

Além do programa de intervenção adaptado à realidade e cultura de cada um dos cinco países participantes no projecto, foi também desenvolvido um manual europeu onde são expostas algumas reflexões pertinentes sobre temas que foram identificados como fundamentais nas práticas de trabalho quotidiano dos parceiros, com o objectivo de alcançar a equidade de género e prevenir a violência nas suas múltiplas formas.

“Pretendemos desconstruir a caixa rígida de masculinidades que contribui para a perpetuação das desigualdades de género”, afirma Tatiana Moura.

Este projecto chama ainda a atenção para “os desafios das mudanças políticas e das clivagens à direita conservadora e o retrocesso que isso pode significar na agenda da igualdade de género e na implementação de metodologias deste tipo”, conclui.

A equipa espera agora que o EQUI-X seja útil como ferramenta de trabalho em escolas e centros educativos do país, bem como em outros contextos de educação não formal.

O lançamento do manual terá lugar no Centro de Informação Urbana de Lisboa (CIUL), na sexta-feira, pelas 17h, com a presença da secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro.

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