Ministra da Saúde: “Nunca me senti refém” de Mário Centeno

Em entrevista ao PÚBLICO, no dia em que o Conselho de Ministros aprovou um reforço de 800 milhões para a Saúde em 2020, Marta Temido explica que a relação com o ministro das Finanças é “óptima” embora “naturalmente” nem sempre partilhem “a mesma perspectiva”.

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Marta Temido foi reconduzida como ministra da Saúde, depois de ter substituido Adalberto Campos Fernandes em 2018

A ministra da Saúde fala, nesta entrevista, sobre como estão a decorrer as negociações para o Orçamento do Estado de 2020 e responde às críticas do PSD assim que soube do anúncio de mais 800 milhões de euros para a Saúde. Publicamos esta quarta-feira um excerto da entrevista que vai poder ler na íntegra, nesta quinta-feira, na versão impressa e no online do PÚBLICO. 

O que mudou no Governo para que, desta vez, tivesse sido possível fazer este plano?
É importante referir que já houve um reforço orçamental significativo do ano passado para este.

Foi fácil convencer o ministro Mário Centeno a deixar de ter o poder de autorizar contratações para substituição no Ministério da Saúde?
Eu trabalho muito bem em equipa e tenho tido sempre uma grande solidariedade da parte de todos os colegas de todos os ministérios. Quando estamos a discutir o Orçamento do Estado estamos em última instância a falar de diferentes possibilidades de afectação de recursos nas quais os vários sectores competem.

Mas estava a perguntar-lhe concretamente da relação do Ministério da Saúde com as Finanças.
Só lhe posso dizer, francamente, que é [a relação] óptima e que hoje estávamos a trabalhar neste tema e que vamos continuar a trabalhar. Naturalmente, não queremos sempre as mesmas coisas e não temos a mesma perspectiva. Temos aspectos em que não coincidimos. Mas nós, Saúde e Finanças, queremos a mesma coisa: melhor saúde para os portugueses e maior valor do investimento que se faz na Saúde dos portugueses.

Teria condições para continuar como ministra da Saúde se este reforço não tivesse existido neste OE?
Eu trabalho todos os dias no sentido de conseguir garantir a melhor resposta às portuguesas e aos portugueses. As condições de contexto são aquelas que as portuguesas e os portugueses disponibilizam porque o Governo não fabrica riqueza. Faz escolhas. E para mim essas escolhas já estavam feitas no programa de Governo. Quando o primeiro-ministro disse que o SNS ia ser a jóia da coroa a escolha estava feita. Estava bastante tranquila.

Estava tranquila desde quando?
Desde que foi construído o programa eleitoral, desde que trabalhámos no programa de Governo e decidimos continuar este desafio, esta aposta. Estava bastante tranquila. Não acho que esta resolução do Conselho de Ministros vá resolver todos os problemas, como a lei de bases da Saúde não resolverá todos os problemas. São passos e é muito importante. Mas se alguém achava que a lei de bases da Saúde ia resolver todos os problemas do sector... Se alguém acha que uma resolução do Conselho de Ministros vai resolver todos os problemas do sector, a resposta depende mesmo de todos os envolvidos.

O BE disse há poucos dias que eram precisos exactamente 800 milhões de euros no SNS. Este anúncio foi concertado com o BE ou foi coincidência?
Não faço ideia. Eu, pelo menos, não concertei nada com o BE. Mas se calhar significa que as contas estão bem-feitas.

Mesmo assim, o OE 2020 vai ter excedente de 0,2%, cerca de 400 milhões. Não fica incomodada com isso, ou seja, haver dinheiro que ainda podia ser aplicado nesta área?
Este dinheiro que agora foi utilizado nesta área já foi o resultado de um trabalho de boa gestão de contas públicas no sentido da redução de pagamento de juros de empréstimos internacionais, etc. Aquilo que seja a boa gestão nas contas públicas portuguesas, em última instância, vai sempre beneficiar...

Está a dizer que toda a gente tem que agradecer a Mário Centeno?
Mas tem dúvidas? O Governo trabalha como um todo e trabalha para os portugueses, não trabalha para o êxito de uma área governativa. Há áreas que são tradicionalmente muito mais difíceis como noutros sítios. A Saúde é uma delas. Isso faz parte do nosso caminho colectivo.

Com este plano, consegue garantir aos portugueses que, de facto, o SNS vai ficar melhor? Vamos diminuir tempos de espera de cirurgias, não vamos ter urgências fechadas por falta de médicos? Pode dar essa garantia? Este plano será suficiente para garantir aos utentes que as coisas vão melhorar e até que ponto?
Tenho de me comprometer totalmente. Não acho que tudo se resolva com isto que foi hoje decidido. Mas estamos a criar condições para que o sistema funcione melhor. Agora, tenho mais de 130 mil trabalhadores no sector. Faço todo o dia o melhor possível para que isto funcione o melhor possível também.

O PSD diz que a partir de hoje deixou de ter desculpas.
Eu nunca achei que tivesse.

Havia a ideia de que estava refém do ministro das Finanças e agora deixa de haver essa ideia.
Eu nunca me senti refém. Tenho alguma dificuldade nessa leitura. Este reforço de meios também permitirá injectar mais confiança no sistema e criar respostas. Mas não considero que tenho estado refém do que quer que seja. 1400 milhões de euros de reforço na anterior legislatura permitiram-nos uma coisa que não tínhamos desde 2010: foi ficar acima desse orçamento. Agora, era preciso o passo a seguir. Foi a isso que nos propusemos e é isso que estamos a tentar fazer. Condições para garantir que a partir de agora será um mar de rosas? Eu vou fazer o melhor possível mas isso eu faço todos os dias.

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