A década prodigiosa e assustadora que está perto do fim

O PÚBLICO inicia hoje a publicação de uma série de trabalhos que pretendem recordar os dias que mudaram a década prestes a acabar e deixaram um rasto de consequências que moldam o presente e o futuro

A escassas semanas do final da segunda década do século, vale a pena olhar para trás para se constatar sem grande esforço como o mundo acelerou ainda mais. Acelerou tanto que é quase impossível fixar as imagens ou ideias desse passado recente e concluir se este nosso mundo é melhor do que o mundo que habitámos há apenas dez anos. Como sempre acontece nestas avaliações, os optimistas históricos continuarão a acreditar que a linha do progresso material e humano é imparável, enquanto os pessimistas dirão que estamos a destruir o mundo velho e previsível numa caminhada incerta e cheia de riscos. 

Uns e outros, porém, terão de concordar numa questão essencial: o que aconteceu nos últimos dez anos deixou de se enquadrar na narrativa linear que determinou a história do ocidente desde a II Guerra Mundial. O mundo multilateral está sob ameaça. A ciência e a tecnologia, via digitalização e os algoritmos, legitimam receios de controlo da liberdade individual e impõem novas formas de vida e de organização social. A crise climática augura um futuro insustentável e ameaçador. As eleições de Órban, Trump ou Bolsonaro colocam a democracia e o estado de direito num processo de erosão de consequências incalculáveis. O proteccionismo e o nacionalismo regressam até em países com uma longa história de abertura ao mundo, como o Reino Unido. É legítimo acreditar que as nossas sociedades serão capazes de superar todos estes desafios; mas é obrigatório encará-los como ameaças reais às formas de vida que marcaram as últimas gerações.

É à luz desta obrigação que o PÚBLICO inicia hoje a publicação de uma série de trabalhos que pretendem recordar os dias que mudaram a década prestes a acabar e deixaram um rasto de consequências que moldam o presente e o futuro. Há neste conjunto momentos de amargor, como aconteceu no momento em que Portugal teve de recorrer a um resgate e submeter-se a um doloroso processo de ajustamento financeiro. Há dias de pavor e revolta, como os dos incêndios de 2017. Há sonhos desfeitos, como os das primaveras árabes. Há momentos auspiciosos, como a descoberta do bosão de Higgs, e dias de inesquecível felicidade, como o da vitória no Europeu de 2016. Com maior ou menor impacte, esses dias deixaram um rasto que é importante identificar.

Um jornal diário como o PÚBLICO não pode descurar essas múltiplas pistas de leitura que podem ajudar os seus leitores a configurar uma visão mais densa e abrangente do nosso tempo. Desenvolvemos esta série de trabalhos com esta preocupação. Esperando, como sempre, ser úteis e ficar mais perto dos interesses ou necessidades dos nossos leitores.

Editorial corrigido às 15h15. Onde se lia “A escassos dias...” passou-se a ler “A escassas semanas"

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