A caminho de nascer no Pacífico Sul um novo país

Cerca de 98% dos eleitores que foram às urnas na região autónoma de Bougainville votou pela independência da Papua Nova Guiné. O referendo não vinculativo foi uma promessa do acordo de paz que acabou com uma década de guerra.

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Conhecidos os votos, a população de Bougainville celebrou o passo de gigante em direcção à independência Reuters/BRC/JEREMY MILLER

A região de Bougainville deu esta quarta-feira um passo de gigante para se tornar no mais jovem país independente do mundo, rompendo com a Papua Nova Guiné. Cerca de 98% dos mais de 180 mil habitantes do conjunto de ilhas no mar de Salomão, no Pacífico Sul, votaram a favor da independência no referendo desta. 

O campo do não à independência, defendendo “mais autonomia”, conquistou pouco mais de três mil votos, mostrando como a população da região está unida no seu desejo de independência nacional.

Realizada entre 23 de Novembro e 7 de Dezembro, a consulta eleitoral decorreu na sua maioria de forma ordeira e pacífica. “Cerca de 85% do total dos eleitores votou num ambiente livre, justo e credível”, disse o presidente da comissão eleitoral do referendo, Bertie Ahern, citado pela AFP. 

Os resultados não são vinculativos e terão de ser ratificados pelo Parlamento nacional da Papua Nova Guiné. E já há algumas movimentações nos seus corredores para o evitar, diz a Al-Jazira. 

No entanto, os resultados esmagadores não dão grande margem de manobra aos deputados que querem impedir a independência. A história tem um peso e o referendo foi uma das promessas para se terminar uma longa guerra, combatida nas selvas do país. 

O conflito começou no final da década de 1980 por causa de uma enorme mina de cobre na zona de Panguna. A exploração do minério era uma significativa fonte de receita da Papua Nova Guiné, mas a população local sentia que não usufrua dos devidos benefícios, apenas da poluição e mal-estar causados. A contestação aumentou e houve rebeldes de Bougainville que pegaram em armas contra o Governo central. 

Irrompeu então uma longa guerra de guerrilha que se prolongou pela década de 1990 e causou mais de 20 mil mortos (10% da então população total de 200 mil). Em 2001, rebeldes e Governo assinaram um acordo de paz e a realização de um referendo sobre a independência foi uma das principais promessas, que, no entanto, tardou a ser cumprida. 

Quando os resultados da consulta popular foram conhecidos, a felicidade da população de Bougainville, diz o Guardian, sentia-se no ar. “É claro que as pessoas estão com um espírito de celebração e junto-me a eles por terem todo o direito a celebrar”, disse John Momis, presidente da região, ao jornal britânico. “Se trabalharmos juntos, o resultado será bom e oficial e o mais importante é que garantirá uma paz duradoura”. 

Ainda que o resultado seja um passo de gigante, a independência não está ao virar da esquina. O Governo regional de Bougainville e o Governo central terão agora de negociar os próximos passos. “O referendo é apenas uma parte da nossa aventura”, avisou Ahern. 

O Governo receia que o referendo tenha criado o precedente para que outras regiões da Papua Nova Guiné, com oito milhões de habitantes, peçam a independência e, por outro lado, há preocupações de que qualquer atraso no processo independência de Bougainville crie frustração na população local, diz o Guardian.

Desde que o Sudão do Sul se tornou independente do Sudão, em 2011, que o mundo não viu nascer outro Estado.

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