A questão do lítio

Não ao ignorar, ao deitar fora (nós país tão pobre!) o ouro que temos, seja ele cobre, volfrâmio, petróleo ou lítio.

Há petróleo na zona marítima de Portugal Continental. Há lítio em Portugal Continental (jazigos conhecidos há 100 anos). Há “ouro negro” e “ouro “branco” em Portugal.

Durante a 2.ª Guerra mundial Portugal exportou para os nazis e para os aliados outra espécie de ouro: o volfrâmio. Enriqueceu com isso. “Isso” que hoje, e só hoje depois de mais de 40 anos do regime democrático, é criticado, embora as minas de cobre da Panasqueira da Beira Interior onde o volfrâmio existe tenham sido objecto de sucessivas transacções e ainda hoje estejam em exploração. Regime que hoje “ferra” com ignorância o passado e que é indiferente ao “hoje”.

Comece-se pelo ouro negro.

É dito que uma eventual perfuração se realizará a 30km-40km de distância da costa, ou seja só visível a cerca de 70 m (10 pisos de um edifício) ou a 120m de altura (40 pisos). É muito, não perturba qualquer actividade turística, em particular, a balnear. Poderá haver catastróficos derrames? Com certeza, cá e em qualquer ponto do mundo (no Mar do Norte, na Escócia, no México, etc.).

O “ouro branco”? Portugal poderá ser o 1.º produtor de lítio na Europa e ser nesta o que a Arábia Saudita é na Ásia. Por esta possibilidade, devem ser cuidadosamente tratadas as recentes desconfianças e suas manifestações. O lítio é um material leve e cuja densidade é inferior à da água. Flutua. É corrosivo, altamente inflamável e explosivo quando exposto ao ar e à água. Especiais precauções devem por isso ser tomadas no seu transporte, pelo ar ou pelo mar.

Qual a diferença entre a exploração de uma pedreira de mármore da qual decorreu o desastre mortífero de Borba (resultante de desleixo e de incompetência) e de uma de “feldspato+granito+lítio”? Poucas ou nenhumas.

De acordo com dados do Serviço Geológico dos Estados Unidos, Portugal é o país europeu com maiores reservas de lítio e o sexto a nível mundial. “Em Portugal, as reservas serão na ordem das 60 mil toneladas. O grande motivo de críticas à extração de lítio tem a ver com as implicações ambientais da atividade mineira, não só pelos danos provocados na paisagem, mas sobretudo pela possibilidade de contaminação de águas, (…) e pela previsível degradação do ar nas zonas adjacentes à exploração”.

As reservas de lítio em Portugal são um grão de pó quando comparadas com as do “triângulo” Chile, Argentina, Bolívia, que têm 75% das reservas mundiais. Só o deserto de Uyun na Bolívia alberga 5,4 milhões de toneladas de lítio, o que lhe confere o título da maior reserva do mundo.  

A recente revolução energética nos automóveis, nos quais o depósito de combustível fóssil é substituído por baterias de lítio, valorizou este mineral. No entanto, em Portugal o lítio é um composto natural, não se apresentando como carbonatos de lítio, forma sob a qual é utilizado em baterias. Tal facto conduz a uma produção para aquele fim mais difícil e mais cara.

Seja como for, o problema central na recente polémica é o da competência. Que se planeie e que se fiscalize, como é exigível para qualquer outro tipo de exploração mineira, um investimento que, a prazo, poderá atingir os 400 milhões de euros.

Que habilitações tem o actual secretário de Estado da Energia para debitar explicações e justificações? Nenhumas. Que se substituam, sem prejuízo das legítimas opções políticas, os boys da oligarquia do PS e do PSD por técnicos experientes sem quaisquer aproveitamentos pessoais. Mas assim é que não. Não ao ignorar, ao deitar fora (nós país tão pobre!) o ouro que temos, seja ele cobre, volfrâmio, petróleo ou lítio.

Se sim, é uma irresponsabilidade, que hoje já não espanta, ou um fundamentalismo ambiental que deve ter apenas a importância e a influência que merece.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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