“Senil” e “rocket-man” regressam para assombrar as relações entre os EUA e a Coreia do Norte

Apesar de haver uma ligeira subida de tensão entre os dois países, para já ambos parecem empenhados em privilegiar o diálogo.

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Kim Jong-un tem mantido a promessa de não fazer testes nucleares Reuters

Depois de meses de uma aparente acalmia e, a certas alturas, até de um improvável clima de lua-de-mel entre o Presidente norte-americano, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, a troca de palavras amargas entre Washington e Pyongyang regressou, renovando as dúvidas sobre o progresso das negociações entre os dois países.

O episódio teve origem em declarações proferidas por Trump durante a cimeira da NATO esta semana em Londres, em que o Presidente dos EUA se voltou a referir a Kim como “rocket man” – um epíteto que Trump tinha abandonado desde o relançamento do processo diplomático entre os EUA e a Coreia do Norte.

Trump também afirmou que Washington se reserva o direito de usar força militar contra Pyongyang caso seja necessário. “Temos as Forças Armadas mais poderosas que alguma vez já tivémos e somos, de longe, o país mais poderoso do mundo, e espero que não tenhamos de as usar, mas se for necessário, usaremos”, afirmou Trump.

As palavras não caíram bem na Coreia do Norte e levaram o regime a responder à letra, resgatando por sua vez outro termo depreciativo para se referirem a Trump. “Se qualquer linguagem ou expressões que encorajem a atmosfera de confronto voltem a ser usadas propositadamente num momento crucial como este, então isso deve realmente ser diagnosticado como uma recaída de senilidade por parte de um senil.”

A frase é da primeira vice-ministra dos Negócios Estrangeiros norte-coreana, Choe Son-hui, que esta quinta-feira ainda referiu que as palavras de Trump “desencadearam ondas de ódio” dos norte-coreanos “contra os EUA”. Em 2017, no auge da tensão entre os EUA e a Coreia do Norte por causa do lançamento de mísseis pelo regime, declarações atribuídas ao próprio Kim chamavam Trump de “senil mentalmente perturbado”.

Um dia antes, o chefe do Exército norte-coreano, Pak Jong-chon, já tinha avisado que o uso de força contra o país iria ter consequências “horríveis” para os EUA.

Apesar da aparente degradação do clima entre os dois países, alguns analistas sublinham que a situação ainda não voltou ao ponto mais baixo que antecedeu as cimeiras EUA-Coreia do Norte.

“As declarações mais recentes parecem conter avisos para os EUA não ameaçarem a segurança do regime e a dignidade do seu líder, mas não têm palavras duras dirigidas directamente a Trump”, afirmou o analista da Universidade de Estudos Norte Coreanos, em Seul, Yang Moo-jin, citado pela agência estatal sul-coreana Yonhap.

“Há uma mensagem de aviso, mas que parece moderada para demonstrar uma vontade para aguardar até ao fim ano baseada na confiança mútua entre os líderes dos dois países”, acrescentou.

As negociações sobre o programa nuclear norte-coreano estão paradas desde a cimeira de Hanói, em Fevereiro, que acabou por ser interrompida por falta de acordo entre as duas comitivas. A ausência de entendimento quanto à noção de “desnuclearização” entre os EUA e a Coreia do Norte permanece uma das principais barreiras – Washington quer a destruição completa e imediata do arsenal nuclear, mas Pyongyang quer um processo gradual, acompanhado de garantias de segurança de que não será atacada.

Para já, a Coreia do Norte tem mantido a promessa de não testar armas nucleares, embora tenha voltado a lançar mísseis balísticos. A última vez que foi testada uma bomba remonta a Setembro de 2017.

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