Argelinos desafiam militares: “Não vamos votar”

O Exército considera que as presidenciais de 12 de Dezembro são a única forma de restabelecer a normalidade. Os manifestantes dizem que é cedo, é preciso afastar mais figuras do antigo poder, após a saída de cena de Bouteflika.

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Manifestantes afirmam que não vão votar Ramzi Boudina/REUTERS

Dezenas de milhares de argelinos protestaram na rua esta sexta-feira contra as eleições presidenciais do próximo domingo, 12 de Dezembro, que consideram não valer nada. Gritaram “não vamos votar”, ao desfilarem pelo centro de Argel, e agitaram bandeiras que diziam “não é preciso preparar as mesas de voto” e “o povo está farto”.

Desde Fevereiro que há manifestações duas vezes por semana para exigir que a elite que tem controlado a Argélia desde a independência em 1962 abandone o poder. O Exército, a força mais poderosa no Estado argelino, considera as eleições presidenciais como a única maneira de restaurar a normalidade, após nove meses de manifestações que levaram ao afastamento, em Abril, do veterano Presidente Abdelaziz Bouteflika.

Os manifestantes dizem, no entanto, que as eleições são inúteis se a hierarquia actual, incluindo o Exército, continuar a deter o poder, e querem adiá-las até que mais dirigentes de topo sejam afastados, e os militares deixem a política. “Vamos manter a nossa posição. Precisamos de mudar”, disse o funcionário dos correios Aissa Baha’i, de 32 anos.

Esta sexta-feira à noite vai haver um debate entre os candidatos – algo que nunca aconteceu – mas os manifestantes dizem que é apenas teatro político. “Estamos habituados a ouvir promessas. Não confio neles”, disse Djamila Chabi, 37 anos.

O movimento de protesto, que tem trazido regulamente centenas de milhares de pessoas para as ruas, tem sido pacífico. Mas há sinais de tensão crescente à medida que as eleições se aproximam.

Há uns meses e numa altura em que os protestos começaram a ser reprimidos, as autoridades detiveram dezenas de manifestantes que erguiam bandeiras com símbolos berberes. Muitos destes detidos foram condenados a penas prisão de um ano, por comprometeram a unidade nacional.

Na quinta-feira, os serviços de segurança acusaram um movimento separatista berbere de estar a planear perturbar as eleições inserindo agentes provocadores nas manifestações, para incentivar a violência policial, afirmando que um membro do grupo tinha confessado.

O Governo ordenou também a detenção de várias figuras da oposição e jornalistas, acusando-os de atacar a moral do Exército.

Nas últimas semanas, os protestos têm sido mais frequentes, desafiando, de forma mais aberta, as eleições presidenciais, através de manifestações dirigidas contra os candidatos. Penduram sacos de lixo em locais públicos que estão reservados para colocar campanha eleitoral.

Para tentar acalmar a fúria dos cidadãos contra a corrupção, o Governo prendeu uma dezenas de responsáveis da administração, ex-chefias militares e empresários, muitos deles associados a Bouteflika, e condenou-os a longas penas de prisão.

Mas não basta. “A mudança não se pode fazer com os homens do antigo sistema. Esta eleição é uma perda de tempo”, disse o estudante universitário Noureddine Kadiri, de 25 anos, que marchava na manifestação com os seus irmãos mais novos.

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