No Porto, a Casa da Filigrana abriu para preservar esta arte portuguesa

A Casa da Filigrana abriu na Baixa do Porto, após um investimento inicial de 1,5 milhões de euros, com a principal missão de lutar pela preservação da filigrana artesanal.

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A Casa da Filigrana está pensada para os turistas que chegam ao Porto DR
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O museu reflecte o passado da família Rosas, que há várias gerações trabalha na ourivesaria DR
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Muitas peças foram compradas em leilões DR
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Um exemplo de um trabalho que continua actual DR
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O museu tem também momentos de interactividade DR
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A ministra da Cultura marcou presença na inauguração DR
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Há um novo espaço na cidade do Porto que conta a história da filigrana portuguesa. Chama-se House of Filigree, a Casa da Filigrana, e abriu as portas no número 10 da Rua do Almada, onde podem ser vistos dezenas de objectos — desde um cofre neo-manuelino, o chamado Relicário dos Navegantes feito em prata, da primeira metade do século XX, adquirido num leilão para fazer parte deste acervo; passando por brincos de ouro e instrumentos e ferramentas da preparação do fio com que se faz a filigrana.

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O Relicário dos Navegantes é uma das peças mais valiosas da colecção DR

O objectivo deste espaço é lutar pela preservação da filigrana artesanal, avança Luísa Rosas, designer e responsável pelo projecto que teve um investimento inicial de 1,5 milhões de euros. A viagem ao mundo da filigrana começa com a exibição de uma curta-metragem, no âmbito da exposição permanente sob o mote “Filigranas Portuguesas. Da perícia da técnica à elegância do uso” com um espólio de peças das tipologias mais emblemáticas que datam dos séculos XIX, XX e  XXI, além de vários instrumentos utilizados na produção desta técnica.

Os visitantes ficam a par de como se manufactura a filigrana, começando pela produção do fio de ouro. Depois, noutra sala estão os instrumentos e ferramentas utilizados, desde uma tenaz, à balança até ao banco de puxar fio, de 1930. Há ainda fotografias, algumas datadas de 1907, que ilustram a filigrana daquela época, acompanhadas de “apontamentos a explicar como se fazia o processo da produção”, descreve Paulo Valente, curador da Casa da Filigrana. 

Numa outra sala, três artesãos trabalham peças de ouro e prata que depois integrarão a colecção Heritage e serão vendidas na loja do museu. Nesta oficina ao vivo, Susana, uma das artesãs, descreve como faz o tradicional coração de prata que “depois enche como se fosse um puzzle”, enquanto trabalha o fio à mão. 

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A viagem pelo museu conduz-nos até “jóias de aparato, vistosas”, descreve o curador. Observamos outras peças desde pendentes, passando por relicários, cruzes de Malta e arreecadas. Há ainda uma miniatura de uma caravela de 1966, feita de prata dourada, e outros objectos decorativos como barcos rabelos alusivos ao transporte do vinho no rio Douro. Este acervo resulta de um trabalho de investigação feito durante mais de dois anos e muitas das peças foram compradas em leilões na Alemanha e nos EUA. Já outras pertencem à colecção privada da família do ourives David Rosas.

Foram os filhos, Luísa e Pedro Rosas, que deram vida a este novo espaço, inaugurado na presença do presidente da autarquia e da ministra da Cultura. “Pretendemos valorizar a filigrana portuguesa contra a ameaça de banalização de que tem sido sujeita nos últimos tempos pela proliferação de peças de fabrico industrial produzidas em massa por injecção em moldes”, defende Luísa Rosas. A designer, que pertence à quinta geração da família de ourives, alerta para o reduzido número de artesãos existentes no país e recorda que estão concentrados em Gondomar e na Póvoa de Lanhoso. 

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O presidente da Câmara do Porto, a ministra da Cultura e a designer Luísa Rosas DR

Para a ministra da Cultura, Graça Fonseca, este espaço vai ao encontro da pretensão do ministério de “projectar o saber fazer português como um activo económico”. Como aliás, vai acontecer com a reabertura, em Janeiro de 2020, do Museu de Arte Popular, em Lisboa, que vai também incluir oficinas, ou seja, “uma dimensão de museu vivo”.

Além do museu, da autoria do arquitecto Nuno Graça Moura, há ainda o atelier dos artesãos e uma loja com peças ali produzidas e outras de alta joalharia em filigrana da autoria de Luísa Rosas que podem custar até 12 mil euros. Nesta viagem desde a fundição dos metais até à execução das jóias e exposição de peças, os bilhetes são gratuitos para as crianças até aos 12, cinco euros dos 12 aos 17, e dez euros para adultos — o valor de cada bilhete pode ser convertido numa peça em filigrana. 

A Casa da Filigrana, com 400 metros quadrados, após um investimento inicial de 1,5 milhões de euros, com a principal missão de lutar pela preservação da filigrana artesanal. “Acreditamos que possa ser um espaço obrigatório a visitar no Porto”, defende Luísa Rosas, esperando que este museu possa fazer parte do “roteiro cultural da cidade”.

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