O SNS é nosso. Defendam-no

Os profissionais que todos os dias mantêm o SNS de pé merecem o respeito que lhes é devido, as remunerações que lhes são devidas e as condições necessárias para fazerem aquilo que melhor sabem fazer.

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PAULO PIMENTA

A gritaria em torno do Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem de, obrigatoriamente, lembrar-nos de uma das maiores conquistas da democracia. O SNS português é um exemplo de como a vontade de um povo em ter para si um serviço de saúde que a todos responda, independentemente das suas possibilidades económicas, é o motor imprescindível para o melhoramento das condições em que os serviços de saúde são prestados. 

As atenções têm estado viradas sistematicamente para todos os aspectos negativos que o serviço evidencia — e não são poucos —, mas seria importante para a discussão pensar no que seria a saúde em Portugal sem o SNS. Com ele melhorámos muitos dos indicadores que, antes da sua existência, faziam corar de vergonha um país que se quer desenvolvido. Foi com o SNS que a saúde dos portugueses foi, pela primeira vez, tida como uma prioridade e estritamente necessária para o desenvolvimento da sociedade. O SNS não faz parte do problema, antes constitui a solução mais prática e óbvia. Tem sido a solução para milhares de doentes oncológicos que encontram no serviço público as técnicas mais modernas e pioneiras de tratamento, tem sido a solução para todos aqueles que acorrem às urgências, sem um tostão no bolso, a quem não lhes é negada assistência.

Gostamos de nos comparar com a América em quase tudo, pois comparemo-nos na saúde: os americanos estão a anos-luz de providenciar um serviço universal de saúde a todos os seus nacionais, como acontece em Portugal. O SNS é nosso, é uma conquista de Abril e merece, depois de tudo o que os profissionais fizeram por este país, que o defendamos com unhas e dentes e não permitamos que a tentativa obscena da direita em denegrir este serviço sirva como motivo para o seu desmantelamento. Não nos podemos dar ao luxo de ficar à mercê de seguros de saúde e hospitais privados, pois se eles existem é para perseguir o lucro, não garantindo que a todos seja possível recorrer aos melhores tratamentos.

Os profissionais que todos os dias mantêm o SNS de pé merecem o respeito que lhes é devido, as remunerações que lhes são devidas e as condições necessárias para fazerem aquilo que melhor sabem fazer. A falta de médicos no SNS e a sua fuga para o sector privado é a consequência de décadas de desinvestimento no sector público que levaram à deterioração das condições em que aqueles têm de praticar a sua profissão. Percebo que em termos económicos seja mais vantajoso trabalhar no privado, mas não entendo que não se assuma como desígnio profissional e nacional o contributo que todos temos de dar para que continuemos a ter um dos melhores serviços públicos de saúde do mundo.

São precisos mais médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico e terapêutica? Pois então que se contratem. Não é preciso ser muito erudito para perceber que todo o dinheiro que andamos a dar de barato à banca privada, todas as isenções fiscais dadas às grandes multinacionais e esta obsessão pelo défice encerram em si mais do que capital suficiente para olear a máquina do SNS. É uma máquina pesada que precisa de vontade política para funcionar e essa não tem existido por parte dos governos que têm desferido, sucessivamente, duros golpes neste serviço universal.

Passos Coelho e o PSD colocaram o SNS e os seus profissionais de joelhos, degradando propositadamente todo o serviço na esperança de, com isso, poderem os seus patrões e donos do Grupo Mello lançar uma espécie de OPA aos serviços de saúde em Portugal. Mas bateram-se com um exército de profissionais que, apesar de poucos, têm protagonizado uma batalha dura, como os célebres 300 espartanos na batalha de Termópilas contra o império persa, impedindo que a toalha fosse deitada ao chão. O Governo do PS parece não querer levantar o SNS, mas, mais uma vez, irá deparar-se com uma vontade inabalável de todos nós, aqueles que acreditamos que o SNS tem salvação e que basta vontade para que voltemos a ter orgulho nesta conquista de Abril.

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