Trump abusou do poder do seu cargo para obter ganhos pessoais, conclui relatório do Congresso

O documento que reflecte os depoimentos de antigos responsáveis da Administração Trump foi aprovado pelos democratas, dando início à nova fase do processo de impugnação.

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Donald Trump tem caracterizado o processo de impugnação como uma "caça às bruxas" EPA/WILL OLIVER

O Presidente dos EUA, Donald Trump, é acusado de abuso de poder “para obter ganhos políticos e pessoais às custas da segurança nacional”, conclui o relatório da comissão do Congresso responsável pelas investigações no âmbito do processo de impugnação do chefe de Estado. O documento marca o início de uma nova fase, mas a sua aprovação apenas com o voto dos congressistas democratas mostra que o impeachment ainda continua por atrair republicanos.

A aprovação do relatório na terça-feira à noite foi o culminar de duas semanas de depoimentos públicos e privados de antigos membros da Administração Trump e responsáveis diplomáticos, com o objectivo de clarificar se o Presidente norte-americano tentou usar o poder do seu cargo junto do seu homólogo ucraniano para obter vantagens políticas.

“As acções do Presidente prejudicaram a nossa segurança nacional, puseram em causa a integridade das próximas eleições e violaram o seu juramento”, afirmou o presidente da Comissão de Serviços Secretos, o democrata Adam Schiff.

Ao longo de 300 páginas são escrutinadas cerca de cem horas de depoimentos que, segundo as conclusões, mostram que Trump se empenhou durante meses para obter garantias junto do Presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, de que seria aberta uma investigação aos negócios do filho de Joe Biden, o ex-vice-Presidente e principal candidato nas primárias democratas às eleições de 2020. Para isso, acusam os democratas, Trump bloqueou a entrega de ajuda militar ao Exército ucraniano, que já tinha sido aprovada pelo Congresso, e usou a promessa de receber Zelensky na Casa Branca.

Trump também queria que a justiça ucraniana abrisse uma investigação à alegada interferência ucraniana nas eleições presidenciais de 2016 em benefício da sua adversária, Hillary Clinton.

“As provas tornam claro que o Presidente Trump usou o poder do seu cargo para pressionar a Ucrânia a anunciar investigações ao seu rival político, Joe Biden (que foi vice-presidente de Barack Obama), e sobre uma teoria da conspiração já desmontada de que foi a Ucrânia, e não a Rússia, que interferiu nas eleições de 2016”, afirmou Schiff.

Outra das linhas de argumentação no relatório é a acusação de que Trump também tentou obstruir as investigações ao recusar fornecer documentos e ter proibido responsáveis da Casa Branca de testemunhar. “Os estragos serão duradouros e potencialmente irrevogáveis se a capacidade do Presidente de bloquear o Congresso passar incólume”, diz o relatório.

A destituição de Trump é tratada pelos democratas como uma necessidade para proteger o próprio sistema político dos EUA. “Qualquer futuro Presidente irá sentir-se capaz de resistir a investigações às suas próprias irregularidades, improbidades, ou corrupção, e o resultado será uma nação exposta a um risco bem mais elevado a essas três coisas”, sustenta o documento.

O processo de impugnação passa agora para a Comissão de Justiça do Congresso, que deverá redigir os artigos sobre o afastamento de Trump a partir das conclusões do relatório.

“Divagações”

Trump tem negado todas as acusações e tem caracterizado o processo de impugnação como uma “caça às bruxas” movida pelo Partido Democrata para impedir a sua reeleição.

A porta-voz da Casa Branca, Stephane Grisham, acusou os democratas de terem conduzido “um processo parcial” que nada provou contra o Presidente. “O relatório do presidente Schiff lembra as divagações de um blogger numa cave a tentar provar alguma coisa quando não há provas de nada”, acrescentou Grisham.

O relatório foi aprovado apenas com os votos dos congressistas democratas com assento na comissão, enquanto os republicanos o chumbaram, mostrando que a solidez do partido na defesa do Presidente se mantém. Se os cálculos políticos do Partido Republicano se mantiverem quando o processo chegar ao Senado – a instância decisiva para o afastamento de Trump – o impeachment não será concretizado.

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