Vai nascer um registo nacional para animais com cancro — e pode ser útil para os humanos

Plataforma pioneira da Universidade do Porto arranca sexta-feira e visa, para já, os animais de estimação. Os dados recolhidos poderão ajudar a identificar factores de risco para os seus donos.

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Plataforma é lançada a 6 de Dezembro Carlos Barria/REUTERS

Gatos, cães, furões, “quaisquer animais com diagnóstico de cancro”: são estes os animais que passarão a fazer parte dos registos de uma plataforma que vai agregar informação sobre cancro animal para compreender a frequência destes casos e estudar quais os principais factores de risco – algo que não era possível até agora por não existir um registo nacional deste tipo de casos.

A plataforma chamada Vet-OncoNet, desenvolvida pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), estará disponível a partir desta sexta-feira.

Esta é a primeira iniciativa deste género em Portugal, explica ao PÚBLICO o coordenador da plataforma, João Niza Ribeiro, e surgiu da “necessidade de haver um sistema que coligisse os dados oncológicos” em animais. Ainda assim, o investigador ressalva que “a oncologia veterinária está muito avançada e todos os dias se trabalha numa lógica similar à da medicina humana, com recursos ajustados”.

Além da saúde animal, esta plataforma fornecerá dados que podem dar pistas para a saúde humana e ambiental. Como os animais de estimação partilham o ambiente com os seus donos, o desenvolvimento de uma doença oncológica nos animais pode ser um “sinal de alerta” de um risco acrescido de cancro nos humanos – e pode, assim, ajudar a identificar factores de risco e evitar o aparecimento de complicações oncológicas, se detectado precocemente. O professor João Niza Ribeiro explica que um cancro “se pode desenvolver mais cedo em animais por terem tempos de vida mais curtos do que os humanos”.

Animais de estimação, mas não só

Os dados poderão ser introduzidos no serviço electrónico por médicos veterinários e por laboratórios de diagnóstico veterinário, que terão um espaço próprio; em alguns casos, os proprietários de animais com cancro poderão também aceder à plataforma, cujo acesso é feito através de um código. “No caso dos médicos veterinários serão dados relativos a cada caso oncológico que atendem e, no dos proprietários de animais, será informação sobre o dia-a-dia do seu animal de companhia”, explicou a investigadora do ICBAS Katia Pinello, citada num comunicado divulgado pela Universidade do Porto.

Além do ISPUP e do ICBAS, o registo conta com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) como parceiro institucional. “É um projecto ambicioso porque é em rede”, considera João Niza Ribeiro, argumentando que uma das principais dificuldades será juntar todos os dados que já existem e que foram recolhidos anteriormente de forma avulsa. O investigador diz que o projecto pode vir a ser alargado a grandes espécies, incluindo animais de produção.

O investigador refere que o cancro é frequente em animais e que este projecto ajudará na investigação epidemiológica e também a perceber “coisas simples” da oncologia animal para as quais ainda não se tem resposta. Por agora, o objectivo é dinamizar esta rede, garantir registos e procurar financiamento – numa fase futura, uma das medidas será uma campanha de crowdfunding.

O projecto será lançado oficialmente nesta sexta-feira (às 10h30), numa sessão aberta no Salão Nobre do ICBAS. Pela ligação à saúde humana, o presidente do IPO do Porto, Rui Henrique, também estará presente na sessão de apresentação.

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