Última década foi provavelmente a mais quente desde que há registos

Relatório da Organização Mundial de Meteorologia traça um retrato sombrio do clima no mundo, onde acontecimentos extremos passaram a ser comuns.

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Rui Gaudencio
Gelo a derreter durante uma onda de calor em Kangerlussuaq, na Gronelândia, em Agosto
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Gelo a derreter durante uma onda de calor em Kangerlussuaq, na Gronelândia, em Agosto Reuters

É praticamente certo que a última década foi a mais quente desde que há registos, avisaram vários meteorologistas esta terça-feira, durante a apresentação de um relatório anual da Organização Mundial de Meteorologia (OMM) na cimeira do clima, que decorre em Madrid.

A avaliação anual do estado do clima da Terra expôs o que está em jogo na cimeira que tem o objectivo de melhorar o Acordo de Paris de 2015 para travar o aquecimento global com consequências catastróficas.

“Ondas de calor e cheias que costumavam ser acontecimentos ocorridos ‘uma vez por século’ estão a tornar-se cada vez mais regulares”, disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, através de um comunicado.

“Países desde as Bahamas ao Japão, passando por Moçambique, sofreram os efeitos de ciclones tropicais devastadores. Incêndios florestais espalharam-se pelo Árctico e pela Austrália”, acrescentou.

As conclusões do relatório:

  • As temperaturas médias para períodos de cinco (2015-19) e dez anos (2010-19) são muito provavelmente as mais elevadas desde que há registos;
  • O ano de 2019 está em vias de ser o segundo ou o terceiro mais quente;
  • A água do mar é hoje 26% mais ácida do que no início da era industrial, danificando os ecossistemas marinhos;
  • Os bancos de gelo no Árctico aproximaram-se de um mínimo histórico em Setembro e Outubro, e a Antárctida também registou quebras recorde este ano;
  • As alterações climáticas são um factor crucial para a subida da fome global após uma década de redução contínua, com mais de 820 milhões de pessoas a sofrer escassez alimentar em 2018;
  • Os desastres meteorológicos desalojaram milhões de pessoas este ano e afectaram a evolução das chuvas na Índia, no norte da Rússia e no centro dos Estados Unidos, entre outras regiões.

O relatório também mostra que a subida da temperatura dos mares, conhecida como “ondas de calor marinhas”, responsáveis por devastar a vida subaquática, também se tornou mais comum.

O documento diz que a concentração de CO2 na atmosfera bateu o recorde de 408.7 partes por milhão em 2018 e continuou a subir em 2019. Na abertura da cimeira, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, avisou que 400 partes por milhão chegou a ser considerado um limiar “inimaginável”.

A sucessão de relatórios sombrios da ciência climática nos últimos anos tem promovido uma consciência ambiental mais forte, levando algumas empresas a prometer cortar as emissões e aumentou a preocupação entre investidores acerca da estabilidade dos preços dos activos.

Porém, os delegados em Madrid enfrentam uma batalha dura para convencer os principais emissores a adoptar as mudanças necessárias para recolocar o sistema climático numa trajectória que torne a Terra mais habitável.

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