Manuel Fernandes pensou que Bruno de Carvalho ia despedir Jorge Jesus

Em tribunal, o ex-coordenador do “scouting” do Sporting recordou os episódios do ataque à Academia de Alcochete, em 2018.

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Academia foi atacada em Maio de 2018. LUSA/MÁRIO CRUZ

O antigo futebolista Manuel Fernandes disse, em tribunal, ter pensado que Bruno de Carvalho, ex-presidente do Sporting, se preparava para despedir Jorge Jesus, que era o treinador da equipa de futebol na véspera do ataque à Academia de Alcochete.

“Tivemos uma reunião na véspera [da invasão] e o presidente disse uma frase que me fez pensar que ele se estava a referir ao despedimento do treinador”, afirmou, nesta terça-feira, aludindo à pergunta de Bruno de Carvalho: “Amanhã, vamos estar todos na academia às 16h00 e, aconteça o que acontecer, vocês estão comigo?”.

Também Paulo Cintrão, assessor de imprensa da equipa principal, confirmou a reunião no dia anterior, com Bruno de Carvalho, e disse ter ficado com a mesma sensação de Manuel Fernandes. “Olhámos todos uns para os outros e pensámos: “o Jorge Jesus já foi"”, contou, na sessão da tarde no tribunal.

Ainda na sessão da manhã, Manuel Fernandes, que à data coordenava o departamento de scouting do clube, referiu em tribunal que nem todos os indivíduos que invadiram a academia do clube, em Alcochete, entraram no balneário onde foram agredidos futebolistas e elementos da equipa técnica.

“Penso, pelo aglomerado de pessoas que vi, que houve muitos que não entraram no balneário. Quando entrei no balneário vi quatro ou cinco pessoas de cara tapada a falarem com alguns jogadores, como Rui Patrício, William Carvalho, Battaglia e Acuña”, detalhou.

O antigo internacional português revelou que viu à entrada do balneário “Bas Dost com sangue na cabeça, deitado no chão e a chorar”, acrescentando não ter visto “quem o agrediu” e dizendo, mais tarde, que o avançado holandês “esteve caído no chão 10 ou 15 minutos”.

Manuel Fernandes explicou que, no trajecto entre o seu gabinete, à entrada do edifício, e o balneário, houve um indivíduo, que “levava um cinto na mão” e lhe disse: “Desvia-te, Manel, que isto não é contigo”.

O ex-avançado garante não ter visto agressões, tendo presenciado apenas “gritos e intimidação verbal”, qualificando o momento como “uma coisa muito feia”, e garantiu ainda não ter conseguido identificar nenhum dos agressores e não ter visto Bruno de Carvalho na academia naquele dia, apesar de saber que “ele estava num gabinete, depois de ter chegado com André Geraldes”.

O antigo presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, um dos 44 arguidos do processo, voltou a marcar presença no tribunal de Monsanto, mas não prestou qualquer declaração aos jornalistas.

O julgamento prossegue nesta quarta-feira, com a audição a Raul José e Miguel Quaresma, que integravam a equipa técnica de Jorge Jesus, e de Nélson Pereira, que era o treinador de guarda-redes.

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