O impeachment de Trump mudou de sítio, mas a Casa Branca continua a evitá-lo

Com a chegada do processo à Comissão de Justiça, a acusação formal contra o Presidente norte-americano deverá ser conhecida nas próximas duas semanas. Advogado da Casa Branca rejeita convite para a próxima sessão e denuncia “violação dos princípios básicos da Justiça”.

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Na quarta-feira, o Presidente norte-americano vai estar na cimeira da NATO em Londres Reuters/JONATHAN ERNST

Depois de umas curtas férias para comemorar o Dia de Acção de Graças em família, num clima anunciado de alegria e concórdia, os congressistas do Partido Democrata e do Partido Republicano retomam esta semana a luta azeda no processo de destituição do Presidente Donald Trump com um dia em que vão sobressair algumas cadeiras vazias. Esta segunda-feira, o advogado principal da Casa Branca, Pat Cipollone, escreveu ao Partido Democrata para dizer que nem ele, nem o Presidente Trump, aceitam o convite para participarem “num processo que não tem o menor vestígio de justiça”.

A resposta da Casa Branca ao convite da Comissão de Justiça da Câmara dos Representantes não foi uma surpresa e serviu apenas para confirmar as estratégias que os dois lados definiram para lidar com o processo nas próximas semanas.

No lado do Partido Democrata, a ideia é finalizar rapidamente as audições na Câmara dos Representantes e aprovar uma acusação formal contra o Presidente Trump antes das férias do Natal. Para a Casa Branca, a melhor resposta é manter as portas fechadas a qualquer hipótese de colaboração com a câmara baixa do Congresso, deixando que sejam os congressistas do Partido Republicano nas comissões de investigação a defenderem o Presidente – com a contra-acusação de que o Partido Democrata só abriu um processo de destituição porque ainda não conseguiu engolir a vitória de Donald Trump nas eleições de 2016.

E se as audições às testemunhas de matéria de facto, que aconteceram em Novembro, puseram em evidência o elevado grau de animosidade entre os congressistas dos dois partidos, a primeira audição desta nova fase, na quarta-feira, promete ser ainda mais conturbada.

Republicanos invadiram sessão

Agora que o processo passou para a Comissão de Justiça, depois de dois meses na Comissão de Serviços Secretos, vai ser possível ver em acção alguns dos mais fervorosos apoiantes do Presidente Trump na Câmara dos Representantes, como Matt Gaetz ou Greg Steube – dois dos mais de 20 republicanos que invadiram a sala onde decorriam as audições à porta fechada, em Novembro, num protesto inédito no Congresso e em que foram violadas regras básicas de segurança quando os congressistas entraram com os seus telemóveis num espaço muito cobiçado pelas agências de espionagem internacionais.

Na quarta-feira, num ambiente que promete dividir ainda mais o país, os 41 congressistas da gigantesca e poderosa Comissão de Justiça vão ouvir as posições de quatro peritos na Constituição dos EUA – três convocados pelo Partido Democrata e um pelo Partido Republicano.

O seu trabalho: dizer aos congressistas, e aos eleitores através deles, o que significa o impeachment no sistema norte-americano e se o Presidente Trump merece ser afastado da Casa Branca por causa das suas acções nos últimos meses em relação à Ucrânia.

O líder da Comissão de Justiça, o democrata Jarrod Nadler, tinha perguntado à Casa Branca se queria participar nesta fase do processo, estendendo o convite ao próprio Presidente Trump. A resposta chegou à caixa de correio de Nadler no domingo e foi revelada esta segunda-feira.

“Como sabe, este inquérito sem fundamento e altamente partidário viola todos os precedentes históricos, os direitos mais básicos e os princípios da Justiça”, disse Pat Cipollone, repetindo, por outras palavras, as acusações que o Presidente Trump tem feito, no Twitter, de que está a ser alvo de uma “caça às bruxas” e de um “embuste”.

E a Casa Branca reforçou as suas queixas quando se percebeu que no dia da próxima audição, para a qual o Presidente foi convidado, Donald Trump estará em Londres para participar na cimeira da NATO.

“Vou a caminho da Europa para representar o nosso país e para lutar arduamente pelo povo americano, enquanto os democratas marcaram, de propósito, uma audição no embuste do impeachment para o mesmo dia da NATO. Não é bonito!”, disse o Presidente norte-americano, esta segunda-feira, no Twitter.

É possível que a Comissão de Justiça venha a questionar mais testemunhas na próxima semana, mas a sua tarefa começa a ficar refém da falta de tempo. Na terça-feira, vai receber o relatório sobre o trabalho feito nos últimos dois meses pela Comissão de Serviços Secretos, e é com base nesse documento que vai decidir duas coisas – se o Presidente deve ser destituído e, se a resposta for sim, que crimes cometeu ele para merecer essa punição.

Para que essa acusação formal possa ser votada pelos 435 congressistas de ambos os partidos até às férias do Natal, o trabalho da Comissão de Justiça terá de ficar concluído na semana que começa a 16 de Dezembro. Depois disso, após a aprovação esperada pela maioria do Partido Democrata na Câmara dos Representantes, o processo passa para o Senado, que deverá julgar o Presidente Trump ao longo do mês de Janeiro de 2020.

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