Alterações climáticas forçam 20 milhões de pessoas por ano a deixarem as suas casas

O alerta é dado pela organização Oxfam no dia em que começa a COP-25. É “três vezes mais provável que alguém seja forçado a deixar a sua casa por ciclones, inundações ou incêndios florestais do que por conflitos”.

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As inundações, ciclones e incêndios florestais podem levar a que as pessoas tenham de abandonar as suas casas, mais do que por razões de conflito Nelson Garrido

Os desastres climáticos tornaram-se a principal causa da deslocação de pessoas em todo o mundo na última década e forçaram mais de 20 milhões por ano a deixarem as suas casas, alertou a organização não-governamental internacional Oxfam nesta segunda-feira.

A organização apresentou o relatório com o título Obrigados a deixar as suas casas, coincidindo com o dia em que começa, em Madrid, a Conferência das Nações Unidas sobre o Clima, que se prolonga até dia 13 e abordará temas como o apoio financeiro às comunidades afectadas pelos desastres naturais, inclusive aos deslocados afectados pela crise climática.

O documento da Oxfam adverte que actualmente é “três vezes mais provável que alguém seja forçado a deixar a sua casa por ciclones, inundações ou incêndios florestais do que por conflitos, e até sete vezes mais do que por terramotos ou erupções vulcânicas”.

Segundo a ONG, que analisou dados de 2008 a 2018, Espanha é o terceiro país da Europa, depois da República Checa e da Grécia, com maior risco de a sua população ser forçada a deslocar-se por desastres provocados pelo clima.

Cidadãos mais pobres são mais vulneráveis

Em particular, a Oxfam destacou no relatório que os mais vulneráveis são os cidadãos dos países pobres, que, apesar de serem “os que menos contribuíram para a poluição causada pelo CO2, são os que estão em maior risco”.

De acordo com a organização, o impacto da crise climática no mundo é desigual e a população dos países de rendimento médio-baixo e baixo, como Índia, Nigéria e Bolívia, tem quatro vezes mais probabilidades de ser forçada a deslocar-se como resultado de desastres naturais do que a que vive em países ricos, como os Estados Unidos.

Além disso, sete dos dez países com maior risco de movimentos internos de populações resultantes de fenómenos meteorológicos extremos são pequenos Estados insulares em desenvolvimento.

Entre 2008 e 2018, em média, cerca de 5% da população de Cuba, República Dominicana e Tuvalu foi obrigada a deslocar-se em cada ano devido às condições climáticas extremas, o equivalente a quase metade da população de Madrid”, disse a Oxfam, acrescentando que as emissões per capita destas zonas são “um terço das dos países de rendimento elevado”.

O director executivo interino da Oxfam International, José María Vera, disse que são as “pessoas mais pobres, dos países mais pobres, que pagam o preço mais alto”.

Na conferência sobre o clima, espera-se que a ONU conclua a primeira revisão do Mecanismo Internacional de Varsóvia para Perdas e Danos, e ainda que os países em desenvolvimento “impulsionem a criação de um novo fundo para ajudar as comunidades a recuperarem-se e a reconstruírem os seus bens após as emergências climáticas”.

“Os governos podem e devem tornar a Cimeira de Madrid importante. Devem comprometer-se a reduzir as emissões mais rapidamente e com mais força e a criar um novo fundo para perdas e danos que ajudará as comunidades pobres a recuperarem-se das consequências dos desastres climáticos”, concluiu José María Vera.

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