Capital do Natal em Algés: utentes falam em fraude, organização diz que foram criadas falsas expectativas

Na manhã desta segunda-feira, a Unión de Consumidores de Extremadura, de Espanha, recebeu mais de 100 chamadas a reclamar do evento dedicado ao Natal, que abriu em Algés, às portas de Lisboa, na sexta-feira. Acusam os promotores de “publicidade enganosa” e pedem os reembolsos dos bilhetes. Organização confirma “alguns pedidos de reembolso, nomeadamente de espanhóis”.

Foto
A Capital do Natal inaugurou na passada sexta-feira Francisco Romão Pereira

Prometia ser uma “recriação total da Lapónia”, com direito a Pai Natal, elfos e neve “a sério”, mas é a desilusão que marca o arranque da Capital do Natal, o primeiro Christmas Fun Park da Europa e o maior evento do país dedicado ao Natal, como anunciavam os seus promotores. O parque abriu na passada sexta-feira em Algés, concelho de Oeiras, às portas de Lisboa, e desde então têm chovido críticas ao recinto, às actividades ali promovidas e à própria decoração do espaço, com os visitantes - muitos deles espanhóis - a afirmarem sentir-se enganados e vítimas de “publicidade enganosa”. Organização diz que entidades em Espanha “veicularam informação incorrecta sobre o evento”.

Rute Brás costuma marcar presença nestas feiras de Natal, por isso quando viu a publicidade ao evento tratou logo de comprar bilhetes para si e para o filho de dez anos. No sábado saiu de Vila do Conde em direcção à Capital do Natal, mas o que viu deixou-a “totalmente desiludida”. “Era uma desorganização total. Não há magia do Natal. Não vi elfos, não ouvi música de Natal, nem iluminação”, conta. Além da falta de animação do espaço, o piso “estava horrível”, enlameado.

As atracções como a roda gigante, o escorrega ou a pista de gelo estavam “com filas de duas horas”. “Eu não me importava de esperar numa fila de duas horas se houvesse espírito natalício à volta, com música, animação, o que não havia. Tinha que haver mais figurantes”, repara. Segundo conta Rute Brás, acabou por ficar nem uma hora no parque porque o filho lhe pediu para ir embora e saiu sem apresentar nenhuma reclamação, ainda que se tenha sentido “roubada”. “Vou a todas as feiras. Foi o bilhete mais caro que paguei e o pior onde já fui. Nem de graça lá voltava”.

Uma família de Santarém contou ao PÚBLICO que visitou o espaço logo no dia de abertura. “Primeira impressão: isto não é o que parece. Olha-se em volta e percebemos que se trata de um fiasco total. Percebemos que existe a roda gigante, os escorregas, a tenda do gelo e pouco mais salta à vista. Se pudesse voltávamos logo para trás”, contam, por escrito. “A tenda do gelo é uma desilusão, com meia dúzia de figuras em gelo. Quando nos entusiasmamos, eis que termina. Neve que anunciam com pompa e circunstância? Totalmente falso. Ficou assim o prejuízo, não tendo outra palavra para avaliar, em 115 euros ... três adultos e uma criança.” 

Esta família também acabou por não apresentar qualquer reclamação. A associação de defesa do consumidor Deco disse esta segunda-feira que, até ao momento, não tinha recebido qualquer reclamação sobre a Capital do Natal, mas diz estar a acompanhar o caso. 

Além das críticas dos portugueses, são, sobretudo, os visitantes espanhóis que aproveitaram o fim-de-semana para visitar o parque, que deixam os reparos mais duros à organização. O que encontraram, dizem, não corresponde ao que era veiculado nas imagens promocionais que anunciavam o evento. 

“Gostaria de dizer que este parque é uma fraude, um engano, publicidade enganosa”, escreve uma visitante espanhola na página de Facebook da Capital do Natal, lembrando a “má organização, as filas intermináveis” e a falta de ambiente de Natal. “Fazem-se 300 quilómetros, paga-se uma entrada familiar de 88 euros, hotel e a comida no parque é caríssima, tendo em conta que não pensaram que poderia haver crianças celíacas. Num curto espaço de tempo, estavam sete espanhóis a escrever reclamações. Lamentável”, escreveu esta visitante.

Foto
Uma das imagens promocionais difundidas antes da inauguração do evento

Ao final da tarde desta segunda-feira, a organização reagiu em comunicado, afirmando ter tido conhecimento que “algumas entidades em Espanha, como blogues e agências de viagem, veicularam informação incorrecta sobre o evento, como por mero exemplo a existência de pistas de ski com neve”. “Esta acção acabou por criar falsas expectativas a alguns visitantes e afectou negativamente a sua experiência no parque, o que deu origem a um conjunto de queixas e comentários negativos nas redes sociais”, notam os promotores. Segundo a Christmas Fun Park, as críticas não afectaram, até ao momento, a venda de bilhetes e esclarece que está “a responder individualmente a todas as queixas e comentários negativos e a avaliar as formas possíveis de resolver as situações reportadas”.

Mais de 100 queixas numa manhã

Contactada pelo PÚBLICO, a Unión de Consumidores de Extremadura (UCE), uma associação de defesa dos consumidores espanhola, disse que durante a manhã desta segunda-feira recebeu “mais de 100 chamadas” com reclamações visitantes que moram sobretudo na região espanhola da Extremadura, mas também na Andaluzia. 

Fonte da associação disse ainda que já remeteu à empresa responsável pelo evento, a Christmas Fun Park, uma reclamação escrita por email, a exigir o reembolso dos bilhetes dos queixosos. A UCE entende que há “publicidade enganosa, porque na publicidade que a empresa fez do evento constam serviços e instalações que o parque não tem”. 

Foi entretanto criado um grupo de Facebook de presumíveis “lesados” — “Capital do Natal Estafa”, assim se chama — e uma petição, que reunia, por volta das 18h mais de 2100 assinaturas, onde os subscritores pedem mesmo o encerramento do parque.

Ao PÚBLICO João Godinho, um dos promotores do evento, confirmou que a empresa tem recebido “alguns pedidos de reembolso, nomeadamente de espanhóis”. No comunicado, a organização diz ainda que esta é a primeira edição do evento e que até ao último dia continuará “a melhorar ainda mais a experiência dos nossos visitantes”.

Quanto aos tempos de espera, considera que “num parque temático que acolhe diariamente milhares de visitantes por dia” é “normal” que existam. “Vamos, obviamente, continuar a procurar optimizar a forma como o público acede aos equipamentos”, escrevem. 

Os promotores refutam ainda as acusações de más condições para os animais no recinto, como têm sido veiculadas algumas fotografias pelas redes sociais, com as renas deitadas no chão molhado e enlameado, dentro de uma cerca de madeira. “As renas – tal como todo o Parque — estão devidamente licenciadas pelas autoridades competentes. As renas pertencem, de resto, à entidade Burros do Magoito, uma entidade idónea e fidedigna, conhecida pelo tratamento exemplar que dá aos seus animais”. 

De acordo com a agência de notícias espanhola EFE, a localidade de Villanueva del Fresno, um dos muitos municípios que tinha organizado excursões, suspendeu a viagem prevista para o próximo 21 de Dezembro. “Depois de comprovar que o parque temático Capital do Natal, para o qual estava previsto uma excursão, não cumpre nem as mais mínimas expectativas, e depois de nos termos posto em contacto com várias pessoas que já visitaram este parque, vemo-nos obrigados a cancelar esta excursão”, informou através das redes sociais.

O evento decorre até 12 de Janeiro no Passeio Marítimo de Algés, num espaço que se estende por cerca de 72 mil metros quadrados. O parque está aberto de segunda a quinta-feira, as 12h às 23h, à sexta e sábado das 10h à meia-noite e aos domingos das 10h às 23h. Os bilhetes, que aqui levam o nome de passaportes, custam 25 euros para crianças dos três aos 12 anos e seniores e 30 euros para adultos.

Notícia actualizada às 20h38: Acrescenta resposta da empresa promotora da Capital do Natal

Sugerir correcção
Ler 66 comentários