Cabeça de lista do PS-Braga renuncia ao mandato com críticas à concelhia do partido

Miguel Corais pede mudança nos comportamentos daqueles que estão á frente do partido em Braga. Ex-vereador pede transferência de militância para o Porto.

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Miguel Corais liderou a lista do PS à Câmara de Braga em 2017

Miguel Corais já não é vereador do PS na Câmara de Braga. O socialista Miguel Corais renunciou esta segunda-feira ao cargo alegando “falta de condições políticas” para cumprir o mandato para o qual foi eleito em 2017. A dimensão da ruptura com a concelhia local do partido é de tal ordem que pediu a sua transferência de militância de Braga para o Porto.

A renúncia ao lugar de vereador acontece dez meses depois de Miguel Corais ter suspendido o mandato. “Pedi a suspensão do mandato na expectativa de que as pessoas que dominam a concelhia do PS de Braga alterassem os seus comportamentos que não se identificam com os valores do PS”, afirmou ao PÚBLICO o socialista, lamentando que os dez meses em que esteve com o mandato suspenso não tivessem sido aproveitados pelo partido para fazer mudanças. “Era uma oportunidade para o PS mudar”, declara.

“Renuncio [ao mandato] pela falta de condições geradas pelo PS-Braga, uns por acção e outros por omissão, para o desempenho pleno desse mesmo papel, rasgando simbolicamente os compromissos eleitorais a que nos propusemos, prescindindo de ser a ‘Verdadeira Mudança’ e o que esta significava”, escreve o ex-vereador em comunicado no qual explica que não foi possível dar prioridade a questões importantes como é “o futuro da cidade, o respeito pelos eleitores e os compromissos eleitorais, a lealdade, a gratidão e uma conduta moral irrepreensível, servindo acima de tudo os interesses bracarenses de forma desinteressada”.

Assumindo que sai “fora de lógicas táctico-partidária dominadas por alguns interesses pessoais e atropelos que descredibilizam a política, os seus actores, a democracia, os partidos perante a sociedade bracarense”, o socialista dá conta que a decisão de abandonar o executivo foi tomada “após muita reflexão”.

No longo comunicado fala do “difícil” processo de escolha do candidato à câmara e garante que na base da renúncia estão “razões profissionais e razões políticas”. “Dada a seriedade com que encaro a renúncia a um mandato de vereador, após ter sido o candidato indicado pelo PS a presidente da Câmara de Braga (…) e por respeito aos eleitores, sinto-me obrigado a explicá-la de forma transparente e inequívoca”, justifica.

O facto de ter sido eleito por sufrágio universal, diz, impede-o de tratar do assunto de forma interna no PS. “Compete-nos honrar a confiança depositada pelos eleitores bracarenses”, afirma em jeito de justificação, ao mesmo tempo que esgrime as razões que o levaram a candidatar-se em 2017. “Senti um dever moral”, partilha o ex-autarca, recordando as difíceis condições em que foi candidato com as sondagens a darem ao PS entre 15% a 17% nas intenções de votos dos portugueses.

“Confesso que nunca esperei ao aceitar um convite para liderar a lista do Partido Socialista, num contexto muito difícil e em cima da hora, receber uma ingratidão imensa, uma deslealdade total e uma falta de solidariedade. Sou daqueles que acredito, cada vez mais, que os comportamentos valem mais do que as palavras. O carácter de cada um é espelhado nos seus actos”, observa Corais, frisando que “ser democrata, ser socialista é defender o interesse público, o que na verdade nos distingue são os nossos comportamentos em detrimento das palavras”.

Contactado pelo PÚBLICO, o presidente da concelhia do PS-Braga, Artur Feio, mostra-se surpreendido pela forma como Miguel Corais se refere ao partido na hora de renunciar ao mandato autárquico. “É absolutamente surpreendente para mim a forma como se refere ao PS de Braga e remeto para ele qualquer justificação”, declara Artur Feio, insinuando que Miguel Corais “gostaria que houvesse uma vaga de fundo para que ele voltasse”.

Apesar das “divergências políticas”, Artur Feio reconhece “grandes capacidades” em Miguel Corais e considera mesmo que “é um grande quadro do PS e pode contribuir muito para o partido”. No entanto, o líder concelhio e número dois da lista do PS à Câmara de Braga nas últimas autárquicas deixa implícito nas declarações ao PÚBLICO que o socialista “talvez quisesse criar uma cisão no PS com a sua saída”.

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