Ao sair de cena, Juncker e Tusk apelaram aos respeito pelos valores europeus

Antes de abandonar o palco, Jean-Claude Juncker confirmou que terminava ali a sua carreira política, uma das mais longas da História europeia.

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Jean-Claude Juncker: “Cuide bem da Europa” LUSA/OLIVIER HOSLET

No momento da despedida, após cinco anos no cargo de presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker não resistiu a exprimir a sua preocupação com o facto de valores fundamentais da União Europeia não estarem a ser respeitados em alguns dos Estados que compõem a União Europeia. “Em mais do que um país, as regras do Estado de Direito não estão a ser integralmente cumpridas”, lamentou Juncker, sem nomear os transgressores.

A sua sucessora, Ursula von der Leyen, inicia o mandato no domingo. Esta sexta-feira, Juncker não lhe deixou instruções escritas, nem acho necessário dispensar-lhe conselhos, “muito menos em público”. Só lhe fez um pedido: “Cuide bem da Europa”, um apelo que, aliás, alargou a todos os líderes europeus, entre os quais o polaco Donald Tusk, que do outro lado da rua, no edifício do Conselho, acabara de passar o testemunho ao belga Charles Michel, deixando-lhe nas mãos o sino com que o presidente do Conselho Europeu assinala o início das cimeiras de chefes de Estado e governo.

“Nos últimos cinco anos tive o privilégio de servir a Europa. Não uma ideia abstracta, mas povos e nações, com interesses comuns. A Europa é o melhor lugar da Terra, enquanto for o continente da liberdade e do Estado de Direito, uma comunidade consciente da sua história e da sua cultura”, afirmou Donald Tusk, tão preocupado quanto Juncker com os desvios autoritários e nacionalistas no seio da UE.

A nova presidente da Comissão e o novo presidente do Conselho vão assinalar ao lado do presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, e da presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, o início do seu mandato e do novo ciclo institucional, numa cerimónia na Casa da História Europeia que servirá também para marcar o décimo aniversário da entrada em vigor do Tratado de Lisboa.

Numa breve mas emocionada aparição final na sala de imprensa da Comissão Europeia — “Não vim aqui para vos agradecer”, avisou Juncker, perante o aplauso dos jornalistas — o veterano político luxemburguês não quis perdeu tempo com balanços ou revelações. Sempre de forma sucinta, limitou-se a reconhecer alguns arrependimentos e a assinalar erros que espera possam ser corrigidos. Um deles tem a ver com a selecção do presidente da Comissão Europeia: Juncker espera que os Estados membros não desistam do processo de cabeças de lista conhecido pelo nome em alemão de spitzenkandidaten, e que apenas vingou em 2014, quando ele próprio foi eleito chefe do executivo comunitário.

Antes de abandonar o palco, Jean-Claude Juncker confirmou que terminava ali a sua carreira política, uma das mais longas da História europeia. E como homem que não gosta de despedidas, fintou todos os que esperavam poder prendê-lo por mais uns minutos, para cumprimentos e selfies. “Estou cheio de fome. Vou almoçar”, disse, antes de escapar.

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