Demissões em série no Governo de Malta ao ser investigado assassínio de jornalista

O ministro do Turismo e o chefe de gabinete do primeiro-ministro demitiram-se, enquanto a ministra da Economia suspendeu funções. O escândalo do assassinato da jornalista Daphne Caruana Galizia continua a abalar o mais pequeno país da União Europeia.

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Mural com o primeiro-ministro ao centro, Keith Schembri à esquerda e Konrad Mizzi à direita Guglielmo Mangiapane/REUTERS

Keith Schembri, chefe de gabinete do primeiro-ministro maltês, Joseph Muscat, demitiu-se esta terça-feira e foi interrogado no âmbito da investigação ao assassínio da jornalista Daphne Caruana Galizia, enquanto dois ministros do Governo também se afastaram por causa do escândalo que há dois anos abala o mais pequeno país da União Europeia.

Muscat disse aos jornalistas que o seu chefe de gabinete se demitiu porque a polícia avançou na investigação sobre o homicídio de Caruana Galizia, em 2017, que investigava casos de corrupção de políticos relacionados com o escândalo dos Panama Papers. E, horas depois, o ministro do Turismo, Konrad Mizzi, também anunciou a demissão e o ministro da Economia, Christian Cardona, suspendeu as suas funções até as investigações ao homicídio estarem concluídas.

Tanto Mizzi como Cardona negaram qualquer envolvimento na morte de Caruana Galizia, uma jornalista de investigação que denunciou recorrentemente a corrupção ao mais alto nível do Governo da ilha mediterrânea, até ter sido morta num atentado que fez explodir o seu carro. 

Schembri e Mizzi foram dois dos políticos que Caruana Galizia tinha acusado de corrupção - coisa que ambos negaram sempre.A polícia fez esta terça-feira buscas na casa de Schembri, dizem fontes citadas pelas reuters, sem darem mais pormenores. Nem Schembri nem o seu advogado estiveram disponíveis para comentar.

Schembri e Mizzi têm sido pressionados para se demitir por políticos da oposição e pela família de Caruana Galizia, por alegadas ligações financeiras ao empresário Yorgen Fenech, detido na semana passada por ser considerado pessoa de interesse para a investigação do homicídio. Cardona foi no sábado brevemente interrogado pela polícia por ligações ao caso.

O alegado intermediário da conspiração do homicídio foi Melvin Theuma. Recebeu esta segunda-feira um perdão presidencial em troca de provas que pudessem ser usadas em tribunal. A imprensa local relatou que entregou gravações áudio.

“O que está agora a acontecer, e o que aconteceu na semana passada, é uma operação que se espera que resolva o homicídio de Daphne Caruana Galizia”, disse Muscat à Reuters. “Diga-se o que se disser, não há impunidade neste país”.

Muscat é amigo próximo de Schembri e tem rejeitado apelos para a sua demissão desde que vieram ao de cima alegações de corrupção, já há alguns anos. Schembri sempre negou qualquer ilegalidade.

“Tempos turbulentos”

Três homens aguardam julgamento por terem plantado a bomba que matou Caruana Galizia e fontes policiais dizem que a investigação sobre quem realmente ordenou a sua morte fez grandes avanços na última semana.

Nem Fenech nem o seu advogado fizeram qualquer declaração desde a detenção de Theuma.

Uma investigação da Reuters do ano passado revelou que Fenech era dono de uma empresa secreta chamada 17 Black, referenciada em e-mails como veículo para financiar empresas secretas no Panamá, propriedade de Schembri e Mizzi. Não se sabe, no entanto, se as empresas mudaram de mãos.

Schembri, que tem muitos interesses empresariais, e Mizzi sempre negaram qualquer ilegalidade.

Políticos da oposição e familiares de Caruana denunciaram Muscat por permitir que os dois homens continuassem nos seus postos e pediram-lhe que se demitisse. “Muscat, que passou três anos a aceitar toda a responsabilidade por Schembri, deve demitir-se de imediato. Simplesmente não se pode confiar que ele não obstrua a justiça. Já o fez por demasiado tempo”, escreveu no Twitter o filho de Caruana Galizia, Mathew.

Um plenário ordinário do Parlamento foi esta terça-feira suspenso quando os deputados da oposição invadiram a bancada do Governo chamando-lhe “máfia”. Por sua vez, Muscat diz não ter a intenção de apresentar a demissão. “O meu papel neste momento é garantir que o país tem uma liderança estável. O meu papel é garantir que ultrapassamos estes tempos turbulentos”, disse à Reuters.

Era comum Caruana Galizia escrever histórias no seu blogue que visavam membros do Governo de Muscat, incluindo Schembri e Mizzi. Seis meses depois da sua morte, os dois homens disseram que a iam processar pelas alegações que fez sobre o seu envolvimento em práticas de corrupção.

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