Mamadou Ba deixa o Bloco em “divergência profunda”, renegando aquilo em “que o partido se tornou”

Decisão já tinha sido tomada em Janeiro, no rescaldo dos acontecimentos do Bairro Jamaica. “O meu partido ficou aquém do que era exigível fazer”, justificou ao PÚBLICO.

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Mamadou Ba Mario Lopes Pereira

O assessor do Bloco de Esquerda e dirigente do SOS Racismo, Mamadou Ba, anunciou que abandona o partido nesta segunda-feira devido a uma “profunda divergência” com aquilo em que “se tornou ao longo do tempo”. Na base da decisão está a forma como o Bloco lidou com o episódio de violência entre polícias e habitantes no Bairro Jamaica, no Seixal, em Janeiro.

Mamadou Ba saltou para a polémica quando publicou um texto na rede social Facebook em que falava da “violência policial” no bairro e dos confrontos do dia seguinte, em Lisboa, usando a expressão “a bosta da bófia” para qualificar a actuação das autoridades.

Numa nota enviada à comunicação social nesta manhã, Mamadou Ba diz que formaliza nesta segunda-feira a desvinculação do Bloco “depois de uma decisão tomada em Janeiro deste ano, no rescaldo dos acontecimentos do Bairro Jamaica”. 

Questionado pelo PÚBLICO, o ex-assessor do BE na Assembleia da República e activista limitou-se a dizer que no caso da violência entre polícias e habitantes do bairro “a nossa democracia ficou aquém do que exigível. O meu partido também ficou e eu não podia continuar a concordar com isso.” Não quis fazer qualquer outro comentário.

“A minha desvinculação resulta de uma profunda divergência, pois o que renego não é o projecto que deu origem ao Bloco, mas no que o partido se tornou ao longo do tempo”, justifica o activista na nota enviada. E promete: “Continuarei empenhado na luta política a partir da mobilização social e da militância anti-racista.”

Mamadou Ba integrou o Bloco de Esquerda desde a sua fundação. “Nesses 20 anos, para além da da militância, partilhei responsabilidades colectivas enquanto membro da Mesa Nacional, da Comissão de Direitos e da Coordenadora Concelhia de Lisboa”, descreve.

Por volta das 7h30 daquele domingo, 20 de Janeiro, a PSP foi chamada ao Bairro Jamaica devido a desacatos entre moradoras, mas acabou envolvida nas agressões. As cenas de violência foram filmadas por moradores e pouco depois foram divulgadas nas redes sociais, nomeadamente pela deputada do Bloco Joana Mortágua. Ficaram feridos sem gravidade cinco civis e um agente da PSP, que foram assistidos no Hospital Garcia de Orta, em Almada, e acabou detido um dos moradores, constituído depois arguido pelo crime de resistência e coacção sobre funcionário e ficou sujeito a termo de identidade e residência.

No dia seguinte, uma manifestação na Avenida da Liberdade, em Lisboa, que pretendia condenar a violência do dia anterior, terminou também com confrontos entre manifestantes e polícias e a detenção de quatro pessoas. Entretanto, a PSP e o Ministério Público abriram inquéritos à denúncia de violência policial no Bairro da Jamaica.

O caso acabou por contagiar a margem Norte, onde nas noites seguintes se registaram distúrbios nos concelhos de Loures, Odivelas, e alastrou-se a Setúbal. Dias antes de receber os polícias, Marcelo Rebelo de Sousa foi ao Bairro Jamaica, o que motivou o protesto dos sindicatos da PSP, considerando que o Presidente tinha tomado parte por um dos lados do problema. Mamadou Ba e Joana Mortágua foram acusados de incitarem à violência e de colocarem a população contra a polícia. 

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