Livre volta a corrigir Joacine, mas não retira confiança a deputada

O partido esteve reunido durante aproximadamente oito horas este domingo. Em comunicado, Livre garante que continua unido e compromete-se a focar-se no programa eleitoral. Documento desmente tese de que candidatura da deputada não teve apoio da direcção.

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Livre assumiu "dificuldades de comunicação", mas garantiu que está a ser feito trabalho "em conjunto para as resolver" LUSA/RODRIGO ANTUNES

Depois de um fim-de-semana de troca de acusações entre a direcção do Livre e Joacine Katar Moreira, o partido emitiu um comunicado onde afasta a tese de que a deputada não tem o apoio da direcção, conforme a própria se tinha queixado, e reiterou um voto de agradecimento a todos aqueles que contribuíram para a eleição da deputada.

Num comunicado enviado ao PÚBLICO após a conclusão da reunião da assembleia do Livre, o partido repetiu as palavras de Rui Tavares e diz-se perplexo com os acontecimentos que marcaram os últimos dias.

“Assumimos as dificuldades de comunicação e queremos garantir que estamos a trabalhar em conjunto para as resolver, reafirmando que o partido continua unido e focado em torno do seu programa político e eleitoral”, garante a nota.

No mesmo documento, é ainda reiterada a posição, “estabelecida ao longo dos seis anos de existência do partido, na defesa dos Direitos Humanos e subscrevendo os princípios do Direito Internacional contra os colonatos ilegais na Palestina”.

Já ao início desta tarde, à entrada para a reunião, o fundador do Livre Rui Tavares prometeu o regresso à trilha de um “partido sério e empenhado nos verdadeiros temas”, mas a fricção entre o Livre e a sua única deputada eleita Joacine Katar Moreira não parece ter abrandado.

“Quero deixar uma mensagem a todos aqueles que votaram no Livre, seguem a política portuguesa, a todos os nossos concidadãos: é a de que sei que muitos estão perplexos e quero que tenham consciência de que nós também estamos”, declarou.

Já Joacine Katar Moreira também garantiu que é “absolutamente impossível” desvincular-se do partido, reforçando que vai “cumprir absolutamente” o mandato de quatro anos. “É aqui onde eu hei-de estar, é aqui onde eu estou e aqui onde irei obviamente cumprir absolutamente o que me foi mandatado”, declarou a deputada antes de entrar na sede do partido, da qual sairia horas depois, sem mais comentários aos jornalistas.

Depois do comunicado da direcção do partido ter afirmado que estava “preocupado” com o sentido de voto da deputada — uma vez que não não reflectia as tomadas de posição oficiais do partido sobre a questão palestiniana — Joacine Katar Moreira afirmou que a “abstenção não se deveu a uma falta de consciência ou descaso desta grave situação, mas à dificuldade de comunicação” com a actual direcção do Livre, da qual é parte integrante, para além de deputada única do partido. “Foram três dias de contacto infrutífero para saber dos posicionamentos da direcção relativos ao sentido de voto das propostas que nos chegaram, onde esta constava”, disse numa nota enviada ao PÚBLICO. Por não saber qual a posição da direcção do Livre decidiu abster-se, justificou. A justificação não convenceu a direcção e a troca de ataques continuou.

O encontro da assembleia do partido já estava agendado antes de a polémica dominar o dia de ontem. A troca de acusações começou através de comunicados, primeiro do Livre e depois de Joacine Katar Moreira, e terminou com a deputada a dizer que não sentia apoio por parte da direcção do partido e do seu fundador, Rui Tavares. “Fui eu que ganhei as eleições, sozinha, e a direcção quer ensinar-me a ser política”, disse em declarações ao jornal Observador, à margem de um jantar comemorativo do aniversário do partido este sábado, em Lisboa.

No sábado, Joacine Katar Moreira atirava as responsabilidades da discussão pública para o partido e diz que a troca de comunicados poderia ter sido evitada, se o Livre não tivesse avançado com o primeiro comunicado, uma vez que a direcção do partido tinha encontro marcado. 

Posteriormente, Pedro Nunes Rodrigues, da direcção do Livre assegurou à Lusa que nunca foi pedido pelo gabinete de Joacine Katar Moreira qualquer apoio específico no voto sobre a Palestina, mas adiantou que o partido continuará a trabalhar com a deputada “para que a legislatura corra da melhor forma, sem problemas de comunicação”.

Apesar da tensão que domina o Livre, a deputada garantiu que tem “interesse” em manter uma boa relação com a direcção do partido, “quer ao nível da relação institucional, quer ao nível da responsabilização”, ainda que ressalve que até agora isso “nunca aconteceu”. E aponta a idade do partido, que este sábado celebrou o 6.º aniversário: “Ainda estamos em aprendizagem”, disse ao Observador.

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