No Dubai, “tudo se reinventa” — e Pauliana retratou um país “surreal”

Pauliana Valente
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Pauliana Valente

Na primeira vez que esteve no Dubai, em 2015, Pauliana Valente Pimentel quase não conseguiu fotografar. O mês que lá passou, durante o Inverno, gastou-o a conhecer pessoas e a conquistar a confiança delas. Focou-se nos costumes, nos monumentos e nas paisagens daquele emirado árabe onde “não há nada, mas tudo se reinventa”. Do deserto fazem-se cidades inteiras com recurso a mão-de-obra imigrante, centros comerciais sem fim (e ar condicionado igualmente sem fim), bairros com relvados verdejantes, arranha-céus a piscar o olho aos livros de recordes. Tudo com temperaturas difíceis de suportar. “Há uma fotografia minha em que se vê uma sebe verde, trabalhada, que tem quilómetros”, relata, ainda incrédula. Essa é uma das 19 imagens integrantes da exposição Empty Quarter #2 (Rub Al’Khali), que se inaugura este sábado, 23 de Novembro, na galeria Sala 117, no Porto.

Pauliana — que este ano já expôs no Porto como resultado de uma residência artística nos Maus Hábitos — não tinha qualquer ideia sobre o Dubai. “Não sabia nada sobre o país, nem sequer me atraía particularmente”, confessa. Mas rapidamente mudou de ideias. “Interessou-me perceber quem são os dubaienses, como vivem, as tradições locais que mantêm (e que não são muitas).” Da primeira viagem, há mais de quatro anos, resultou uma pequena exposição n’O Apartamento, em Lisboa; agora, a essas peças Pauliana junta novas fotografias e um vídeo, dispersos numa “galeria lindíssima”, um open space em tons de cinzento, que lhe faz lembrar os espaços expositivos que viu no Dubai.

De volta ao emirado, desta feita em 2017, a lisboeta — que tem no portfólio vários trabalhos desenvolvidos com jovens, como o Narcisismo das Pequenas Diferenças (2018), The Passenger (2012) e Quel Pedra (2016) — conseguiu ultrapassar a desconfiança inicial dos dubaienses, muito graças a um polícia que conheceu, uma vez, numa praia. “Ele estava na praia, a rezar, e demo-nos logo bem. O polícia adorava fotografia e desbloqueou-me situações complicadas”, recorda. No Dubai “é preciso tempo” — e ser uma mulher a viajar sozinha não ajuda nestas circunstâncias. Com a ajuda do tal polícia, pôde assistir a uma corrida de carros nas dunas do deserto, cujo acesso lhe foi negado na primeira vez. “É surreal, parece uma feira popular onde os homens mostram carros uns aos outros. É uma cena tipo Mad Max, mesmo fora.”

“Em termos fotográficos, o país não tem fim, é um manancial de coisas”, resume. A ideia, após esta exposição no Porto (patente até 18 de Janeiro de 2020), é tentar levar as fotografias para o Dubai, no âmbito da Expo 2020, e encerrar um projecto de cinco anos no local onde tudo começou.

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