“Alarme social” levou IPO-Lisboa a antecipar consulta de doente não prioritário

Uma fotografia de uma carta nas redes sociais denunciava o adiamento em um ano de uma consulta de dermatologia no IPO-Lisboa. O que os posts não dizem é que o doente não terá um problema oncológico. Ainda assim, o adiamento ultrapassava o tempo recomendado.

Foto
IPO-Lisboa Rui Gaudêncio

A denúncia começou nas redes sociais, com a fotografia de uma carta, enviada no início de Novembro pelo Instituto Português de Oncologia (IPO-Lisboa) a um doente nonagenário, onde se dava a conhecer a decisão de adiar uma consulta de dermatologia, marcada inicialmente para Janeiro de 2020, para o ano seguinte — isto é, para Janeiro de 2021. Criava-se, assim, uma situação em que a primeira consulta daquele doente ultrapassava o tempo médio de resposta. A carta é verdadeira, mas a teletriagem indicou que o doente não terá um problema oncológico. No entanto, depois de ter ido parar às redes sociais, o IPO antecipou a consulta face ao alarme social gerado”, confirmou o PÚBLICO.

A veracidade da carta (que foi partilhada nas redes sociais, entre outras pessoas, pela militante do CDS Isabel Santiago Henriques) foi confirmada na quarta-feira pelo IPO-Lisboa ao site Polígrafo. Num comunicado, tornado público nesta quinta-feira, o IPO aproveita para esclarecer alguns pontos: “As consultas e os tratamentos são marcados de acordo com critérios de prioridade clínica.” Na área da dermatologia, o IPO é referência no tratamento do “melanoma e do linfoma cutâneo” dando prioridade a “serviços com elevado grau de especificidade e no tratamento de situações de doença avançada, que são referenciadas após intervenção inicial noutras instituições de saúde, públicas e privadas”.

O doente não foi dado como prioritário na teletriagem, onde se concluiu que não tinha um problema de carácter oncológico, marcando-se a primeira consulta para Janeiro de 2020 — que, em Novembro, foi adiada para um ano depois, 2021. Ainda assim, foi-lhe dada a possibilidade de ser seguido pelo departamento de dermatologia do Hospital dos Capuchos, onde, em teoria, seria atendido mais cedo.

Esta parceria foi a solução encontrada pelo IPO devido às “dificuldades de contratação de médicos dermatologistas” — ainda que a equipa de dermatologia desta unidade de saúde queira dar uma resposta adequada aos doentes, mesmo quando “não se enquadram nos critérios de prioridade clínica definidos”.

O IPO confirma que a data sugerida para a primeira consulta de dermatologia — isto é, Janeiro de 2021 — “ultrapassava o tempo médio de resposta garantido (TMRG) para situações de prioridade normal” como esta, mas alega que “ao doente em causa foi dada a possibilidade ser referenciado pelo Instituto ao Hospital dos Capuchos, mediante protocolo de colaboração em vigor”.

Consulta antecipada devido ao “alarme social” gerado

O facto de a carta ter chegado às redes sociais levou o IPO a mudar a data da consulta. Ao Polígrafo, a filha do doente disse que a consulta foi antecipada para esta sexta-feira, dia 22 de Novembro. No comunicado, o IPO confirma a decisão: “Face ao alarme social gerado em torno deste caso, o IPO-Lisboa e o Serviço de Dermatologia decidiram antecipar a consulta e, assim, esclarecer cabalmente a situação com o próprio doente e a sua família.”

As consultas seguintes serão “definidas pela situação clínica, mantendo-se a possibilidade de o doente ser seguido em dermatologia noutro hospital”, consoante a sua vontade e a da família.

Mas como é que se concluiu que o doente não padecia de uma doença oncológica ainda antes da primeira consulta? Em resposta ao PÚBLICO, fonte do IPO-Lisboa esclarece que a “triagem é feita por imagem enviada do centro de saúde (teletriagem, em uso no SNS, nomeadamente na área da dermatologia), conjugada com a informação clínica do pedido”. Isto é a triagem foi feita com base nas fotografias, enviadas pelo médico de família, das feridas que o idoso tinha no couro cabeludo, uma situação relatada pela filha do doente ao Polígrafo.

“A conjunção da informação disponível permitiu atribuir uma prioridade normal ao doente em causa, o qual poderia ser tratado e acompanhado em qualquer serviço de dermatologia hospitalar do Serviço Nacional de Saúde, sem a diferenciação e as especificidades de tratamento do IPO”, termina o instituto em resposta ao PÚBLICO.

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