O chão ainda explode em Angola

Quase duas décadas depois do fim da guerra civil, o país ainda figura entre os dez mais minados do mundo, apesar de já ter conseguido desminar 90% do seu território. No que vai do ano já morreram 20 pessoas em explosões de minas.

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O objectivo do Governo angolano é conseguir que o país fique livre de minas até 2025 REUTERS/Peter Andrews

No mês passado, cinco pessoas morreram e uma ficou ferida quando o triciclo motorizado (chamado kupapata) onde seguiam accionou uma mina antitanque em Môngua, província do Cunene, no sul de Angola. Entre as vítimas mortais da explosão estavam três crianças. Até ao final de Outubro, de acordo com números oficiais, registaram-se 76 casos de acidentes com minas que provocaram a morte de 20 pessoas.

Segundo o Landmine Monitor, relatório anual da Campanha Internacional para a Erradicação de Minas Terrestres (ICBL), divulgado esta quinta-feira, Angola mantêm-se entre os países do mundo com contaminação massiva, classificação dada aos países que têm mais de 100 quilómetros quadrados de áreas minadas.

Apesar de as autoridades angolanas, ajudadas por organizações não-governamentais, já terem conseguido desminar 90% do território, o país continua a ter 105,5 km2 de território onde há risco de que o chão expluda debaixo dos nossos pés, pela presença de minas ou de outro tipo de engenhos explosivos não deflagrados.

Dos três mil campos identificados em 2002 como minados, ainda restam 1220 para tornar seguros, em dez províncias do país. O objectivo é conseguir até 2025 desminar a parte do território que falta. Isto se o problema continuar a ser identificado como problema real e as verbas para o programa de desminagem continuarem a ser disponibilizadas.

A visita do príncipe Harry a Angola, em Setembro, como 22 anos antes, a visita da sua mãe, a princesa Diana, pode ter um impacto positivo na manutenção do financiamento para a resolução de um problema que continua a ser real, que continua a matar todos os anos, mas que saiu das agendas mediáticas e, consequentemente, da preocupação dos doadores.

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A princesa Diana na sua visita a Angola em 1997 Juda Ngwenya/REUTERS

“Esta semana falei com muitos jornalistas que pareciam ter-se esquecido que as minas terrestres continuam a ser um problema em muitas partes do mundo. Grandes eventos mediáticos como a ida do príncipe Harry a Angola são, exactamente, aquilo que o sector humanitário de desarmamento precisa”, disse à agência Lusa Morgan McKenna, gestor do Landmine Monitor.

James Cowan, o director executivo da HALO Trust, a ONG a que Diana estava ligada e que acompanhou a visita do príncipe Harry ao Huambo, no planalto central angolano, onde este foi conhecer o legado que a sua mãe deixou, afirmou na altura que o duque de Sussex “está empenhado a ajudar a HALO a emular em Angola” aquilo que a ONG conseguiu em Moçambique, tornando-o livre de minas.

Este último Landmine Monitor constata isso mesmo em relação a Moçambique, um dos 31 países que se declararam livres de minas nos últimos cinco anos.

Morgan McKenna sente que o relatório tem mais cobertura mediática este ano e não tem dúvidas em atribuir o interesse à visita do membro da família real britânica a Angola: “Espero que este interesse se traduza em mais fundos para Angola no próximo ano”.

O embaixador do Japão em Luanda, Hironori Sawada, anunciou na quinta-feira, depois de uma visita à ministra da Acção Social, Família e Promoção da Mulher, Faustina Alves, que o Governo japonês vai disponibilizar 25 milhões de dólares até 2025 para ajudar projectos de desminagem no país, parte dessa verba será destinada à formação.

O Japão é um dos países que apoiam financeiramente o processo de desminagem no país, tendo neste momento projectos em desenvolvimento nas províncias do Moxico, Cuando Cubango e Malanje. “Pretendemos com o reforço dessa cooperação, ver o país livre de minas no mais curto espaço de tempo”, disse o embaixador, citado pelo Jornal de Angola.

Esta segunda-feira começou no Huambo o primeiro curso de formação de formadores de educação e prevenção sobre o risco de minas. Um curso de dez dias que pretende dar aos técnicos conhecimentos pedagógicos e motivacionais para transmitir mensagens educativas de sensibilização sobre o risco das minas, primeiros socorros e gestão de informação.

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