Num mundo de crescimento lento, OCDE prevê abrandamento ligeiro em Portugal

OCDE prevê crescimento de 1,8% em 2020 e 1,7% em 2021, valores abaixo das previsões do Governo, mas acima da média da zona euro e da Espanha.

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Mário Centeno com José Ángel Gurría, secretário-geral da OCDE Daniel Rocha

A economia portuguesa irá, depois de registar um crescimento de 1,9% durante este ano, continuar a abrandar ligeiramente durante os próximos dois anos, sentindo o efeito de uma conjuntura internacional em que os sinais de retoma continuam a ser quase inexistentes. As previsões são da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, que projecta um cenário para Portugal até 2021 que é mais pessimista que o do Governo tanto para a economia como para as finanças públicas.

No relatório “Economic Outlook” publicado esta quinta-feira, a entidade com sede em Paris, antecipa, para 2020 e 2021, taxas de crescimento na economia portuguesa de 1,8% e 1,7%, respectivamente, antecipando uma tendência de abrandamento que se sentiu já durante este ano (o crescimento deverá ser de 1,9%, depois de 2,4% em 2018).

No relatório, a OCDE aponta para os efeitos da conjuntura internacional no desempenho económico português e diz que o principal risco pela negativa de as previsões terem de vir a ser revistas em baixa está na possibilidade de uma “deterioração das perspectivas de crescimento na União Europeia”. As exportações, para as quais se antecipa um crescimento de 2,7% este ano, deverão registar uma variação de apenas 1,1% em 2020 e de 2,2% em 2021. Ainda assim, assinala a instituição, “apesar da procura externa fraca, as exportações devem continuar a crescer devido aos ganhos de competitividade gerados pelo aumento moderado dos custos unitários de trabalho”.

Estes resultados são fortemente condicionados pelo prolongamento do desempenho decepcionante da economia mundial nos próximos dois anos, com especial destaque para o crescimento lento que se espera na Europa. De acordo com as novas previsões da OCDE, a variação do PIB mundial irá manter-se próximo dos 2,9% deste ano (2,9% em 2020 e 3% em 2021). Na zona euro, a OCDE espera um abrandamento no próximo ano de 1,2% para 1,1%. E para 2021, a expectativa é de um crescimento de 1,2%.

Os responsáveis da OCDE fazem questão de assinalar que o crescimento lento que se regista agora não é temporário e pode estar para durar, independentemente dos estímulos que sejam entretanto lançados. “Seria um erro considerar que o crescimento baixo se deve a factores temporários que podem ser resolvidos com políticas monetárias e orçamentais. Os problemas são estruturais. Sem uma coordenação no comércio e na fiscalidade, um rumo claro para a política de transição energética, a incerteza continuará a ser muito grande e a afectar as perspectivas de crescimento”, afirmou a economista chefe da OCDE, Laurence Boone, na conferência de imprensa de apresentação das previsões.

Portugal irá crescer nos próximos dois anos sempre acima da média da zona euro, superando por exemplo a Espanha para a qual se espera um crescimento de 1,6% tanto em 2020 como em 2021.

Do lado da procura interna, a ajuda também é reduzida, esperando-se também uma tendência de abrandamento do consumo e do investimento nos próximos dois anos. “Apesar da inflação baixa e do apoio de condições financeiras favoráveis (taxas de juro baixas), espera-se que o consumo das famílias suavize, devido à moderação no crescimento do emprego e à estabilização do crescimento dos salários”, afirma o relatório.

Nas suas últimas previsões, feitas em Outubro, o Governo apontou ainda para uma ligeira aceleração da economia durante o próximo ano, prevendo um crescimento de 2%.

No que diz respeito às finanças públicas, a OCDE diz esperar uma política “prudente”, não antecipando grandes alterações no saldo orçamental. Depois de um défice de 0,1% este ano (em linha com a estimativa do Governo), o relatório projecta um saldo nulo em 2020 e um excedente de 0,1% em 2021, resultados menos positivos do que os planeados pelo Governo.

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