José Mourinho: “Vou cometer erros novos, não os mesmos”

Treinador português foi apresentado nesta quinta-feira, em conferência de imprensa, em Londres.

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LUSA/PETER POWELL

Elogios aos jogadores, juras de amor ao novo clube e a promessa de não repetir os erros de um passado recente. José Mourinho apresentou-se nestes termos aos adeptos do Tottenham e do futebol inglês. Numa conferência de imprensa que foi uma espécie de cerimónia de boas-vindas a um velho conhecido da Premier League, o treinador português mostrou-se sereno e preparado para o desafio, após um período de 11 meses de reflexão.

Quem espera uma revolução desportiva no norte de Londres com a chegada de José Mourinho pode, desde já, desenganar-se. Ponderado e elegante no discurso (deixou rasgados elogios ao antecessor, Mauricio Pochettino), o ex-técnico do Manchester United promete manter as bases dos últimos anos e ir limando as arestas que atiraram a equipa para um improvável 14.º lugar da tabela, apenas com 12 jornadas decorridas.

“O nosso estilo vai ser semelhante ao actual. Vou tentar acrescentar alguns detalhes e, às vezes, isso pode fazer a diferença. De uma forma progressiva, teremos uma impressão digital, mas o estilo de jogo deve ser sempre adequado às qualidades dos jogadores”. E foram os jogadores, precisamente, que em última análise levaram Mourinho a aceitar o convite do Tottenham, até porque o técnico nunca escondeu que já tinha tentado contratar alguns há uns anos.

Defendendo que nunca se conhece verdadeiramente um atleta até se ter trabalhado directamente com ele, José Mourinho carrega até ao novo e imponente Estádio Tottenham Hotspur um lema que quer transmitir ao plantel. “Quando não ganho, não fico contente e não consigo mudar isso. É o meu ADN. Espero conseguir influenciar os jogadores, porque quando se fica contente depois de perder um jogo é muito difícil ser-se um vencedor”.

Fala quem sabe - e basta olhar para o currículo de José Mourinho para perceber por que razão foi o escolhido para o cargo. Os fãs do português agarrar-se-ão sempre ao invejável palmarés, os detractores apontarão o dedo à recente passagem menos conseguida pelo Manchester United (que, ainda assim, rendeu uma Liga Europa e uma Taça da Liga). O próprio, porém, quando olha para trás prefere juntar todas as dimensões no mesmo compartimento. 

“Sempre achei que estes 11 meses não seriam uma perda de tempo. Pude reflectir, analisar, preparar-me, antecipar cenários. Nunca perdemos a nossa identidade, somos o que somos, com as coisas boas e más. Não me perguntem quais foram os erros que cometi, mas apercebi-me de que cometi erros e não vou cometer os mesmos erros. Vou cometer erros novos, mas não os mesmos”, ilustrou.

Com dois dias de trabalho num centro de treinos de última geração, com condições de excelência, Mourinho fez questão de projectar sempre os holofotes sobre o clube, recusando-se a ser o centro das atenções. “Estou tranquilo, motivado e preparado, mas isto é sempre o Tottenham, não é sobre mim. Este período é sobre o clube, os jogadores e os adeptos, eu só estou aqui para os ajudar”, acrescentou, assumindo que nesta época a Premier League é uma causa perdida mas que na próxima será diferente. “Na próxima temporada, podemos ganhar o campeonato. Não digo que vamos, mas que podemos”.

A capacidade de passar da possibilidade à realidade é uma característica que o português deixou vincada na maioria dos clubes pelos quais passou. Mas isso também lhe custou alguns anticorpos junto dos rivais, incluindo o Tottenham, especialmente depois de ter assumido que nunca assinaria pelo “spurs”, numa altura em que estava de saída do Chelsea. Mourinho diz compreender o cepticismo de alguns adeptos, mas lembra que o mundo do futebol gira a uma velocidade tremenda.

“Isso foi antes de eu ser despedido”, sublinhou, a propósito do comentário. “Isto é o futebol moderno. Quando o meu pai jogava, os jogadores representavam o mesmo clube durante 15 ou 20 anos. Actualmente é tudo muito veloz, até as relações. Os jogadores fartam-se uns dos outros, do treinador. Fui para Manchester de espírito aberto e agora acontece o mesmo com o Tottenham. Não haverá um fã maior do que eu, ninguém quer que o Tottenham ganhe mais do que eu”. 

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