André Ventura trouxe facturas dos polícias para chamar mentiroso a Costa – e ninguém o questionou

Deputado do Chega vai participar na manifestação de amanhã “sem medo”, respondendo a quem se queixa da “infiltração” do partido nas forças de segurança.

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André Ventura, Chega daniel rocha

Com a tribuna do Governo vazia e sem que qualquer deputado fizesse comentários laterais ou o tivesse questionado no fim, André Ventura subiu ao palanque do plenário da Assembleia da República para acusar António Costa de ter mentido no debate quinzenal. O deputado do Chega fez questão de levar na mão fotocópias de facturas que polícias lhe enviaram para provar que tiveram mesmo de comprar o seu equipamento como algemas, coletes de protecção e gás pimenta. E garantiu que se vai juntar à manifestação “sem medo, sem problema, sem medo de olhar para trás. Estamos certo da história e não do lado dos que escondem a verdade.”

Numa declaração de três minutos e meio, Ventura começou por lamentar que a poucas horas de uma manifestação que promete ser uma das maiores de sempre à porta do Parlamento alguns partidos tenham preferido falar do amianto (PAN) ou de paraísos fiscais (PEV), ou “falar de tudo menos do que tem que ver com o que se vai passar amanhã” nas escadarias.

Usou várias vezes a ideia de que há uma “enorme sombra” a pairar para dizer que o Governo, por um lado, aumenta a despesa com viagens, gabinetes e gasta dinheiro em “subvenções vitalícias pagas a criminosos condenados pelos tribunais”, e depois deixa os hospitais fechados (Garcia de Orta) e degradados (Coimbra). Usou mesmo o exemplo de um homem de 90 anos que teve a consulta adiada.

Aos que criticaram a “infiltração do Chega em manifestações” disse que deviam era “estar preocupados com o estado a que chegaram as forças de segurança”. “Tivemos nesta casa – e por isso pedimos para falar - um primeiro-ministro que mentiu aos portugueses. Disse que os polícias não têm de comprar equipamentos para si próprios (…) Aqui estão as facturas de dezenas de polícias que nos fizeram chegar da compra de material pago do seu bolso”, disse, levantando no ar várias folhas. “Deviam envergonhar qualquer democracia, de algemas, de coletes e de tudo o mais que o sr. primeiro-ministro disse que não existia. Vergonha, sr. primeiro-ministro! Vergonha, sr. ministro da Administração Interna!”.

Criticou o PS por dizer que honra os polícias mas nada fazer e o PCP por, apesar de defender que estes merecem respeito, juntar na mesma frase “abuso e fiscalização – a mesma história de sempre”. “A maioria de esquerda ri e desvaloriza. Dizem ‘estamos em maioria, vamos continuar a mandar’”, ironizou. “Talvez mais cedo do que pensem; talvez mais cedo do que esperem, o povo português seja chamado às urnas novamente para por fim à vergonha que hoje se verificou aqui nesta casa.”

Antes de sair da tribuna, disse ainda: “Não façam perguntas; peçam desculpa por isto que aconteceu. Era isto que esperávamos de vocês hoje.”

Entre as cópias agitadas por André Ventura podiam ver-se, por exemplo, numa factura de uma loja de material militar de São Domingos de Rana (Cascais), datada de Fevereiro do ano passado, estava um adaptador para coldre de perna (32 euros) e uma balaclava, um gorro que tapa toda a cara (7). E noutro recibo datado de 2016, de uma loja de material militar e paramilitar de Setúbal, identificada como sendo para alguém de Évora, contabilizava-se um fiador de arma (10 euros), usado para prender a arma ao cinto. Havia também uma fotografia de uma embalagem de gás pimenta cuja data de validade expirou em 2017. Outra factura apresentada por André Ventura tinha igualmente o nome do cliente rasurado mas a data era de 2005. 

No início da intervenção, André Ventura tinha agradecido por o deixarem “falar a título excepcional”, ironizando sobre o facto de isso acontecer na casa da democracia. E Ferro Rodrigues não deixou passar o remoque. “Não foi nenhum beneplácito do presidente para o sr. falar. O sr. tem direito, como todos os deputados únicos representante de partidos, a falar três vezes em três ordens do dia como esta que são declarações políticas. Portanto, não percebo porque é que fez essa referência. Aliás, qualquer dos outros deputados únicos podia ter utilizado a palavra hoje, só não o fez porque não quis.”

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