Inovação e compaixão em debate no II Lusíadas Clinical Summit

No dia 16 de Novembro, discutiu-se em torno daquilo que levou muitos profissionais a escolher o caminho da saúde: cuidar dos outros. Da evolução da preservação da fertilidade, passando pelas mais-valias da tecnologia, e tocando sempre no tema da compaixão, neste summit falou-se, sobretudo, do ciclo da vida.

Fotogaleria
II Lusíadas Clinical Summit Gonçalo Almeida para Rebobina
Fotogaleria
II Lusíadas Clinical Summit Gonçalo Almeida para Rebobina
Fotogaleria
II Lusíadas Clinical Summit Gonçalo Almeida para Rebobina
Fotogaleria
II Lusíadas Clinical Summit Gonçalo Almeida para Rebobina
Fotogaleria
II Lusíadas Clinical Summit Gonçalo Almeida para Rebobina
Fotogaleria
II Lusíadas Clinical Summit Gonçalo Almeida para Rebobina

“Não sei o que nos espera, mas sei o que me preocupa: é que a medicina, empolgada pela ciência, seduzida pela tecnologia e atordoada pela burocracia, apague a sua face humana e ignore a individualidade única de cada pessoa que sofre, pois embora se inventem cada vez mais modos de tratar, não se descobriu ainda a forma de aliviar o sofrimento sem empatia”. Esta frase, da autoria de João Lobo Antunes [em Ouvir com Outros Olhos] e lida pela sua filha, a médica Margarida Lobo Antunes, numa emotiva sessão de abertura deste II Lusíadas Clinical Summit, em muito diz sobre esta segunda edição. Decorrido no Centro de Congressos do Estoril, sob o tema “The Circle of Life”, o encontro clínico organizado pela Lusíadas Saúde reuniu, ao longo do dia, médicos, enfermeiros, jornalistas, convidados, e muitos profissionais ligados às diferentes áreas da saúde. Vasco Antunes Pereira, CEO da Lusíadas Saúde, e Leopoldo Cunha Matos, Presidente do Conselho Consultivo, fizeram as honras da casa numa sessão inaugural que antecipou um dia repleto de reflexões sobre o conceito de cuidar, inerente ao léxico de qualquer profissão médica, e sempre abordado em torno da individualidade de cada pessoa.

Preservar a vida, cimentar a felicidade

A vida, na sua acepção mais biológica, começa na geração de um batimento cardíaco, no nascimento de um bebé, um acontecimento na natureza humana capaz de proporcionar uma felicidade sem medidas. Falar em “Preservação da Fertilidade” foi, por isso, sinónimo de começar por falar em preservar a felicidade. Foi precisamente essa a ideia que lançou o debate que inaugurou as sessões deste dia, levado a cabo pelos profissionais do Centro de Procriação Medicamente Assistida do Hospital Lusíadas Lisboa: Luís Ferreira Vicente, médico que lidera a secção de Endoscopia Ginecológica da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, a embriologista Sónia Bally Jorge Valente e a médica Daniela Sobral, como moderadora. A infertilidade, como começou por ser dito, afecta 15% da população em idade reprodutiva, e pode ser potenciada por factores como a idade, o consumo de álcool, o tabagismo, ou o excesso de peso. De uma perspectiva tão científica como humana, estes médicos avançaram para uma exposição acerca da evolução dos procedimentos da vitrificação e da criopreservação intrinsecamente ligados à preservação da vida humana. Um dos conceitos abordados foi o de social freezing, uma tendência social que consiste em recorrer à criopreservação por parte da mulher como forma de adiar a maternidade para evoluir na carreira, por exemplo. Campanhas com slogans como “freeze your eggs, freeze your career” contrastam veementemente com o que estes médicos afirmaram: existe uma correlação entre o avanço da idade e o aumento do risco de infertilidade. Será assim tão seguro adiar a geração da vida? Uma reflexão que ficou no ar até ao tema seguinte: a tecnologia.

Foto
II Lusíadas Clinical Summit Gonçalo Almeida para Rebobina

Inovação e medicina: uma questão de (des)humanização?

Um estudo sobre literacia digital em saúde concluiu que perto de 90% das pessoas diz utilizar com frequência a internet para procurar informação sobre saúde, mas apenas 20% considera credível essa informação. Foi com a revelação destes dados que a médica e membro da secção de Tecnologias de Informação da Ordem dos Médicos, Sofia Couto da Rocha, inaugura uma das conferências mais dinâmicas da manhã: o “Drive tecnológico na saúde”. Desafiados a apresentar os seus comentários sobre o tema em apenas dois minutos, Jaime Melancia (Presidente da Associação Portuguesa de Psoríase), Filipa Barros (médica e membro do Departamento de Emergência Médica do INEM), Ana Rafaela Prado (responsável médica pela Informatização Clínica do Grupo Lusíadas, Chief Clinical Information Officer), Alexandre Lourenço (médico presidente da secção Sul da Ordem dos Médicos), Dulce Gonçalves (Directora de Enfermagem do Hospital de Cascais), Ana Isabel Pedroso, (especialista em Medicina Interna do Hospital de Cascais e integrante da Equipa Médica da Viatura Médica de Emergência e Reanimação - VMER) e Miguel Aguiar (líder de Inovação e Transformação Corporativa da NOS) partilham visões distintas acerca do impacto das novas tecnologias na Medicina. “75,5% das chamadas que são feitas para o INEM são não urgentes” começa por explicar Filipa Barros, para apresentar o projecto ITEAMS , um programa informático que pretende facilitar a vida ao INEM e ao doente através de uma escala de “newsclassificada pelo profissional que chega ao local e identifica a urgência. Sempre que nos deparamos com uma máquina desumanizamos (…) pois nenhuma máquina capta impressões que podem ser subjectivas” salientou Alexandre Lourenço, defendendo a ideia de que a tecnologia deve ser posta ao serviço da redução do tempo para que o médico se possa dedicar ao doente. “Nunca podemos perder o veículo comum, que é o doente. A tecnologia faz parte, a questão prende-se na forma como é usada para ser o suporte e não o foco quando se está com o doente” concluiu Dulce Gonçalves (Chief Nursing Information Officer e Enfermeira Directora do Hospital de Cascais). 

Foto
Margaret-Mary Wilson, Chief Medical Officer e Senior Vice President da UnitedHealthcare Global

Valued-Based Care: uma rede de benefícios sem fim

A manhã de conferências deste summit encerrou com a conferência “Value-Based Care”, apresentada pela convidada especial Margaret-Mary Wilson, Chief Medical Officer e Senior Vice President da UnitedHealthcare Global, o gigante mundial à qual pertence a Lusíadas Saúde. Margaret-Mary Wilson explicou a importância do conceito de Valued-Based Care pensado para reestruturar os sistemas de saúde em todo o mundo com o objectivo de acrescentar valor para o doente. Em Portugal, ainda é relativamente novo e está por implementar na sua plenitude. “O valor é um tema do momento (…) e esse valor implica uma congregação de interesses de diferentes parceiros que se têm de alinhar numa estratégia que, por sua vez, permita garantir que – em termos de sustentabilidade futura dos sistemas de saúde – se consigam conciliar as expectativas e as necessidades das pessoas em saúde com os recursos que temos disponíveis” começou por dizer Filipe Basto, Director Clínico do Hospital Lusíadas Porto e Chief Medical Officer do Grupo Lusíadas, médico convidado para apresentar este tema. “Se tivermos bem presentes os modelos que construímos quando falamos em Valued-Based Care e fizermos o que estiver ao nosso alcance para que as nossas acções estejam a levar bons resultados à pessoa, ao mesmo tempo estamos a reduzir os custos do sistema no seu todo” esclareceu Margaret-Mary Wilson à margem do encontro. “É algo perfeito? Não. Mas se todos usarmos a fórmula como modelo para algo que todos queremos alcançar – doentes, médicos, hospitais, pagadores [seguradoras], Governos, responsáveis por políticas sociais – que é levar o valor à pessoa, reduzimos as hipóteses dessa equação falhar. Na UnitedHealthcare Global baseamo-nos em valores como integridade, compaixão, relacionamento, inovação e desempenho – o nosso modelo clínico é construído sobre isto” conclui.

Compaixão como alma da Medicina

Durante a tarde, houve oportunidade para dar voz a quem esteve, e está, do lado da doença, durante a conferência “Medicina e compaixão: pensar o futuro”, mediada por Margarida Lobo Antunes, pediatra e Directora Clínica do Hospital Lusíadas Lisboa. Ana Rita Vieira Pita, engenheira agrónoma, deu a sua perspectiva como mãe de dois gémeos com problemas de desenvolvimento, seguidos por esta pediatra; enquanto José Luís Morais testemunhou a vivência hospitalar pela qual passou quando foi internado de urgência, com diagnóstico do Síndrome Guillain-Barré, há três anos. Ambos os testemunhos levaram a uma reflexão sobre a dimensão humana nos profissionais de saúde, exactamente o que se pretendia com esta sessão. Susana Magalhães, investigadora no Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa e oradora neste painel, focou ainda a importância de ser e estar, contrastante com o fazer e pensar, muitas vezes ensinado como primordial.

|| Lusíadas Clinical Summit Gonçalo Almeida para Rebobina
Tânia Delgado, vencedora na categoria de posteres e Charles Souleyman Al Odeh, profissional da UnitedHealth Group Brazil, que recebeu o prémio atribuído ao seu colega Pedro Barros e Silva na categoria de artigos. Gonçalo Almeida para Rebobina
O valor total das receitas do II Lusíadas Clinical Summit, que contou com 650 presenças, foi duplicado e doado na íntegra à Escolinha de Rugby da Galiza. Gonçalo Almeida para Rebobina
Fotogaleria
|| Lusíadas Clinical Summit Gonçalo Almeida para Rebobina

Premiar a excelência

No final deste encontro, houve oportunidade de premiar os trabalhos científicos enviados a concurso na categoria de artigo científico e poster científico, uma iniciativa transversal a todo o summit que nesta edição contou com mais de 160 participações. “O concurso é aberto a qualquer instituição de saúde. A particularidade aqui é a multidisciplinaridade. Ou seja, foi um concurso aberto a várias áreas médicas: desde médicos, enfermeiros, nutricionistas e técnicos” explicou António Fiarresga, médico cardiologista e Presidente da Comissão Científica do Lusíadas Clinical Summit. “Os nossos critérios são vários, desde a originalidade, à metodologia, à qualidade e à relevância clínica que depois o trabalho pode trazer” referiu, sobre os critérios de eleição. As menções honrosas foram entregues a Rita Vale Rodrigues e Nuno Côrte-Real, na categoria de artigos, e a Alina Fernandes e Rita Costa na de pósteres. Os vencedores foram Tânia Delgado, na categoria de pósteres, e Charles Souleyman Al Odeh, profissional do UnitedHealth Group Brazil, recebeu o prémio atribuído ao seu colega Pedro Barros e Silva na categoria de artigos.

O melhor ainda está para vir: Lusíadas Clinical Summit 2020

“O desafio que lançámos a nós próprios foi o de criar um encontro onde todos os profissionais ligados à saúde pudessem partilhar experiências (…) para que possamos todos ter um entendimento maior sobre saúde” esclarece Vasco Antunes Pereira a propósito do objectivo a que este summit se propunha. “Aquilo que ouvimos em todas estas sessões é a importância de não perder esta visão global do doente (…) esta visão holística consistiu em pensar na pessoa ao longo de todo o seu percurso, sabendo que ela vai passar entre várias mãos.” Para 2020, há já temas lançados sobre a mesa e em progresso. “Vai ser um projecto ainda mais abrangente. Para o ano queremos ter discussões abertas, queremos falar com todo o ecossistema da saúde, vamos querer receber feedback, e ser uma plataforma de partilha. Na verdade, já estamos muito entusiasmados com o próximo ano”, conclui Vasco Antunes Pereira.