Engano e incidente processual no julgamento do ataque a Alcochete

Advogado de um dos arguidos apontou inconformidade relativa ao auto de notícia das detenções.

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LUSA/RODRIGO ANTUNES

A segunda sessão do julgamento do ataque à Academia de Alcochete ficou marcada por um incidente processual que ameaça criar entraves à análise da prova. Nesta terça-feira, já o dia ia longo, com várias horas de sessão no Tribunal de Monsanto, quando os advogados de defesa dos arguidos encontraram incongruências no depoimento da última testemunha.

Márcio Alves, comandante da GNR de Alcochete, assumiu ter assinado o auto de notícia das detenções do dia 15 de Maio de 2018 sem ter, no entanto, conhecimento directo de toda a informação nele constante — elaborou-o em conjunto com outros elementos. Além disso, o militar afirmou também ter assinado este documento “no dia 16 ou 17”. Miguel Matias, um dos advogados, “apanhou” o GNR numa inconformidade, já que a assinatura do auto data de… dia 15.

Quem pareceu pouco impressionada com a incoerência foi a juíza Sílvia Pires, que várias vezes desvalorizou o engano e pareceu sensível ao argumento de Márcio Alves, sobretudo quando o GNR lembrou que, no dia do ataque — o mesmo da elaboração do auto —, não dormiu. “Nem dormi nessa noite e estive a trabalhar no auto até dia 16 de manhã. Se calhar pareceu-me que ainda era dia 15”, explicou.

Menos sensível à justificação foi Miguel Matias, advogado do arguido Afonso Ferreira, que, seguido por outros dois advogados, avançou com um requerimento para a impugnação do auto de notícia que relata os factos do dia 15 de Maio de 2018 e que justifica e atesta as detenções efectuadas nesse dia.

A resposta ao requerimento deve chegar, segundo o advogado, na quinta-feira — próxima sessão do julgamento —, mas, para Miguel Matias, que falou aos jornalistas à saída do tribunal, estes factos são, pelo menos, um claro enfraquecimento da acusação elaborada pelo Ministério Público. Houve, ainda, uma acusação do mesmo jurista, que disse terem existido detenções ilegais a alguns arguidos.

Antes disto, já duas outras testemunhas tinham falado em tribunal. A primeira, Tiago Mateus, também GNR, foi alvo de um interrogatório longo (mais de duas horas) e, sobretudo, “redondo”. O militar foi questionado várias vezes acerca dos mesmos assuntos, facto que levou, até, à intervenção da juíza, pouco agradada com a insistência dos advogados nas mesmas questões.

Após a paragem para almoço, a segunda testemunha, o militar da GNR André Medinas, trouxe ao tribunal alguns dados sobre o ataque. “Quando chegámos à Academia, dissemos aos jogadores para aguardarem para serem ouvidos, porque estavam a queixar-se de agressões”, afirmou, adiantando que se recorda de ter falado com Rui Patrício, um dos jogadores que “estava a acalmar mais os ânimos”. “Não me recordo de que algum tivesse marca de agressão. Não digo, com certeza, que não estava ninguém magoado, mas não me recordo disso. O Patrício e o Mathieu estavam calmos, mas outros estavam mais inquietos e a quererem ir embora e para o hospital”.

Questionado por Miguel Fonseca, advogado de Bruno de Carvalho — que pediu dispensa desta sessão do julgamento —, o militar falou ainda sobre as pessoas que encontrou na Academia, adiantando, a esse respeito, que crê ter visto Jaime Marta Soares e Bruno de Carvalho nas instalações, ainda que sem certezas.

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