Adeus a José Mário Branco: “Toda a música portuguesa empalidece”

Sucedem-se as homenagens a um dos nomes maiores da canção portuguesa que morreu esta terça-feira aos 77 anos.

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Jorge Miguel Goncalves / NFACTOS

Camané recorda a influência de José Mário Branco na música portuguesa

José Mário Branco “é um dos artistas mais importantes da música portuguesa, como produtor, como intérprete, como compositor, letrista”, afirma Camané, ao telefone com o PÚBLICO. “Tem uma importância e influência extrema tanto na música portuguesa mais moderna quanto na música mais antiga, na divulgação, na estética e nos vários estilos musicais”, prossegue o cantor que foi apresentado a José Mário Branco por Carlos do Carmo nos anos 1990”. É um músico extraordinário, com bom gosto e que nunca abdicou dos valores e da qualidade em função de nada”.

José Fanha: “um grandíssimo artista, um grandíssimo intelectual e um homem da revolução"

José Fanha recorda a criação de Grupo de Acção Cultural — Vozes na Luta como algo de “extraordinário”: “Ele juntou uma quantidade enorme de músicos, uns 30 ou 40, de imensa qualidade, que ele dirigiu, incentivou.” Para este poeta e escritor de literatura infanto-juvenil, que se assume “um bocadinho mais novo do que esta geração de músicos que revolucionaram a música no nosso país”, José Mário Branco “é um grandíssimo artista, um grandíssimo intelectual e um homem da revolução... um dos homens que ajudaram, na sua maneira, a que a revolução do 25 de Abril acontecesse, a que as coisas mudassem em Portugal. Talvez não da maneira como sonhávamos mas a verdade é que mudaram, a caminho da democracia.”

Capicua: “morreu um amigo"

Através do Instagram, a cantora reagiu à morte de José Mário Branco partilhando uma foto do artista e apelidando-o como “amigo”. Capicua começa por citar a letra de uma das suas músicas: “eu cresci a ouvir Zé Mário, a TV era a rádio e a minha primeira rima foi à porta do infantário!”, palavras da sua canção A Última. "Que possa sempre honrar o seu exemplo. Não esquecendo nunca que a música não é só estética, e muito menos técnica, porque a ética é a sua dimensão mais importante. Que pena nunca o ter conhecido pessoalmente para lhe agradecer. Para lhe dizer que o primeiro CD que tive era dele (oferecido pelo meu pai). Para lhe dizer como cresci com a sua voz, acreditando que a Ronda do Soldadinho era música para crianças. E para lhe dizer que uma das coisas que mais me orgulha na minha cidade é ter feito nascer um tipo com a sua fibra!”, escreveu a rapper.

Valter Hugo Mãe diz que é uma “insuportável notícia"

O escritor português escreveu numa publicação na sua página do Instagram que com a morte de José Mário Branco “toda a música portuguesa empalidece" e reforça que “perdemos um génio”. “Que tristeza esta porcaria chamada morte”, rematou Valter Hugo Mãe.

Marcelo Rebelo de Sousa: era um “símbolo da resistência"

“José Mário Branco era inconfundível, inconfundível na sua voz, na sua independência, na sua rebeldia, na sua não-acomodação. Nunca aceitou honrarias nem condecorações em vida, e sempre insatisfeito. Para José Mário Branco havia uma parte de Abril que estava por realizar. Por isso ele continuou sempre a ser portador dessa insatisfação, em música”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa à RTP, pouco depois de se saber da morte do artista. 

O Presidente da República disse ainda que José Mário Branco foi importante para a construção da democracia política, económica e social e avança que uma condecoração póstuma, uma “homenagem que lhe é devida”, depende da família e dos mais próximos do músico.

Graça Fonseca: “Portugal terá sempre um disco seu como banda sonora"

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamentou a morte do músico e produtor José Mário Branco, dizendo que “resistir, em Portugal, terá sempre um disco [seu] como banda sonora”. Numa mensagem publicada na conta oficial do ministério no Twitter, José Mário Branco é lembrado como um “nome maior da música portuguesa” e uma “voz de luta e de intervenção”. "[A] Ministra da Cultura lamenta profundamente a morte de José Mário Branco, nome maior da música portuguesa. Voz de luta e de intervenção, o seu legado é intemporal e é património colectivo”, acrescentou, na mesma mensagem.

João Miguel Tavares: “a sua inquietação ganhou o justo lugar na História"

João Miguel Tavares escreve que José Mário Branco foi “a grande figura da música portuguesa do século XX” e que deixou “uma marca inultrapassável como cantor, como compositor e também como arranjador e produtor”.

“Comovo-me sempre que ouço o “faltam-me dentes” no final do “FMI”, mostro aos meus filhos a “Queixa das Jovens Almas Censuradas” sempre que lhes quero explicar o que é viver em ditadura, considero “Inquietação” uma das quatro ou cinco canções da minha vida, e dobro-me diante daquilo que sempre vi em José Mário Branco na hora de subir ao palco: um homem com um profundo desejo de coerência entre aquilo que dizia e aquilo que fazia”, escreveu o jornalista.

Miguel Esteves Cardoso: “soube sempre fazer da música e da arte uma união"

Na sua crónica, Miguel Esteves Cardoso afirma que se tivesse de escolher duas palavras para José Mário Branco escolheria génio e generosidade. “A música de José Mário Branco – muita da qual nem tem o nome dele – é imensa e faz mais falta com cada dia que passa. É uma música colectiva no bom sentido, de ser necessariamente feita com outros, para bem da música – e para bem de todos”, refere o cronista.

Sérgio Godinho: “somos irmãos de armas"

O músico Sérgio Godinho manifestou uma “dor muito profunda” pela morte de José Mário Branco, um autor “riquíssimo e fundamental na música portuguesa”, disse à agência Lusa. “Tenho uma dor muito profunda, de repente esta morte súbita. Sempre fomos extremamente leais. Nunca houve um desentendimento. No essencial estivemos sempre próximos e cúmplices. [...] Somos irmãos de armas. As nossas vidas tocaram-se muito e tocaram-se em muitas aventuras criativas e pessoais”, afirmou o cantor.

José Jorge Letria: “um homem corajoso"

O escritor José Jorge Letria lamentou a morte do músico José Mário Branco, aos 77 anos, comentando que “Portugal perdeu um dos seus maiores criadores musicais de sempre”. Contactado pela agência Lusa, o escritor disse ter uma memória pessoal “muito forte e intensa” de “um homem corajoso que esteve preso e no exílio”. “Foi um excepcional autor de canções, mas foi sobretudo um orquestrador excepcional, outra marca que também deixa, e que conseguiu imprimir nos discos que fazia com Zeca Afonso, Sérgio Godinho e outros”, disse, recordando que José Mário Branco lhe fez os arranjos musicais do disco Até ao Pescoço (1972).

Carlão: “foi uma honra privar com este pensador combativo"

Carlão (Da Weasel) recordou que trabalhou com José Mário Branco “uma boa temporada em Guimarães no espectáculo de encerramento da Capital Europeia da Cultura 2012”, confidenciando que “foi uma honra privar com este pensador combativo e homem doce”. “Partiu hoje, mas vive para sempre na obra que nos deixa”, afirma.

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