Autoeuropa bate recorde de produção a mês e meio do fim do ano

Número de carros feitos em Palmela em 2018 foi ultrapassado a 13 de Novembro. Este ano, 850 trabalhadores passam para o quadro de efectivos.

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Número de trabalhadores aumentou quase 70% em dois anos Daniel Rocha/Arquivo

A Autoeuropa atingiu na semana passada um novo recorde de produção anual de carros. A fábrica de Palmela da Volkswagen ultrapassou no dia 13 de Novembro o recorde anterior, de 223.200 unidades, obtido em 2018, ano em que a produção já tinha duplicado. Quando ainda faltavam 49 dias do fim de 2019, os 5800 trabalhadores bateram o seu próprio recorde do ano passado. E à média de 890 carros novos por dia, caminham para a fasquia das 254 mil unidades produzidas. Um desempenho que coloca a fábrica portuguesa no top cinco da marca: sem contar com a mão cheia de unidades produtivas na China, a Autoeuropa é a quinta maior de entre as 16 fábricas de carros de passageiros da Volkswagen.

Tal desempenho assenta em duas razões: o sucesso comercial do modelo T-Roc, cujo exclusivo mundial (com excepção da China) pertence a Palmela; e o Acordo de Empresa de 2019. Desde o início da produção do T-Roc, em 2017, foram contratados cerca de 2300 novos trabalhadores. A empresa passou de 3300 funcionários no Verão de 2017 para 5800 em cerca de dois anos – um aumento de quase 70% em postos de trabalho. Por outro lado, o clima voltou a ser de paz social, depois das greves e da batalha interna em torno de remunerações e horários.

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Miguel Sanches, director-geral da Autoeuropa Daniel Rocha/Arquivo

“Este é o resultado de tudo o que foi planeado e executado naquele que foi o período mais desafiante da fábrica, depois do seu arranque há 25 anos”, considera o director-geral da fábrica de Palmela, Miguel Sanches. “Este aumento é um motivo de orgulho para todos nós, permitiu a criação de mais de 2000 postos de trabalho e, em simultâneo, melhorámos as condições remuneratórias com os fins-de-semana pagos a 100% ao abrigo do Acordo de Empresa 2019”, salienta por seu turno o coordenador da Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa, Fausto Dionísio. “Há uma expectativa sobre a passagem de mais trabalhadores ao quadro de efectivos, as coisas estão calmas”, contrapõe um dos membros da Comissão Sindical da Autoeuropa do SITE-Sul, afecto à CGTP, Nuno Santos.

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T-Roc já é o modelo de maior sucesso produzido em Palmela REUTERS/Kai Pfaffenbach

Dois terços dos quase 900 carros novos que diariamente saem daquelas linhas de produção são do modelo T-Roc, diz Fausto Dionísio. “Estamos numa situação de pleno emprego, há paz social”, afirma o coordenador da Comissão de Trabalhadores.

Do lado sindical, confirma-se o cumprimento do esforço de investimento que tinha sido prometido pela casa-mãe. “Nos últimos tempos entraram 300 trabalhadores para o quadro e esperamos que outros 300 passem agora à situação de efectivos, à medida que os contratos temporários terminem”, refere o sindicalista Nuno Santos.

“Até agora foram integrados 550 colaboradores e até ao final do ano serão integrados mais 300”, confirma a administração da fábrica portuguesa. “Em 2019 investimos 110 milhões de euros no aumento da capacidade de produção do T-Roc e na expansão da nossa unidade de negócios de cunhos e cortantes”, diz Miguel Sanches, ao PÚBLICO, referindo que o principal desafio para a renegociação do Acordo de Empresa em 2020 é “continuar a tomar decisões que garantam o equilíbrio entre as expectativas dos nossos colaboradores e as da casa-mãe”.

Precisamente a casa-mãe da VW não se cansa de assinalar que a Autoeuropa “é o maior investimento estrangeiro no país” – a empresa “valia" 1,6% do PIB português no fim de 2018. Wolfsburgo prometeu mais 110 milhões de euros de investimento em Palmela, onde já injectaram 1144 milhões na última década, segundo contas da marca. O grosso desse investimento é para responder à procura pelo SUV T-Roc e precaver quebras quando deixar de produzir os monovolumes VW Sharan (provavelmente até 2022) ou Seat Alhambra, que também tem “selo” português.

A força de Palmela faz triplicar a produção portuguesa de automóveis em apenas três anos. E ajuda o país a escapar à crise europeia da produção de carros, patente nas estatísticas divulgadas em Outubro pelo Banco de Portugal.

Em 2016, Portugal montou pouco menos de 100 veículos. No fim de Outubro, a produção nacional total chegou às 290.227 viaturas. Os dados divulgados esta segunda-feira pela Associação Automóvel de Portugal traduzem um aumento de 17,2% face a 2018, com destaque para o segmento dos ligeiros de passageiros, que são 81,5% da produção nacional. Este é o segmento de maior crescimento (+21,5% de Janeiro a Outubro, em termos homólogos). Os comerciais ligeiros representam 16,8% da produção nacional este ano. No total, 97,1% dos veículos feitos em Portugal são para exportação.

A produção nacional triplica em três anos e muda de figurino, devido à alteração de preferências dos consumidores que abandonam o motor diesel e o trocam pelo carro a gasolina. Em 2016, 77% dos carros feitos em Portugal tinham motor diesel, fasquia que caiu para cerca de 36% em 2018. A Europa continua a ser o destino principal (97,5% da exportação), com Alemanha (23,8%), França (15,3%), Itália (13,2%) e Espanha (10,9%) no topo.

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