Documentos do Governo chinês exibem repressão “sem misericórdia” contra os uigures

New York Times teve acesso a relatórios que revelam que Xi Jinping deu ordens para se utilizarem “mecanismos de ditadura” em Xinjiang para travar o terrorismo e o separatismo.

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Protesto de uma cidadã uigur em frente ao consulado chinês em Istambul (Turquia) Reuters / HUSEYIN ALDEMIR
Membros da etnia uigur à porta de uma mesquita em Urumqi (Xinjiang)
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Membros da etnia uigur à porta de uma mesquita em Urumqi (Xinjiang) Reuters / Nir Elias

Uma série de documentos do Governo chinês, obtidos pelo New York Times, revelaram detalhes da repressão contra os uigures e outros muçulmanos, em Xinjiang, na região ocidental do país liderado por Xi Jinping. 

Divulgados “por um membro do establishment político chinês”, os relatórios dão conta de vários discursos internos de Xi, dirigidos a funcionários do Estado, durante e depois de uma visita a Xinjiang, em 2014, na sequência de um ataque de milícias uigures a uma estação de comboios que tirou a vida a 31 pessoas.

O Presidente da República Popular da China pediu uma “luta generalizada contra o terrorismo, a infiltração e o separatismo”, “sem qualquer misericórdia” e utilizando “mecanismos de ditadura”.

Os documentos mostram que os receios da liderança chinesa aumentaram com os ataques terroristas noutros países e com a redução das tropas dos Estados Unidos estacionadas no Afeganistão.

Não é, no entanto, claro, de que forma é que foram reunidas e seleccionadas as 403 páginas que compõem os documentos, informou o diário nova-iorquino.

Especialistas e activistas das Nações Unidas dizem haver pelo menos um milhão de uigures e membros de outros grupos muçulmanos minoritários detidos em campos em Xinjiang. Um tratamento repressivo que mereceu a condenação de vários países.

Mas Pequim nega quaisquer abusos contra os uigures e afirma que está a promover programas de formação profissional e a ensinar-lhes novas competências, para os ajudar a erradicar o extremismo e separatismo islâmicos.

Os documentos também mostram como foram distribuídos pelos funcionários do Estado textos com ideias-chave, para explicarem aos estudantes universitários que regressam a Xinjiang que determinados membros da sua família foram conduzidos para esses programas de educação. E dão conta da resistência de alguns quadros locais aos programas.

Segundo o New York Times, os documentos revelam que os campos de internamento aumentaram rapidamente com a nomeação de Chen Quanguo, em Agosto de 2016, para líder do Partido Comunista na região. Chen ficou conhecido pela linha dura adoptada no último cargo que ocupou, no Tibete, para sufocar as críticas ao partido.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China ainda não respondeu aos pedidos de comentário enviados pela Reuters este domingo.

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