Funcionários públicos que participem nos protestos de Hong Kong vão ser suspensos

Pequim tinha anunciado que ia endurecer a resposta à revolta com medidas administrativas. Secretária da Justiça atacada em Londres - China exige que Reino Unido deixe de “atirar gasolina para a fogueira”.

Hong Kong
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A cidade está parcialmente paralisada ATHIT PERAWONGMETHA/Reuters
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Os funcionários públicos de Hong Kong que participarem nos protestos na cidade chinesa vão ser imediatamente suspensos, anunciou o governo local. Podem ainda ser alvo de processos disciplinares ou de prisão. 

Numa carta aos 180 mil funcionários públicos, enviada esta sexta-feira e divulgada pelo jornal South China Morning Post, o secretário da Administração Pública, Joshua Law Chi-kong, diz que o governo está muito preocupado com a participação dos funcionários em actividades ilegais. “O governo não vai tolerar que os funcionários públicos violem a lei. E seria muito difícil a comunidade aceitar que um funcionário preso continuasse a exercer as suas funções e poderes”, escreveu.

“Por isso, e no interesse do público, vamos suspender o funcionário que for alvo de qualquer inquérito”.

No início de Novembro, e após uma reunião de alto nível em que participou o Presidente Xi Jinping, o Governo de Pequim decidiu endurecer, através de medidas administrativas, a resposta à revolta na região. 

O sistema legal, foi anunciado, vai sofrer alterações destinadas a “garantir a segurança nacional”. E neste pacote para travar os protestos, os líderes do partido decidiram que Hong Kong necessita de mais educação patriótica. “Temos que educar a sociedade de Hong Kong e Macau, sobretudo os funcionários públicos e os jovens... e reforçar a consciência nacional e o patriotismo entre os compatriotas de Hong Kong e Macau através do ensino da História e da cultura chinesas”.

Advertiram ainda que não vai ser tolerada qualquer mudança no sistema de governo de Hong Kong e que o Governo central está comprometido com a defesa do modelo “um país, dois sistemas” que garante o estatuto administrativo especial a Hong Kong, e com a segurança da unidade do território chinês. 

Nos últimos dias, funcionários públicos juntaram-se a uma nova forma de protesto, as concentrações da hora do almoço, quando milhares de pessoas saem dos edifícios onde trabalham e se mantém nas ruas. 

Secretária atacada e um morto

Também esta sexta-feira, o Governo de Pequim acusou o Reino Unido de “atirar gasolina para o fogo” em Hong Kong, depois de a secretária da Justiça do território chinês ter sido cercada em Londres por manifestantes pró-democracia.

“Exigimos que o Reino Unido investigue imediatamente os factos e faça tudo o que for possível para prender e levar à justiça os autores da agressão, e que garanta a segurança e a dignidade de todas as autoridades chinesas”, disse o porta-voz da diplomacia de Pequim, Geng Shuang.

A secretária da Justiça de Hong Kong, Teresa Cheng, caiu na quinta-feira à noite quando foi cercada por dezenas de manifestantes em Londres, onde estava para participar de uma conferência.

Foi o primeiro confronto directo entre manifestantes e um membro do governo da região, desde que os protestos começaram há quase seis meses em Hong Kong.

Vídeos mostram Cheng no chão, mas não é claro se foi empurrada. Logo a seguir, a secretária levanta-se e é escoltada por seguranças.

A chefe do executivo de Hong Kong, Carrie Lam, condenou a “agressão bárbara”, que “violou os princípios de uma sociedade civilizada”, e afirmou que a secretária ficou “gravemente ferida”, apelando à polícia britânica que investigue.

“Há algum tempo que políticos britânicos misturam o verdadeiro e o falso, obscurecendo actos violentos e ilegais em Hong Kong e mantendo contacto directo com manifestantes anti-China”, disse Geng Shuang.

“Se o Reino Unido não mudar de comportamento e continuar a atirar gasolina para o fogo, semeando a discórdia e incitando [a desordem], terá que pagar as consequências”, ameaçou o porta-voz de Pequim.

Teresa Cheng é um dos membros mais impopulares do governo de Hong Kong. É considerada uma das principais arquitectas do projecto-de-lei, entretanto retirado, que visava extraditar suspeitos para julgamento na China continental. Esta lei - que os críticos disseram abrir caminho à perseguição da oposição pró-democracia - foi o rastilho para os protestos, com os manifestantes a acusarem Pequim de interferir cada vez mais na cidade, violando o princípio “um país, dois sistemas”, que ficou estabelecido quando a antiga colónia britânica foi devolvida à China.

Os departamentos que Cheng chefia são responsáveis pelos processos judiciais de milhares de manifestantes que estão presos desde Junho.

A agressão teve lugar num momento em que se agrava a violência em Hong Kong. Nesta sexta-feira, foi anunciado que morreu um homem de 70 anos atingido por um projéctil atirado em confrontos entre os manifestantes e a polícia. Segundo a polícia, o homem, empregado de limpeza, foi atingido por “objectos duros atirados por amotinados mascarados”.

A cidade continua parcialmente paralisada, com barricadas em várias zonas, escolas fechadas, faculdades sem aulas e muitas lojas de portas fechadas e fortemente guardadas por polícia de choque.

O principal festival de música de Hong Kong, marcado para 22-24 deste mês de Novembro, foi cancelado.

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