Câmara da Figueira da Foz abateu freixo centenário após dia de protestos

Leslie afectou severamente árvore de 300 anos. Pareceres académico e do ICNF justificaram derrube.

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LUSA/JOSÉ LUÍS SOUSA

Ao segundo dia, o freixo do Largo da Misericórdia, na Figueira da Foz, foi abaixo. O abate da árvore que tinha sido fortemente afectada pela passagem do furacão Leslie, em 2018, estava marcado para quarta-feira, mas um grupo de pessoas sentou-se nos ramos para impedir a operação. Por isso, os técnicos da autarquia só nesta quinta-feira conseguiram terminar o trabalho de derrube de um freixo que tinha 300 anos e estava classificado como árvore de interesse público pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) desde 2009.<_o3a_p>

O presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, Carlos Monteiro, diz ao PÚBLICO que esta foi uma decisão de último recurso: “Andámos a solicitar estudo após estudo, na perspectiva de encontrar uma solução para estabilizar a árvore sem promover o seu corte”. Foram produzidos documentos pela empresa Árvores e Pessoas, pelos técnicos da autarquia, e, por fim, pelo professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Luís Martins, que tinha feito o estudo para a sustentação do freixo de Freixo de Espada-a-Cinta, descreve o autarca. O relatório do académico apontava o risco de queda, fundamentando-o com “a degradação da raiz, a fragilidade da inserção das pernadas, podridões internas das pernadas e a sua inclinação”. Por isso, recomendava “o abate e substituição” do freixo.<_o3a_p>

A autarquia cita também um parecer do ICNF, com data de 12 de Novembro, que refere que, “embora uma decisão desta natureza não seja fácil, dada a perda de um valor importante na memória colectiva e no património local e nacional, afigura-se não haver alternativa à sua remoção”.<_o3a_p>

“Como tínhamos a informação de que se avizinhavam ventos fortes”, foi anunciado o corte da árvore na última reunião do município, diz Carlos Monteiro. “Não valia a pena protelar porque, se houvesse um acidente, ficávamos com a responsabilidade e com o peso na consciência”, diz.<_o3a_p>

Pedro Carvalho, que mora na vizinhança do Largo da Misericórdia, não se conformou com a explicação da autarquia e foi uma das pessoas que se instalou no freixo para impedir o abate, na quarta-feira. Esteve lá das 8h às 18h, “até que as máquinas se retirassem”. Hoje com 62 anos, conta ao PÚBLICO, em conversa telefónica, que a árvore faz parte da sua vida: “moro nessa zona e frequentei as três escolas que circundam o freixo. As pessoas tinham uma enorme afeição por aquela árvore. Isso [o abate] também nos afecta do ponto de vista emocional. É com enorme pena que vemos o desaparecimento daquela árvore”.<_o3a_p>

Esteve envolvido no processo de classificação da árvore em 2009, mas entende que o município poderia ter feito mais para a proteger desde então. “O freixo sempre foi muito maltratado”, diz.<_o3a_p>

Por sua vez, Carlos Monteiro garante que tudo foi feito para evitar o derrube do freixo e que, em 2016, foi contactada uma empresa para estudar a sustentabilidade da árvore. “De 2016 a 2018, apresentando alguns sinais de envelhecimento, [o freixo] mantinha-se com três pernadas”, descreve. Em Outubro de 2018, os ventos fortes do Leslie provocaram a queda de uma das pernadas, levando à situação de “desequilíbrio” que se verificava até hoje. <_o3a_p>

Quanto ao futuro do espaço deixado livre pelo freixo centenário, o autarca ainda não se compromete com uma solução. “Estamos a tentar clonar a árvore. Sendo possível, vamos fazê-lo”, afirma. Outra opção passa por colocar no local “um novo freixo de algum porte”. <_o3a_p>

O freixo do Largo da Misericórdia, na freguesia de Buarcos, era uma das duas árvores de interesse público do município da Figueira da Foz. Resta o plátano da Quinta da Fôja, de 263 anos, na freguesia de Ferreira-a-Nova.

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