Maus resultados e lista de deputados abrem brecha no CDS-Porto

Dois dirigentes da estrutura distrital do partido demitem-se, deixando avisos à direcção nacional. São precisos novos rostos e novas bandeiras.

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Assunção Cristas assumiu na noite eleitoral a derrota do CDS, demitindo-se da liderança Nelson Garrido / PUBLICO

A distrital do CDS do Porto perdeu dois dirigentes esta semana. Carlos Graça e Alexandra Tete deixaram os cargos de vogal e secretária da comissão política distrital, respectivamente, mantendo-se um na concelhia do Porto e outra no conselho nacional do partido. As demissões estão relacionadas com os resultados das europeias e das legislativas, a falta de renovação no CDS, o processo de selecção dos deputados e a necessidade de encontrar novas bandeiras.

“Tenho vergonha do resultado que o CDS obteve nas eleições legislativas de Outubro. O partido ou faz alguma coisa ou caminha para a irrelevância política”, alerta Carlos Graça, em declarações ao PÚBLICO, explicando que renunciou ao mandato para o qual foi eleito há um ano e meio, na distrital, por entender que “é preciso tirar consequências dos maus resultados que o CDS teve quer nas europeias, quer nas legislativas”.

O dirigente democrata-cristão ponderou demitir-se também da direcção a concelhia por uma questão de coerência, mas acabou por recuar depois de ouvir as intervenções “dos mais jovens” que, na sua opinião, são “a esperança do partido”. “No meio de muita desgraça, houve algumas intervenções [no plenário concelhio desta terça-feira à noite] que me deixaram uma réstia de esperança e, por isso, vou ficar em “reflexão” até porque a concelhia vai ter eleições em Abril de 2020”, explicou.

Militante há 30 anos, Carlos Graça pede mudanças na forma como o CDS faz política, na forma como comunica com as pessoas e também na forma de se organizar, ao mesmo tempo que defende novos rostos para o partido. “Nenhuma das pessoas que se estão a posicionar para suceder a Assunção Cristas na presidência do partido são novas, estão no partido há 20 anos”, aponta, convencido de que, desta forma, “não se vai mudar nada, vai continuar tudo igual”.

Desafiando aqueles que estiveram com a líder do partido a tirarem consequências dos maus resultados nas legislativas e a assumirem as suas responsabilidades como Assunção Cristas fez na noite eleitoral, demitindo-se da liderança do CDS, Carlos Graça diz que está na altura de dar lugar aos mais novos. “O panorama político nacional alterou-se, as novas gerações não entendem a forma de comunicar dos partidos - é preciso mudar de atitude”, proclama, deixando um aviso: “Ou há mudanças ou vamos repetir os maus resultados”.

Direita não se afirma

Considerando que a “direita em Portugal tem hoje um problema por não se conseguir afirmar” e que já “não há papões ao pequeno-almoço que comem criancinhas”, o dirigente demissionário desafia o partido a encontrar um “novo discurso que passe junto dos eleitores e que seja combativo com a mensagem nos novos partidos como o Chega e Iniciativa Liberal. “Estamos numa encruzilhada, temos de actuar rapidamente. O partido precisa de fazer uma mudança radical”, vaticina.

Graça não está sozinho na defesa de um novo rumo para o CDS. Alexandra Tete, conselheira nacional do partido, é dura nas críticas à actual liderança e diz que “falta democracia ao CDS e que o partido está transformado numa espécie de oligarquia”. Desiludida com os 4,2% da votação do partido – “o resultado foi uma desgraça” –, Alexandra Tete também pediu a demissão da distrital do Porto em protesto pela forma como a direcção nacional tratou a lista de deputados à Assembleia da República, “em articulação” com a distrital, mas não só.

“A política é um exercício de responsabilidade. Sinto-me responsável por ter feito parte de um processo eleitoral distrital, acreditando nos pressupostos que suportavam a sua candidatura a presidente da comissão política distrital [CPD], acreditando num programa e, em si, particularmente”, escreveu a conselheira nacional na carta de demissão.

“Esses pressupostos não foram verificados. A CPD que integrei até agora não correspondeu aos desígnios e promessas de maior colegialidade, transparência e responsabilidade perante os militantes que estiveram na base da nossa candidatura. Nomeadamente (…) no processo da escolha de candidatos a deputados para as últimas eleições legislativas, com negociações de bastidores à margem da equipa da comissão política, pondo em causa os compromissos assumidos perante os nossos militantes”, acrescenta a carta.

Reconhecendo que também é “responsável” por esta situação, uma vez que não a conseguiu alterar, Alexandra Tete entende que, por uma questão de “coerência” para com o modo de pensar a política, “não existem condições mínimas para o exercício das funções para a foi eleita”. “Confirmo a minha demissão de secretária da comissão política distrital”.

Embora tente desvalorizar a saída dos dois elementos da comissão política, o presidente da distrital não esconde a preocupação pelo fraco resultado do CDS nas legislativas e também ele diz que o partido tem de ter novas bandeiras. “O CDS tem de se adaptar aos novos tempos e encontrar novas bandeiras. Para além do ambiente, o CDS deve apostar em políticas orientadas para a terceira idade”, defende Fernando Barbosa, em declarações ao PÚBLICO, deixando uma preocupação: “As eleições autárquicas são um combate muito difícil para o CDS”.

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