Crónica de uma morte anunciada

A verdade é que, nestes anos de mandato, Medina não logrou transformar-se numa figura incontornável: sem grande implantação no PS, arrogante e mal educado quando contestado, sua sobrevivência depende do interesse de António Costa e, para António Costa, a perda de Lisboa seria o princípio do fim

Reiteradas vezes tenho afirmado que, se o PSD acordar, Fernando Medina não será candidato à Câmara de Lisboa nas próximas eleições. No meu entender, há vários factores que se conjugam para esta conclusão:

Lisboa sempre foi o termómetro do estado de saúde de um partido e, quase sempre, um desaire na capital, custa a cabeça a um líder partidário, como foi o caso de António Guterres e Passos Coelho...

  1. A queda do PSD disfarçou a descida ainda maior de Medina que, de uma maioria confortável, ficou em minoria e, ainda, é legítimo supor que esta vitória veio por arrasto de António Costa.  
  2. A verdade é que, nestes anos de mandato, Medina não logrou transformar-se numa figura incontornável: sem grande implantação no PS, arrogante e mal educado quando contestado, sua sobrevivência depende do interesse de António Costa e, para António Costa, a perda de Lisboa seria o princípio do fim.
  3. Nesta perspetiva, há muito que o PS prepara um novo cenário  para Lisboa e, para isso, tem três tarefas a cumprir:

 a) Incubar um possível candidato forte e conhecedor de Lisboa, Duarte Cordeiro. Com grande força na FAUL, conhecedor das áreas sociais da Câmara de Lisboa, uma figura simpática e atenta. Seria preciso retirá-lo a tempo do pântano de escândalos que envolvem o urbanismo e, por outro lado, dar-lhe uma dimensão política que o número dois duma Câmara não tem. Passou a ficar sentado à direita de Costa, com grande visibilidade, é um ministro silencioso mas omnipresente: está claramente a aguardar a sua vez.

b) Afastar Manuel Salgado. A sua atuação em várias intervenções geraram grandes polémicas e queixas nas instancias superiores transformando-o na “bête noir” deste executivo. Foi removido com grande contestação para a SRU onde poderá continuar a fazer adjudicações diretas de projetos e empreitadas a amigos e protegidos mexendo os cordelinhos atrás do cenário.

Estes dois itens estão cumpridos. Falta o terceiro.

c) Afastar Fernando Medina. Mas aqui é preciso muita habilidade: retirá-lo, simplesmente, das listas, pareceria um mea culpa altamente penalizadora para o PS. Para isso, há que removê-lo dando  ideia de o promover: apareceu agora nas notícias a possibilidade (apenas desmentida pelo próprio) que será o substituto de Mário Centeno.

Entretanto, o PSD recusa ficar preso nas areias movediças do urbanismo e quer iniciar um ciclo de oposição porque tem uma janela de oportunidade. Medina está aterrado: tudo fará para manter a passividade dos vereadores do PSD. Ainda não percebeu que duma forma ou de outra, acabou a coabitação e que a gosto ou contragosto, o seu destino está traçado e escrito: os dois anos que aí vierem mais não serão que a crónica duma morte anunciada.  

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