Direcção da Cultura aprova construção de hotel nas Galerias Lumière

Proposta permite “requalificar a imagem exterior do prédio e é, por isso, positiva para a relação com o imóvel classificado, que se pretende salvaguardar”, considerou a Direcção Regional de Cultura do Norte. Câmara do Porto terá agora de se pronunciar.

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Galerias Lumière foram construídas nos anos 70 e chegaram a ter duas salas de cinema Nelson Garrido

A proposta entregue na Direcção Regional de Cultura do Norte (DRCN) pretendia a “alteração de utilização de comércio e serviços” das Galerias Lumière “para unidade hoteleira” e já tem luz verde para avançar. A DRCN emitiu um “parecer favorável ao Pedido de Informação Prévia (PIP)” solicitado pela empresa Imocpcis – Empreendimentos Imobiliários, disse ao PÚBLICO o gabinete de comunicação dessa entidade. As históricas galerias vão mesmo ser um hotel

A Direcção Regional de Cultura do Norte considerou que “a intervenção proposta permite requalificar a imagem exterior do prédio e é, por isso, positiva para a relação com o imóvel classificado (Depósito de Materiais da Fábrica das Devesas)​, que se pretende salvaguardar”.

O parecer tinha sido solicitado à DRCN no dia 14 de Outubro, tendo também entrado na Câmara do Porto um “Pedido de Informação Prévia, sobre a viabilidade de realizar obras de alteração com vista à instalação de um empreendimento turístico”, informou, na altura, o gabinete de comunicação do município, dizendo aguardar a pronúncia da DRCN para tomar uma decisão. A Câmara do Porto confirmou ao PÚBLICO que recebeu, esta terça-feira, o parecer, “que irá agora ser analisado”. 

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Espaço tem encerramento previsto para Outubro de 2020 Nelson Garrido

O futuro projecto de transformação do imóvel entre as ruas José Falcão e das Oliveiras, no centro do Porto, “terá de ser objecto de nova apreciação por parte da DRCN”, acrescentou este organismo.

O anúncio do fim das Galerias Lumière, construídas nos anos 70 pelo arquitecto Magalhães Carneiro, precipitou-se nas primeiras semanas de Outubro, com os comerciantes a serem contactados pela Imocpcis, com novo presidente do conselho de administração desde 30 de Abril, para assinar contratos de rescisão. O boato de que o edifício, que não tem qualquer classificação, seria demolido circulou entre os trabalhadores, mas essa teoria não se confirma.

Uma petição online – com quase 1800 assinaturas – considera que o caso das Galerias Lumière é “o mais recente exemplo do atentado à memória, à história, à cultura [e] ao património da cidade”. Com encerramento previsto para Outubro de 2020, as galerias juntam-se a uma “preocupação crescente” entre os portuenses que vêem acabar “os locais mágicos que fazem parte da sua memória colectiva”.

“Lentamente vão desaparecendo os símbolos da genuinidade, pertença, singularidade, identidade, património material e humano, a alma do Porto”, lê-se na petição, que antecipava um fim trágico para o comércio que ali habita – muito dele diferenciador, como a Poetria, primeira livraria portuguesa dedicada à poesia e teatro, a Flores e Artes, antiga florista com “clientes fiéis”, a Wise, tabacaria onde se encontra imprensa internacional, a Cássio e a Out of Lunch. Se as Galerias Lumière encerrarem para dar lugar a um empreendimento turístico - como se anunciou no Pedido de Informação Prévia enviado à Câmara do Porto pela sociedade anónima de investimentos imobiliários Imocpcis -, muitas dos pequenos negócios das Lumière poderão fechar, tendo em conta os “preços dos arrendamentos actualmente praticados” no Porto.

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