Professores: falta formação em desenvolvimento pessoal

É urgente trazer para a área da educação o coaching, o mentoring e outras áreas do desenvolvimento pessoal, para que os professores desenvolvam, sem receios, as suas potencialidades de serem geniais educadores.

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Professores no último dia mundial do Professor que se celebra a 5 de Outubro Nuno Ferreira Santos

Professores em crise de autoridade, crianças mal-educadas e ‘gente que não sabe estar’. Será que sim? Os últimos acontecimentos nas escolas deixam-nos sempre com este sentido de urgência, em resolver uma situação que é mais complexa do que um adolescente desafiador e um adulto que não sabe estar à altura do desafio.

Nos dias de hoje, são muitas as crianças que têm tudo o que necessitam e desejam. Tem nenhuma ou pouca capacidade de resistência à frustração. Estão rodeadas de adultos que lhes dão poucos exemplos de vida. Alguns destes adolescentes até ouvem os adultos, mas não têm à sua volta exemplos vivos dessa teoria que lhes é passada em forma de conselhos. Sabemos bem que primeiro se ensina com o exemplo e depois com as palavras.

A vida é difícil, os pais vão negligenciando o seu papel e deixando para a escola todo o tipo de educação. Os jovens sentem-se, por vezes, mais próximos de alguns professores do que da sua família. Muitos pais, por falta de tempo, egoísmo, paciência ou simplesmente por não quererem ver, não sabem e não querem saber o que vai no pensamento e na alma dos seus filhos! E lá vão os adolescentes vivendo com as suas conquistas e feridas, algumas delas que farão parte da sua constituição enquanto pessoas, para o resto das suas vidas. A escola vai-lhes dando alguma capacidade de pensar e, em simultâneo com a vida e o crescimento, eles adquirem alguma maturidade. As crianças e jovens não estão sós, mas deviam estar mais acompanhadas.

Os professores são uma classe que começa a dar sinais de poder voltar a ter reconhecimento e autoridade natural. Neste momento, a realidade que temos é a de falta de professores em determinadas disciplinas. Há áreas em que os primeiros professores especializados em ‘via ensino’, começaram a sair recentemente. Durante muitos anos, devido às vivências que a escola proporcionava de relação professor/aluno, eram raros os alunos que manifestavam interesse em querer ser professores. Aqueles com natural talento para ajudar a construir conhecimento, eram desafiados a fazer outras coisas, por não quererem ser maltratados por crianças e adolescentes sem as regras básicas de convivência e respeito e porque era uma profissão de enorme desgaste psicológico. Os que não encontravam outra alternativa de emprego, tentavam o concurso nacional de colocação de professores e conseguiam alguns horários. Foi o que aconteceu com a democratização do acesso ao ensino superior, sem planeamento das possíveis saídas profissionais para todos esses licenciados. E aqui começou a desautorização da classe. Qualquer um podia ser professor, de modo que qualquer pai punha em causa o que o professor fazia e ainda lhe dizia como devia fazer.

Hoje, poucos querem ser professores. Os que o são é porque querem e sentem essa vontade como uma vocação, uma missão. E não apenas um emprego. É urgente criar e dar formação especializada nos cursos de educação básica e nos mestrados via ensino, que capacitem os candidatos a professores de competências de desenvolvimento de relação interpessoal e empatia. 

Claro que ainda há aqueles professores que gostam de se ouvir, mas são muitos mais os que estão empenhados em fazer das escolas um lugar de encontro saudável e de aprendizagem gratificante. Estes professores precisam de desenvolver as suas soft skills, de criar um lastro de interesse genuíno pelos seus alunos e pela escola, pelo futuro do país e dos cidadãos em geral, pelo reconhecimento da sua interferência na construção de novos líderes e decisores futuros e de como eles necessitam de formação académica de excelência e de bons exemplos. Não falo apenas de futuros políticos ou CEO de empresas, mas de cidadãos de todas as áreas do saber, que terão impacto nas nossas vidas e que constituirão exemplo para muitos outros jovens.

É urgente trazer para a área da educação o coaching, o mentoring e outras áreas do desenvolvimento pessoal, para que os professores desenvolvam, sem receios, as suas potencialidades de serem geniais educadores, mostrem ao mundo que amam o que fazem e descubram na prática que a educação é a arma poderosa que pode transformar o mundo, e tornar real os objetivos do Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória. Tal como Leymah Gbowee, prémio Nobel da Paz em 2011, dizia aos professores, numa conferência em Nova Iorque aqui há uns anos: “Vocês estão na primeira linha da transformação!”

E já agora, programa de reciclagem nas faculdades para os professores com 15 ou mais anos de serviço? Também já era tempo, em vez de tantos mestrados e pós-graduações nisto e naquilo, à la carte, para quem quer, tem tempo e pode. Fica a deixa!

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