Morreu Teresa Tarouca, uma voz singular no fado

Tinha 77 anos e morreu vítima de pneumonia dupla. Estará em câmara-ardente a partir das 19h na Basílica da Estrela, em Lisboa. O funeral realiza-se na terça-feira, a partir das 10h30, para o Cemitério dos Olivais.

Foto
Teresa Tarouca DR

A fadista Teresa Tarouca morreu na madrugada desta segunda-feira, no Hospital S. Francisco Xavier, em Lisboa, aos 77 anos, vítima de pneumonia dupla, disse à agência Lusa fonte próxima da família. Estava retirada há alguns anos da ribalta artística.

Nascida em Lisboa, no dia 4 de Janeiro de 1942, numa família ligada à música (prima de Frei Hermano da Câmara e prima afastada de Maria Teresa de Noronha), Teresa de Jesus Pinto Coelho Telles da Silva adoptou o nome artístico de Teresa Tarouca, indo buscar um velho apelido de família, já que era bisneta dos Condes de Tarouca.

“Menina-prodígio”, logo aos 11 anos

Começou por cantar muito cedo, aos 11 anos, em espectáculos de beneficência. Vista, na década de 1950, como “menina-prodígio”, estreou-se no fado aos 13 anos, no Salão de Bombeiros de Oeiras. Assinou em 1962 o seu primeiro contrato de gravação com a editora de disco RCA e em 1964 foi distinguida com o Prémio Bordalo, da Casa da Imprensa, recebendo-o no dia 3 de Abril de 1965, numa cerimónia no Pavilhão dos Desportos, em Lisboa, onde também recebeu idêntica distinção Alfredo Marceneiro.

Foto

Teresa Tarouca actuou em vários países (Dinamarca, Bélgica, Espanha, EUA, Brasil) e cantou autores como D. António de Bragança, João de Noronha, Casimiro Ramos, João Ferreira-Rosa, Francisco Viana, Alfredo Marceneiro, D. Nuno de Lorena, Pedro Homem de Mello ou Maria Manuel Cid. Entre os seus fados mais conhecidos contam-se Mouraria, Deixa que te cante um fado, Fado, dor e sofrimento e Passeio à Mouraria. Em Maio de 1994, Teresa Tarouca comemorou os 33 anos de carreira, num grande espectáculo no Teatro Tivoli, e actuou em 1996 no Coliseu dos Recreios em Lisboa.

Com vários singles e EP gravados, o LP Tereza Tarouca Canta Pedro Homem de Mello (Edisom, 1989) é um dos pontos altos na sua produção discográfica. De Teresa Tarouca há, ainda, registadas pelo menos duas colectâneas em CD (Movieplay e Polygram).

Admiração consensual por ela

Sara Pereira, directora do Museu do Fado, recorda assim a fadista, em declarações ao PÚBLICO: “A Teresa Tarouca era conhecida por ter uma voz absolutamente singular e por ter trabalhado com Alfredo Marceneiro, José Pracana, João Ferreira-Rosa. Apesar de ter uma carreira menos mediática do que a de outras fadistas da sua geração, não deixou de se notabilizar junto destas grandes referências do fado, que tinham uma admiração consensual por ela. Já estava retirada da vida artística há alguns anos, mas foi justa e legitimamente premiada e reconhecida, pelo seu talento e a sua arte, com prémios da Casa da Imprensa e uma comenda da Presidência da República.”

Essa distinção foi a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique, que recebeu em 7 de Junho de 2013, juntamente com a também fadista Maria da Fé. E nesse mesmo ano foi distinguida com o Prémio Carreira, na 8.ª edição dos Prémios Amália. Por essa altura, já Teresa Tarouca estava afastada da vida artística, o que não a impediu de participar, em 2008, no musical Fado... Esse Malandro Vadio! de João Núncio, com encenação é de Francisco Horta. Anos antes, em 2003, actuara no Velho Pátio de Santana.

“A pessoa que mais me comoveu a cantar”

Tiago Torres da Silva, escritor e letrista, também trabalhou com Teresa Tarouca e não esconde a grande admiração que tinha e tem pelo seu trabalho e pela sua voz no fado.

“Tirando a Amália, que é um extraterrestre no meio disto tudo, no capítulo dos comuns mortais a Teresa Tarouca era a maior fadista a que tive oportunidade de assistir, com uma entrega, uma sabedoria do que era o fado, como não encontrei noutra pessoa”, diz. “Foi a pessoa que mais me comoveu a cantar. Nós temos um disco gravado, que esperamos que um dia possa sair, que ela gravou, só com letras minhas, nos anos 1990 e inícios de 2000. Tem coisas absolutamente maravilhosas, do ponto de vista do canto dela. Acho que não há nenhuma gravação da voz madura dela tão bonita como a que ali ficou.”

O corpo de Teresa Tarouca estará em câmara ardente a partir das 19h nas Capelas Exequiais da Basílica da Estrela, em Lisboa. O funeral da fadista, cujo corpo será cremado, realizar-se-á na terça-feira de manhã, após missa de corpo presente às 10h30, seguindo depois para o Crematório do Cemitério dos Olivais, Lisboa.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários