Costa quer “aumento geral do conjunto dos salários” para atingir nível anterior à crise

O primeiro-ministro diz que o crescimento económico “tem de ser justamente repartido” e quer que salários subam para que o seu peso no PIB se aproxime do que era antes da crise.

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António Costa LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

António Costa defendeu esta sexta-feira à noite que tem de “haver um equilíbrio na distribuição da riqueza” entre “empresas e trabalhadores” e, por isso, os salários, quer o mínimo quer o médio, têm de aumentar para que, pelo menos, o seu peso no PIB se aproxime “daquele que existia antes da crise”.

Num plenário de militantes do PS em Lisboa, o secretário-geral do PS falou apenas da sua política de rendimentos e das desigualdades salariais nas vésperas de negociações em sede de Concertação Social. E aí deixou vários recados às empresas, nomeadamente que os ganhos com o crescimento económico têm de ser mais bem repartidos ou, nas suas palavras, “justamente repartidos”. 

“É importante que as empresas se possam robustecer, mas é fundamental que as famílias, que quem trabalha sinta que há maior justiça na distribuição de riqueza”, disse aos socialistas. Nas contas de António Costa, é importante que o salário mínimo nacional tenha subido 20% e que “nos últimos anos o conjunto dos salários médios tenha subido 11,3%”. “Foi importante, mas o rendimento médio ainda está abaixo do que era o valor anterior à crise”, disse. 

Mais tarde explicaria que se estava a referir ao peso dos salários no PIB, um indicador que tem vindo a melhorar, mas que ainda está abaixo do que era no pré-troika. Estava na casa dos 64% em 2008; com a crise caiu até aos 59,4%; e tem vindo a recuperar lentamente desde 2015, quando baixou dos 60% (59,4%). Foi de 60,3% em 2018, a Comissão Europeia estima que seja de 60,8% em 2019, ainda longe dos níveis de há 10 anos. “Tem de haver um aumento geral do conjunto do salários, de modo a que o peso dos salários no PIB se aproxime daquele que existia antes da crise”, defendeu. Para isso, tem de se conseguir “um maior equilíbrio” na distribuição da “riqueza produzida” entre aquilo que são “os ganhos das empresas e dos rendimentos do trabalho”.

O outro recado para os patrões foi mais político. No discurso, António Costa lembrou que, para haver diálogo social, não “são só as confederações patronais”, são também “os sindicatos”. “É a todos que devemos ouvir”, referiu. 

Outro dos objectivos é aumentar o salário mínimo para ajudar, disse, na “erradicação da pobreza”. Falar do aumento do salário mínimo neste contexto é também mais uma indicação para os empresários. À saída da reunião de quarta-feira da Concertação Social, António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) defendeu que este poderia subir, mas tendo como base indicadores como a inflação e a produtividade. Costa responde directamente a Saraiva, dizendo que o salário mínimo “não pode subir só em função da produtividade e da inflação, tem uma função social muito importante na redução das desigualdades e erradicação da pobreza”, disse. 

Costa escolheu o acordo para o aumento de rendimentos e crescimento da economia como prioridade para este início de mandato, a começar pelo aumento do salário mínimo nacional. Valor que, disse, terá a “maior valorização que alguma vez o salário mínimo teve”, ao colocar a fasquia nos 750 euros em 2023, o que significa passar de 505 euros para 750, o “maior contributo para nos aproximarmos do salário mínimo ao nível da União Europeia”.

Aqui entraria outra deixa, mais política quer para patrões, quer para os sindicatos (e esquerda). Primeiro aos sindicatos que pedem aumentos de 660 euros e 690: "Não podemos ter aumentos com pés de barro, temos de ter aumentos sustentados no crescimento e que sejam eles próprios motores de mais crescimento". Depois, para os patrões. Disse Costa que “aumentar o salário mínimo é competência do Governo”: “Não precisamos de acordo nenhum”. Mas defendeu: “Devemos promover o diálogo antes de decidir”. Diálogo esse que é com patrões e “sindicatos”, enfatizou.

A terceira prioridade que frisou foi a de assinar “em sede de concertação social a promoção de acordos de contratação colectiva para a valorização do vencimento dos jovens qualificados”. Com Sérgio Aníbal

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