John Bolton admite testemunhar no processo de impugnação contra Trump

Antigo conselheiro de Segurança Nacional aguarda uma decisão final dos tribunais. Dois dos seus antigos subordinados disseram que Bolton se opôs com firmeza à pressão da Casa Branca sobre a Ucrânia.

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Bolton saiu em Setembro em choque com Trump Reuters/LEAH MILLIS

John Bolton, o antigo conselheiro de Segurança Nacional dos EUA que saiu do cargo há dois meses em ruptura com Donald Trump, está disposto a testemunhar no processo de impugnação contra o Presidente norte-americano se os tribunais derem razão ao Congresso na disputa constitucional com a Casa Branca, avança o jornal Washington Post.

Bolton é visto como um elemento muito importante para a estratégia do Partido Democrata de convencer cada vez mais cidadãos norte-americanos a apoiarem a impugnação de Donald Trump.

Dois dos seus antigos subordinados no Conselho de Segurança Nacional foram ouvidos na Câmara dos Representantes em Outubro, sob juramento, e disseram que John Bolton se mostrou indignado com a forma como o advogado pessoal de Trump, Rudolph Giuliani, estava a manobrar as relações com a Ucrânia à margem dos canais oficiais.

Segundo o testemunho de Fiona Hill, uma especialista em assuntos relacionados com a Rússia e a antiga União Soviética, Bolton ordenou-a a transmitir ao advogado principal do Conselho de Segurança Nacional, em Julho, as suas inquietações sobre as iniciativas de Giuliani, do embaixador dos EUA na União Europeia, Gordon Sondland, e do antigo representante especial dos EUA na Ucrânia, Kurt Volker.

Tanto Fiona Hill como Alexander Vindman, um militar de carreira especialista em assuntos relacionados com a Ucrânia, disseram nos seus depoimentos na Câmara dos Representantes que o plano de Giuliani, Sondland e Volker era garantir que o Presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, anunciasse a abertura de investigações criminais contra adversários políticos do Presidente Trump, nomeadamente Joe Biden. Em troca, a Casa Branca abriria as portas a Zelensky para uma reunião na Sala Oval com Trump – um gesto importante para convencer Moscovo de que o Presidente ucraniano tinha o apoio dos EUA –, e desbloquearia um pacote de quase 400 milhões de dólares, já aprovado pelo Congresso e retido em segredo pela Casa Branca, para reforçar os combates contra os separatistas pró-russos no Leste da Ucrânia.

A parte mais visível dessa pressão da Casa Branca aconteceu a 25 de Julho, durante uma conversa telefónica em que o Presidente Trump pediu “um favor” ao Presidente Zelensky, e que acabou por motivar a abertura do processo de impugnação em curso.

Bolton foi nomeado conselheiro de Segurança Nacional em Abril de 2018, e a sua escolha pelo Presidente Trump parecia indicar o início de uma política externa mais militarizada – há décadas que Bolton é conhecido por defender a mudança de governo na Coreia do Norte e no Irão, e sempre criticou a aproximação entre Trump e o líder norte-coreano, Kim Jong-un.

Defensor das velhas alianças dos EUA contra os seus inimigos tradicionais, Bolton é também um forte partidário do apoio norte-americano à Ucrânia, que vê como fundamental para travar o aumento da influência russa na Europa de Leste. E, quando Gordon Sondland e Kurt Volker aproveitaram uma reunião com enviados ucranianos em que Bolton também participou, em Julho, para os pressionar a obter de Volodimir Zelensky a garantia da abertura de investigações contra Joe Biden e o Partido Democrata, o então conselheiro de Segurança Nacional pôs fim ao encontro. Pouco depois, terá dito a Fiona Hill que Giuliani, Sondland e Volker estavam a preparar algo comparável a “um negócio de droga de que ele não queria fazer parte”.

Ao contrário de outras testemunhas, como Fiona Hill e Alexander Vindman, Bolton ainda não foi intimado pela Câmara dos Representantes a depor nas investigações do processo de impugnação contra o Presidente Trump. Na semana passada, os congressistas convidaram-no a comparecer de forma voluntária esta quinta-feira, mas isso não aconteceu.

Em Outubro, a Casa Branca proibiu antigos e actuais funcionários de colaborarem com as investigações da Câmara dos Representantes, o que deu origem a uma disputa constitucional nos EUA. Para os advogados da Casa Branca, o Presidente não é obrigado a cumprir as intimações do Congresso, uma posição que é contestada pelos advogados do Partido Democrata, para quem as intimações são essenciais num sistema de pesos e contrapesos em que o Congresso tem a função de pedir contas ao Presidente.

Mas é possível que os casos se arrastem até 2020 e que os tribunais não decidam a tempo de John Bolton surgir perante as câmaras de televisão a criticar o comportamento do Presidente Trump em relação à Ucrânia. As audições em público começam na próxima semana e a disputa judicial só deverá terminar no Supremo Tribunal.

O caso que está mais perto de uma primeira decisão envolve o antigo advogado principal da Casa Branca, Donald McGhan, que cumpriu uma ordem do Presidente Trump, em Abril, para não testemunhar nas investigações sobre as suspeitas de interferência da Rússia nas eleições de 2016. A decisão sobre quem tem razão neste caso – o Congresso ou a Casa Branca – deverá ser conhecido até ao fim deste mês e poderá influenciar o resultado de futuras intimações, como a de John Bolton.

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