Em 2017, Portugal não reciclou 65,1% das embalagens de plástico

Portugal é dos países europeus com piores índices de reciclagem de embalagens de plástico. Tendência negativa foi comum à maioria dos países avaliados pelo Eurostat, sendo que a média europeia também foi afectada.

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Gonçalo Dias

Portugal está na “liga dos últimos” no que diz respeito às taxas de reciclagem de embalagens de plástico nos países da União Europeia (UE). De acordo com os dados apurados pelo Eurostat e divulgados esta terça-feira, 5 de Novembro, ficaram por reciclar quase dois terços (65,1%%) das embalagens de plástico utilizadas em Portugal durante 2017 — ano a que estes dados estatísticos dizem respeito.

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Taxa de reciclagem de embalagens plásticas na União Europeia EUROSTAT

Em comparação com a estatística relativa a 2016 (quando Portugal reciclou 41,8% das embalagens), a reciclagem deste tipo de objectos caiu 16,3% para os 34,9% — factor que puxa o país para a 22.ª posição deste ranking, numa lista formada por 26 países que possuem dados destes dois anos. Outros — como Itália, Malta, Chipre, Roménia e Noruega — não possuem dados relativos a 2017. O ano de 2015 tinha marcado a taxa de reciclagem mais alta (43%) do país desde 2006, quando estes registos anuais começaram a ser formados.

Em 2017, a média de reciclagem de embalagens de plástico na União Europeia cifra-se nos 41,9%, sendo que a descida registada por Portugal foi comum a outros 14 países da lista. Neste grupo, a Islândia (13%) e a Polónia (12,3%) foram, a par de Portugal, os países que registaram maiores caídas. Por outro lado, a Bulgária chegou aos 64,8% de reciclagem do lixo proveniente de embalagens de plástico, registando uma subida de 12,2% face a 2016.

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Lista de países. Nota: alguns dados utilizados são relativos a 2016 EUROSTAT

A tendência dos países influenciou negativamente a média europeia, que regista uma taxa de 41,9% de reciclagem no que diz respeito a estes resíduos. Valor mais baixo que os 42,4% registados em 2016. 

Tendo em linha de conta todos os dados fornecidos pelo Eurostat podemos ver que se registou um aumento nos resíduos que o país teve de processar. Em 2016, foram utilizadas 378,5 mil toneladas de plástico; em 2017, a utilização deste material ultrapassa ligeiramente as 400 mil toneladas.

No pedido de esclarecimento enviado pelo P3, o Ministério do Ambiente e da Acção Climática (MAAC) relembra que cumpriu sempre as metas comunitárias estabelecidas em 2011 para a reciclagem de resíduos de embalagens de plástico (fixada nos 22,5%). De acordo com o MAAC, a descida de reciclagem foi motivada “por uma diminuição significativa do encaminhamento para reciclagem efectuado pelos sistemas de gestão de resíduos urbanos não alocados às entidades gestoras”. O aumento de oferta, mencionada anteriormente no texto, foi outra das razões apontadas pelo ministério para esta tendência negativa, “uma vez que se reflecte no denominador da mesma, obrigando a um maior esforço de recolha e encaminhamento para reciclagem por parte dos operadores”. No esclarecimento do MAAC é ainda referido o encerramento do mercado de reciclagem da China, mercado que “absorvia grande quantidade dos resíduos de plástico produzidos a nível mundial”.

Apesar dos números, Rui Berkemeier, especialista em resíduos da ZERO, acredita que as estatísticas são menos animadoras do que o relatório mostra. “O Eurostat está a usar os dados do Estado português sem averiguar. Cada país calcula como quer. Essas estatísticas estão claramente erradas. O Eurostat diz que há 400 mil toneladas e a própria Agência Portuguesa do Ambiente diz que os plásticos de embalagem totalizam cerca de 10% do resíduo urbano. Ou seja, algo que rondaria as 500 mil toneladas”. O especialista faz questão de relembrar, ainda, que a Comissão Europeia já questionou o país sobre a fidedignidade dos dados sobre a gestão dos resíduos urbanos.

Em reposta ao P3, a Sociedade Ponto Verde (SPV) considera que estes números “sinalizam que o país terá de continuar a fazer um esforço para melhorar o seu desempenho ambiental”. Esta entidade afirma que os portugueses estão, efectivamente, a separar mais, mas admite que a reciclagem relativa ao fluxo não urbano – que engloba serviços, indústria e comércio – “tenha sofrido constrangimentos”. Tal como o Governo, aponta o crescimento das “quantidades colocadas no mercado”, acreditando ser importante a continuação de uma política de comunicação que incentive a integração da separação de embalagens e posterior reciclagem como uma tarefa do quotidiano dos portugueses. 

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