Educação: e para os próximos quatro anos... sucesso!

Esta sede de sucesso a todo o custo devia levar o Governo a ter a coragem de mexer no ensino secundário e no acesso ao ensino superior e proporcionar outras saídas profissionais qualificadas. Por que será que o secundário é o ciclo onde há mais insucesso?

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Tiago Brandão Rodrigues durante a tomada de posse Rui Gaudencio

O programa do Governo na área da Educação não revela grandes novidades. A insistência na escola pública como solução social de sucesso para todos, independentemente do ponto de partida de cada um, é um objectivo perfeitamente ilusório. Todos sabemos que o ponto de partida faz a diferença. Melhor remuneração e consequentemente mais poder de compra, rendas de casa mais baixas e compatíveis com os salários da maioria da população, acesso à saúde de forma rápida e eficaz, são medidas que, se implementadas, concorrem para maior sucesso dos resultados escolares. E, já agora, facilitar que os pais jovens possam completar a sua formação também contribui para o sucesso escolar dos filhos.

E o que é isto de ter sempre sucesso? A ideia de escola inclusiva e equitativa trouxe-nos uma banda tão larga que as escolas ainda andam às voltas com a avaliação de tudo e mais alguma coisa que os alunos possam fazer, dizer ou querer dizer. E muito antes da avaliação, com a planificação não só das Aprendizagens Essenciais e de Domínios de Autonomia Curricular, mas também de muitas outras partes do currículo que dão sentido ao conhecimento.

E o programa do Governo avança com um plano de não-retenção no ensino básico, o que faz sentido para potenciar o sucesso! E com o reforço do Plano Nacional de Promoção do Sucesso Escolar, especialmente para o secundário, que é o principal foco de insucesso. A ideia não é, apenas, a escola para todos sem deixar ninguém para trás, é muito mais do que isso, é o sucesso para todos.

Todos sabemos que os contextos fazem toda a diferença. Continua a arrepiar-me quando esta ou aquela escola mais pequena e diferenciadora nos seus métodos e população está em risco de fechar. Escolas privadas, pequenas, realmente inclusivas e diferenciadoras no trabalho de qualidade que vão fazendo, porque na realidade dão a cada um o que ele precisa; eficazes quanto ao princípio da equidade, que é o maior sentido de justiça que podemos ter.

O objectivo da inclusão é belo! Em determinadas circunstâncias, tão belo e irreal como não contar com o ponto de partida dos alunos para garantir o sucesso escolar.

É sempre desgastante e causa de sofrimento acompanhar os pais de filhos que fogem à média porque, à medida que os seus filhos crescem, não encontram, porque não as há, escolas que permitem uma real inclusão. Privadas ou públicas, 2.º e 3.º ciclos do ensino básico, até poderem ingressar, quem sabe, no ensino profissional. Estes são os que fogem à média para baixo. E os que estão muito acima da média? Na maioria das vezes, tornam-se desadequados e socialmente frustrados, pois não falam do que os outros falam, nem se interessam pelos mesmos assuntos. A inclusão faz com que, para uma turma, o professor tenha de planificar uma mão cheia de instrumentos de trabalho para as mesmas aprendizagens a conseguir, depois corrigir, aferir e avaliar se foram as melhores e… promover o sucesso! Tudo isto multiplicado por várias turmas.

Em suma, muito sucesso! O ideal é que o ponto de partida de cada um não seja notório, mas que à saída todos consigam ter o seu brilho! Confesso que fico confusa quanto à educação que se proporciona, à promoção da maturidade de cada indivíduo em crescimento através da frustração e do voltar a fazer de novo. Imagino o trabalho heróico dos professores! Esta sede de sucesso a todo o custo deveria levar o Governo a ter a coragem de mexer no ensino secundário e no acesso ao ensino superior e proporcionar outras saídas profissionais qualificadas. Por que será que o secundário é o ciclo onde há mais insucesso? Esta é uma pergunta que não se resolve com o reforço do Plano Nacional de Combate ao Insucesso, mas antes com alterações de políticas e de regras que condicionam a vida e o sucesso dos estudantes.

A promoção da inclusão e do sucesso faz-se com todos, ou seja, também com a oferta do ensino privado. Precisamos todos uns dos outros, e cada aluno estará melhor e terá mais sucesso, onde tiver uma oferta educativa mais orientada para as suas especificidades. O sonho a tornar-se realidade da escola inclusiva de sucesso só acontecerá quando os decisores políticos incluírem todos os equipamentos de ensino. Porque o trabalho em rede, em equipa, colaborativo, com áreas transversais e outras que se autonomizam, deve começar com o exemplo da tutela e fazer da oferta de ensino uma rede só: com público e privado. A mudança de paradigma passa também por aqui.

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